Segundo uivo dos lobos negros

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O som da marcha sincronizada era audível a quase uma milha de distância, os pés batendo em ritmo, o trote dos cavalos trazendo os equipamentos em pesadas carruagens de carga e as vozes de quase dez mil soldados entoando cantos de guerra em uníssono

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O som da marcha sincronizada era audível a quase uma milha de distância, os pés batendo em ritmo, o trote dos cavalos trazendo os equipamentos em pesadas carruagens de carga e as vozes de quase dez mil soldados entoando cantos de guerra em uníssono. Os primeiros flocos de neve da estação caiam e eram pisoteados na estrada sinuosa entre o relevo montanhoso enquanto a tropa parda dividia-se em grupos menores para melhor seguirem o caminho estreito que contornava as montanhas Sobaek. O gelo que endurecia o solo não era bondoso com as carroças que carregavam as imensas catapultas, aríetes e escorpiões marcados a fogo com o furioso lobo negro, o chão gelado e íngreme vez ou outra fazia que um dos cavalos escorregasse e era necessário toda uma secção de homens para segurar o carro e colocá-lo de volta na estrada.

Ironicamente, a neve caia mais intensa conforme seguiam ao sul e cada floco que deslizava pelo céu cinzento gerava mais preocupações na mente do general. Cavalgando solitário depois de toda a tropa, debaixo dos fios negros cobertos pela neve fresca e branca, a mente agitada não silenciava por um minuto se quer. O progresso da tropa parda fora espetacular, marchavam firmemente por todo o caminho, rápidos e focados, já haviam percorrido quase um quarto do caminho até Busan e, naquele ritmo, estariam na base da cordilheira ao pôr do sol, podendo assim terem um bom acampamento em meio a mata mais densa. Embora fosse ótimo que os pardos fossem tão eficientes ao seguir os comandos de um general que não pertencia a eles, isso preocupava ainda mais o Min, "Por gerações eles foram inimigos, por que me seguem tão descomedidamente?". Não houve objeção nem quando o chefe das tropas anunciou que apenas os pardos lutariam e isso não fazia o menor sentido.

Os flocos brancos que pousavam delicadamente pelo solo prometia complicar ainda mais os planos do mal elaborado cerco, poderia ser catastrófico ficar para fora das grandiosas muralhas no frio enquanto os cinzentos provavelmente tinham comida para meses, não confiava que a duvidosa lealdade dos pardos durasse muito enquanto congelavam bem longe dos objetivos. Em algum nível, bem no fundo da mente do general, estava a imagem de Hoseok enquanto o observava deixar o reino, aquele olhar duro e frio de quem não se preocupava com a vida de Yoongi, mas com a fidelidade e, por mais idiota que aquilo soasse, nada tirava aquela impressão da mente dele, mas só se permitiu pensar naquilo quando deitou-se para dormir.

A marcha do exército surpreendia o general a cada milha percorrida. Admirava tanto a velocidade incansável com que a tropa devorava o caminho restante até a cidade costeira que quase se esquecia de que não comandava o contingente militar negro. Toda a eficiência dos guerreiros agradava Yoongi, porém fazia aquela voz no fundo de sua mente sussurrar que havia algo errado. Só havia comandado os soldados pardos em uma situação de vingança contra o clã vermelho e, se tinha alguma rivalidade maior que negros e pardos, essa era entre pardos e vermelhos. Nada colocava na cabeça do chefe de guerra que aquela rixa seria desfeita com um reles casamento, não que duvidasse da princesa, até gostava dessa, mas ele mesmo não seguiria um rei pardo nem que ele fosse o messias na terra, não sem uma segunda intenção. Claro que o príncipe não via isso, estava tão sedento por, finalmente, inverter a maldita hierarquia que era incapaz de perceber que lealdade não era presente matrimonial.

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