Quarto erro do general

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Aquela noite parecia não acabar nunca para o Park, seus olhos haviam cansado de tanto derramar lágrimas que de nada adiantariam. Estava perturbado, conturbado com tantas cenas horríveis que presenciava. Em todas, ele estava lá. Nem ao menos conseguia dormir sem ser atingido pelos pesadelos protagonizados unicamente pela figura forte do general, era seu destino afinal de contas? Seria isso que os planos dos deuses lhe propunham? Viver um inferno até que chegasse o fim definitivo? As perguntas rondavam sua mente enquanto mais daquela água salgada escorria em seu rosto.

Era madrugada, o inverno não era nada sutil com os albinos do litoral, a neve caia em torrentes e deixava, a antes areia dourada, em um mar de flocos dispersos. As correntes continuavam a lhe apertar o pescoço, contudo, não possuía mais a visão dos rochedos que o cercava no calabouço, o quarto forrado de madeira nobre, entretanto, tornara-se o seu novo cárcere. Era lá que, aprisionado a uma das pilastras de mármore, o nobre cinzento mantinha-se sentado, calado, vivendo como uma mera planta, sem ao menos ter forças para puxar grandes lufadas de oxigênio. O general fazia questão de tripudiar sobre qualquer coisa possível com o mais novo e não poupava esforços de mantê-lo o suficientemente próximo para sempre expor ao povo de Busan todo o seu poder.

Seus dias passavam assim, as manhãs clareavam e ele era obrigado a ver cada dia um ômega diferente deixar as cobertas macias da cama dos seus pais, assistia as noites de pura luxúria de seu então entoado "dono". Min Yoongi conseguia ser extremamente severo quando queria e desse veneno o Park experimentava o tempo todo, cada palavra, cada gesto, cada tentativa falha de fazer com que o mais novo sucumbisse aos seus desejos e seus planos horripilantes. E naquela manhã não seria diferente, as paredes no dossel da cama possuíam marcas de unhas e um pouco de sangue e daquilo o albino não conseguia se esgueirar, daquelas lembranças malditas ele não conseguia fugir.

Jimin jamais pensara que um dia poderia estar sujeito a tanta crueldade e a tanto sadismo, era isso, o general não passava de um cão sedento por sangue e sexo. A postura majestosa e que transmitia um temor a todos que o olhassem também assustava ao albino, ele não era o tipo de alfa que um dia o nobre pensara comandar um exército, mas as aparências enganavam muito. O corpo magro e esguio, de músculos não muito saltados escondiam muito da personalidade forte e extremamente estrategista do Min, ele era como um livro de mistérios, com uma capa não muito atrativa, mas de imenso conteúdo. Claro que o Park não conseguia enxergar nada de bom no mais velho, todavia, não poderia negar que suas atitudes foram tão bem planejadas que nem mesmo as forças militares dos cinzentos puderam fazer algo para evitar o ataque.

A noite havia caído e com ela rajadas de vento entravam pelo quarto fazendo o corpo magro do nobre tremer ao chão. As grandes portas que davam acesso as sacadas estavam abertas e de lá podia-se ver as ondas quebrando no porto, o som da maré alta e impiedosa, assim como o som dos passos duros da marcha do exército negro. Eles estavam em todos os lugares, com apenas um mês do ataque eles já haviam dominado todos os pontos da região, chegando ainda mais tropas que se fixariam permanentemente no local. Jimin só conseguia ver o fim da corte dos cinzentos naquele condado, haviam sido completamente abandonados pela capital, deixados à própria sorte e, mesmo que uma parte de si soubesse que seria daquele jeito, ele não esperava que os lobos albinos abandonassem tão facilmente o clã que lhe era leal há gerações.

A notícia do ataque já corria por todos os cantos das províncias e dos reinos de acordo com o que ouvira entre cochichos de dois guardas do general. Aliás, ele mesmo não sabia aonde aquele descendente dos negros estava, ele havia desaparecido fazia mais de dois dias e o deixado acorrentado ao chão daquele cômodo, sem que nenhum suprimento fosse oferecido a si. Era o fim, em que momento um nobre passaria por aquilo? Jimin estava sendo forte, ou apenas acreditava que estava, não queria mais parecer um mero serviçal ao negro, não queria perder o poder do sangue que corria em suas veias, pelo menos eram esses pensamentos que o faziam não perder a cabeça e se enforcar nos arcos de pedra da abóboda do quarto real.

Moonlight eyesWhere stories live. Discover now