❤ Capítulo 3

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Coço os olhos, buscando concentrar nos papéis do caso de amanhã, mas se antes não estava conseguindo, devido às lembranças amargas da morte de Carla, agora, pior ainda

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Coço os olhos, buscando concentrar nos papéis do caso de amanhã, mas se antes não estava conseguindo, devido às lembranças amargas da morte de Carla, agora, pior ainda. Já faz quatro horas que estou aqui sentado, fingindo que trabalho, sem sucesso.

Ela não sai da minha cabeça.

Por que você não me deixa em paz, Joana? Por quê?

Desde criança eu achei que a pior sensação do mundo seria a de ver uma pessoa querida morrer. Parecia-me sufocante essa passagem para um lugar desconhecido, longe de mim. Sem chance de senti-la nunca mais. A palavra nunca é muito dolorida.

Mas eu estava enganado, muito enganado.

A pior sensação do mundo, com certeza, é você não saber o paradeiro de uma pessoa que ama. Se Joana estivesse morta, uma parte de mim, com certeza, também teria morrido. Contudo, acredito que a essa altura já estaria, pelo menos, conformado. Eu saberia o que aconteceu, poderia lidar melhor com minha frustração.

Eu saberia que onde quer que ela estivesse, estaria bem, porque Joana sempre foi uma pessoa boa, a melhor. Eu teria certeza de que não estaria com problemas, doente, machucada. Meu coração estaria libertado dessa mão que parece esmagá-lo, toda vez que eu imagino o motivo de ela ter ido embora.

Será que ela deixou de me amar?

Levanto da cadeira, abruptamente, pegando uma garrafinha de água do frigobar que fica no canto do escritório.

Será que descobriu que era muito para mim?

Será que conheceu outra pessoa?

Abro o recipiente e tomo de uma vez, deixando o líquido gelado arranhar minha garganta. Essa é uma opção que não consigo aceitar. Não naquela época, em que éramos tão perfeitos juntos.

Será que foi sequestrada?

Será que está morta?

Começo a andar de um lado para o outro atrás da mesa, tentando frear meus pensamentos.

Será que ela simplesmente quis ir mesmo?

São muitos "será"...

"Desculpa, eu não consigo mais. Adeus, Pedro".

1 frase, 7 palavras, 37 caracteres capazes de destruir meu mundo.

Foi isso a última coisa que Joana me deixou: um bilhete.

Apesar de eu ter certeza de que é sua letra, há dias que me agarro no fio de esperança de não ter sido ela. De ter sido forçada a escrever, de ser um engano.

Mas, em outros, eu acredito fielmente que quis ir. O fardo era demais, não tenho como culpá-la.

A dúvida é pior que a certeza do nunca mais. É, com toda convicção, pior. Ela nos mata aos poucos.

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