❤ Capítulo 8

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Com muito custo, consigo dar mais uma colherada de comida para Lúcia

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Com muito custo, consigo dar mais uma colherada de comida para Lúcia. Ela se contorce no cadeirão, fazendo careta para o alimento. Cheiro o prato e realmente não parece bom não. O que será que dona Margarida inventou dessa vez?

Ela sempre pesquisa receitas diferentes para cozinhar para a filha, misturas estranhas com abacate, inhame, beterraba... Não tem dado muito certo. O bebê mais cospe e joga no chão do que come.

— Só um pouquinho, Lulu. Tem que jantar pra ficar fortinha e crescer. — Faço aviãozinho, tentando chamar sua atenção.

!

— Abra a garagem para a tia Jo! — Aproximo a colher da sua boca, que continua fechada.

!

— Você não está gostando do papa da mamãe, Lúcia? — Levo um susto com uma voz atrás de mim.

— Meu Deus, dona Margarida! — Viro-me em sua direção. — A senhora me mata do coração desse jeito.

— Desculpe, Joana. — Ela sorri com minha palidez. — Não peguei trânsito hoje na volta e consegui chegar mais cedo.

—Que bom! — Levanto da cadeira e deixo o prato na pia. —Ela não quer mais, comeu apenas cinco colheradas.

— Lúcia anda muito sem apetite, não acha? Vou levá-la ao médico.

— Creio que é normal, dona Margarida. Está na fase da descoberta dos sabores. Tenta novas opções, até ver qual ela gosta mais.

— Nossa, fico me sentindo uma péssima mãe — desabafa, passando as mãos pelos cabelos negros. — Mesmo cansada, faço questão de preparar as comidinhas dela, passo um tempão fazendo tudo, e o chão que experimenta.

— A senhora é uma ótima mãe! — Aproximo-me da mulher cabisbaixa, fazendo um carinho em seu ombro.

— Me sinto muito culpada por precisar trabalhar e deixar a Lulu com você.

— Dona Margarida, hoje em dia, muitas mães trabalham. Tanto para ajudar na renda da casa como para também se sentirem felizes, realizadas. Isso, de nenhuma forma, diminui o amor. A senhora sempre fica com ela, aproveita com qualidade os momentos juntas. Não se sinta assim.

— É, ? — Ela me olha, esperançosa, com os olhos marejados.

— É sim! Acredite, eu sei identificar uma mãe ausente. A senhora está longe disso — digo, sincera, oferecendo um sorriso.

Quando era menor, não tinha essa noção, mas avaliando friamente agora, crescida, percebi que minhas boas memórias de infância sempre são com meu pai. A mulher que me gerou estava, na maioria das vezes, ausente, com algo melhor para fazer do que ficar comigo.

Minha mãe nunca teve vocação para essa função, diferente dessa aqui que, apesar da correria, encontra espaço para a Lúcia.

— Muito obrigada, querida. — Dona Margarida me puxa para um abraço, chamando atenção do bebê, que reclama.

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