Pego um par de roupas limpas no armário e sigo para o banheiro, no automático. Ligo o chuveiro no frio, escoro as mãos na parede e deixo a água gelada cair na minha cabeça.
Inspiro, expiro. Está difícil controlar a respiração.
Faz sete dias que não consigo dormir praticamente nada. No máximo, uma hora, quando tenho sorte. Não acho uma linha lógica para tudo que o detetive disse, e isso está me corroendo por dentro.
O que diabos Joana estava fazendo na Argentina? Já me fiz essa pergunta milhares de vezes e não encontro uma resposta plausível.
Adriano foi em Santa Fé, onde ela foi presa, no entanto, não conseguiu descobrir nenhuma pista relevante. Apenas que foi solta, em seguida, porque a queixa foi retirada.
O detetive comentou que achou estranho a reação dos policiais, não querendo prestar mais esclarecimentos sobre o caso. O trataram, inclusive, com hostilidade.
Como advogado, eu sei que é difícil obter informações de outros países. Nem sempre cooperam. Ainda mais, não sendo oficial. Mas eu precisava tentar. Eu precisava. Era Joana na foto. O rosto que eu quero tanto rever.
Se não bastasse minha angústia de permanecer na estaca zero, tive pesadelos esta semana toda. Sempre terminando na morte dela. Acordei atordoado, suando frio, com o coração quase saindo do peito.
As minhas reações físicas são sempre muito intensas quando se tratam daquela garota de voz rouca. Parece uma sereia, me seduzindo com seu canto mágico.
Ensaboo o corpo, com força, tentando extravasar, de alguma forma, esse amontoado que se juntou na minha garganta e me sufoca um pouco mais a cada minuto.
Começo a achar que, assim como as pistas, estou voltando para o início de tudo. Onde a dor era tão forte ao ponto de me cegar. Não posso fazer isso. Não posso permitir viver no passado.
Porra! Isso nunca vai acabar? Nunca terei paz?
— Amor, cheguei! — Ouço Priscila falar do quarto e suspiro, cansado.
Ela deve achar que sou bipolar. Uma semana estou bem, brincalhão, na outra, me fecho de novo no casulo e não consigo ficar perto dela.
Pri não merece uma pessoa pela metade, contudo, se não a tiver por perto acho que volto ao fundo do poço. E, desta vez, sem salvação. Léo agora é grande o suficiente para se virar sozinho.
— Já tô saindo! — aviso, passando shampoo no cabelo.
Rapidamente me lavo e saio do chuveiro. Não quero correr o risco de ela aparecer nua aqui. Isso é uma merda. Eu não deveria agir assim com uma mulher, ainda mais, minha noiva.
A verdade é que não estou com cabeça para sexo. Não funciona como escape.
— Desculpa o atraso, eu tive insônia e só consegui pregar os olhos agora de manhã — explico, aparecendo na porta do banheiro.
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RomanceSérie Sentidos - Livro 1 Histórias independentes O que você faria se a pessoa mais importante da sua vida sumisse de repente, sem deixar vestígios? Pedro está há 14 anos tentando entender como Joana, sua amiga de infância e grande amor, desapareceu...