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Era 5:30 Pm quando o despertador apita com um barulho insuportável, e a minha mãe me chamando.
— Anne querida, acorde, você vai se atrasar para faculdade. Você pode pegar uma carona com o seu pai, se preferir.
Eu odiava ir de carona com o meu pai para a faculdade por que ele me enchia de conselhos e discursos sobre sexo e vida de casado.
— Mãe, a senhora viu que horas são?
— Anne você acorda todos os dias esse horário, não venha com desculpas.

Eu não estava me sentindo bem naquela manhã, mas mesmo assim, me reconstrui mais uma vez e fui me arrumar. Assim que terminei o papai estava na sala me esperando.
— Pronta meu bem?
— Não pai, não precisa, vou de ônibus hoje.
— Tudo bem então. Não se esqueça da nossa conversa.
E mais uma vez ele começava com o discurso amoroso, mas hoje eu não estava bem para ouvir tudo.
— Eu sei pai, obrigada, preciso ir agora.
— Tudo bem querida. Boa aula!
— Obrigada pai!

Eu fui direto para o ponto de ônibus, e quando entrei no coletivo a dor aumentou.
Quando cheguei na sala o professor já estava aplicando as atividades.
— Bom dia.
— Bom dia Anne, aposto que estudou para o teste hoje.
— Aposto que não.
— Você está sentindo alguma coisa?
— Não, estou bem, obrigada.
— Ok então, sente-se.
Sentei na primeira fileira, como sempre. Do meu lado, Nelson Jnhon, o nerd da sala. Todos tiravam sarro da cara dele. Consequentemente ele era o mais inteligente da turma, ou da escola — o orgulho dos professores. Atrás de mim, Ketellyn Alves a "gostosona" da escola. Quase todos os dias ela estava nos corredores da escola, se pegando com algum menino. Todos os garotos davam atenção pra ela, às vezes até os professores queriam pegar ela. Enfim, esses eram os únicos que me tratavam bem na escola.
Quando eu estava respondendo as últimas questões da atividade, comecei a sentir uma forte tontura e apaguei por completo.
No dia seguinte, quando acordei, a Dra Claudia estava na minha frente. Era ela quem cuidava dos meus procedimentos e de todos os estágios da minha doença, era uma pessoa com quem eu tinha um determinado carinho.
— Anne? Tudo bem?
— O que houve?
— Está tudo bem, você teve um desmaio na sala. A turma toda ficou em pânico, mas agora já está tudo bem.
De repente, os meu pais entraram na sala.
— Anne? Você está bem querida?
— Sim mãe, estou bem.
— Ficamos aqui enquanto você dormia.
— Vocês estão aqui desde ontem?
— Sim, mas não se preocupe, estamos bem.
— Mãe, vocês precisam descansar.
— Pode ficar tranquila meu bem. Eu e seu pai estamos bem. Acho que você também precisa descansar pelo que a Dra Claudia disse.
Aquilo acabava comigo. A minha mãe não tinha tempo nem pra ela mesma, e o meu pai já estava se desfazendo do trabalho para poder me acompanhar nas sessões de quimioterapia. Eu era a responsável pelo cansaço físico e emocional dos meus pais, eu podia sentir isso.

Como se fosse ontem Onde histórias criam vida. Descubra agora