Como se fosse ontem

7

Novamente o relógio desperta as 5:30, mas dessa vez, eu até que estava com uma certa disposição para ir. Me arrumei e fui direto para o ponto de ônibus que ficava a oito metros da minha casa.
As 6:15 cheguei na faculdade, e quando entrei na sala, recebi a notícia de que o Élton estava doente, e fui perguntar para o Nelson o que tinha acontecido.
— O que houve com o Élton?
— Ah, ele teve uma parada porque tomou um remédio pra se animar.
— Como assim?
— Remédio de ereção.
— Ah sim. E será que ele vai ficar bem?
— Não sei. Mas se não for, morreu feliz.
O Élton tinha um jeito meio escroto, ele ficava flertando com as funcionárias da escola, mas era um bom professor, eu não queria que ele morresse. A substituta do Élton foi a professora Cátia. A turma toda odiava ela, inclusive eu.

Durante o intervalo fiquei conversando com o Nelson, o que nunca tinha acontecido, apesar de ele e a Ketellyn me tratarem bem.
— Fiquei sabendo que você gosta do Wilson Gley.
— Sim,Gosto da história dele. Você também?
— Não. Mas a minha mãe é louca por ele. Você ficou sabendo da campanha dele?
— Não!? Que campanha?
— Nossa, que fã. Ele disponibilizou uma campanha de visita para alunos das universidades.
— Nelson você é brilhante! Preciso ir.
— Para onde você vai?
— Preciso falar com os meus pais sobre isso.

Rapidamente liguei para mamãe.
— Campanha?
— Sim, ele está dando oportunidade de visitas para todos os alunos. Mãe, por favor, essa é a minha chance!
— Anne, você sabe que não depende só de mim. Por que você não espera o seu pai chegar? Podemos conversar sobre isso com ele presente.
— Tudo bem. As 15:00 eu chego.

Quando cheguei em casa, o papai estava sentado me esperando. Pelo semblante dele, eu percebi que a resposta poderia ser negativa.
— Pai, por favor.
— Anne, você sabe muito bem sobre a sua condição. Além disso, mesmo que eu quisesse, você sabe que não podemos mandar você para qualquer lugar sem antes consultar a Dra Claudia. E não sei se teremos condições para as passagens.

Eu sabia que não poderia ficar muito tempo na Califórnia, e os meus pais não teriam dinheiro suficiente pra isso. Mas eu queria tentar,eu precisava aproveitar a oportunidade, então resolvi ligar para a Dra Claudia.
— Anne, eu não sei se poderá ser uma boa ideia, mas vou tentar fazer de tudo para que os outros médicos também aceitem. Por que você não espera por mais algumas semanas? daí quando fizermos um novo exame veremos se você pode ir.

Eu não podia desistir disso, não podia deixar de perguntar para o senhor Wilson o que exatamente aconteceu com a família dele, como ele conseguiu viver em paz todos esses anos, e por que ele nunca publicou o livro que ele escreveu.
Eu precisava desses respostas, e não iria desistir facilmente para consegui-las.