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          Ainda no avião, eu e o Ramon continuamos a conversa até termos certeza de que o medo do Ramon havia passado. Enquanto o voo acontece, nós nos deparamos com uma cena totalmente vergonhosa. (Pelo menos pra mim). Um casal se pegando, quase tirando as roupas bem ao lado da poltrona em que estávamos. O Ramon, como de se esperar, achou tudo muito engraçado.
   — Í, olha lá!
   — Que horrível.
   — Ah, para. Eles estão se divertindo.
   — Isso é diversão?
   — Você quer diversão melhor que essa?
   — Mas precisa ser dentro de um avião em pleno voo? Tem crianças aqui sabia?
   — Vai dizer que as crianças não sabem o que é isso? Eu com dez anos já sabia o que era quando dava meia noite e a cama balançava.
   — Ramon!
   — Tá, Parei.

              Horas depois, já estava quase escurecendo e todos já haviam pegado no sono. Por algum motivo que eu não sei, eu não conseguia dormi.Percebi que o Ramon já estava dormindo e não quis acordar ele, então o deixei dormir.
                Exatamente 20 minutos depois, quando eu já estava quase dormindo, percebi uma movimentação estranha na poltrona do Ramon. Quando me virei, eu vi ele se debatendo  e suando bastante. Fiquei totalmente em pânico, olhei pra ver se a comissária estava presente mas já estava de noite e todos já haviam dormido.
   — Ramon? Aí meu Deus Ramon, o que houve com você dessa vez?
   — Pega a bolsa em baixo da cadeira.
        A voz dele estava tão baixa que quase não dava pra ouvi-lo.
   — Tá. Essa com um lado térmico?
   — Isso.
   — Pronto.
   — Abre, e pega uma caixa pequena preta com um símbolo vermelho.
   — Essa aqui?
   — É.
        Quando abri a caixinha, haviam quatro pedras de crack e algumas pílulas.
   — Esse é o seu remédio?
   — Me desculpe, mas é.
            Aquilo abalava as minhas estruturas emocionais. Eu sabia que tinha que ajudar ele, mas também não queria prejudicá-lo mais ainda. Então, resolvi fazer como ele me pediu.
   — Abra a boca.
            Coloquei na boca dele uma pílula a base de crack, já que ele não poderia fumar dentro do avião. Eu sabia que a dependência do Ramon era grave, mas não imaginaria que chegaria a esse ponto. Depois de dar pra ele a pílula ele apagou, achei que tinha desmaiado mas chequei os sinais e vi que ele simplesmente tinha dormido. Se eu já não conseguia dormir, depois disso tudo quase não pisquei os olhos.

              Naquele momento, enquanto eu olhava o Ramon, eu me rendi a todos os meu sentimentos. Admiti pro meu coração que ele era a pessoa a quem eu escolhi amar, e eu tinha absoluta certeza de que ele sentia o mesmo por mim. Eu não me imaginava sem ele. Queria ele pra sempre na minha vida, pra sempre perto de mim.

Como se fosse ontem Onde histórias criam vida. Descubra agora