CAPÍTULO NOVE: "NÃO É SÉRIO"

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Coautora: AngiieCS

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HADDAD'S POV

Ao acordar, vi Ciro em meu lado, parecendo um anjo e ainda dormindo com um de seus braços sobre mim. Estamos nus ainda, embora cobertos por um lençol; talvez isso não seja mais tão vulgar como antes... Ou talvez seja? Apesar de termos transado ontem, não asseguro que eu tenha largado todo esse meu jeito de ser. Talvez isso seja coisa de família mesmo.

Me movi lentamente, tentando me distanciar um pouco de Ciro para que eu veja o horário em seu relógio de mesa, que estava em cima de seu gaveteiro, do lado esquerdo da cama que estamos. Marca exatas 8 horas. Sou pontual na hora de me acordar, como sempre.

Começo a observar Ciro que ainda estava em um sono pesado. Não o julgo, pois ele apenas está descansando e aproveitando este final de semana, já que tenta dar seu melhor na faculdade.

Decido sair da cama, pois estava totalmente descansado e pronto para mais um dia. Me movo, e logo Ciro me puxa, envolvendo seus braços em mim, impedindo que eu me levante.

— Nando, não me deixe... — disse ele todo manhoso e carente. Eu amo isso.

— Eu não vou embora... — sorri minimamente com sua frase, voltando a me deitar mais perto de seu corpo.

Ele me aperta com os braços em torno de minha cintura, deitando a cabeça em minhas costas, suspirando pesado.

— Vida melhor que essa não existe. — ele ronrona, pousando um beijo em meu ombro esquerdo. — Você vai ficar pelo fim de semana, não vai?

Por seu tom de voz, sua pergunta soava mais como uma intimação. Ri baixinho por um instante e me virei para encará-lo.

— Se quiser que eu fique... — dei com os ombros, passando uma mão por seus cabelos finos.

— Claro que quero! — ele ergueu uma sobrancelha, se inclinando para pousar beijos em meu rosto, contornando meu queixo. — Quero meu namorado bem pertinho de mim...

Abro os olhos completamente surpreso com o título. Me mantenho imóvel por um momento para absorver o peso da palavra.

— Você está falando sério?

— Por que não estaria? — ele sorri simplesmente, beijando meus lábios rapidamente.

Suspiro fundo e tento não parecer abalado. Era típico de Ciro agir assim sobre tudo, tomando para si o que desejava, sem se preocupar. O pior é que mal consigo reclamar daquilo, pelo contrário. Me sinto tonto de alegria, inebriado.

— Bom, acho melhor levantarmos. Já perdi o sono e provavelmemte você também. — disse ele pousando um último beijo em meu rosto.

Enquanto Ciro se espreguiça para sair da cama, me levanto cobrindo minha parte íntima com um pouco do lençol.

— Fernando, por que faz questão de esconder o que já vi e experimentei? — indignou-se levantando uma sobrancelha.

— Ah... E-Eu-

— Calma, amor. Estou brincando contigo. Tudo bem se não se sente bem assim. — ele me corta, abraçando-me apaixonadamente por trás. — Tu pode confiar em mim, meu jovem.

— Obrigado mesmo, Ciro. — sorri e acaricio suas mãos que estão em volta de mim.

Logo nós nos vestimos e ele sai do quarto para usar o banheiro. Eu continuo nele, feliz e com meu bom humor. Não acredito que estou aqui... É simplesmente um sonho realizado.

Terminando de abotoar minha blusa, ando pelo quarto um pouco ansioso e, de repente, me deparo com uma pequena montanha de folhas sobre uma mesa. Não queria pagar de intrometido, mas curiosamente me ousei a ver o que tinha nos papéis.

Me sento sobre a quina da mesa e pego uma das folhas na mão. Leio e releio as linhas para garantir que não estou enganado.

UNE. Movimento estudantil, alinhamentos de esquerda.

Engulo seco e sinto extrema angustia subir ao meu peito. Sei muito bem o que aquilo tudo significa e o quão perigoso é se envolver com esses grupos.

Sempre ouvíamos boatos sobre soldados infiltrados por entre os alunos. Estudantes sumindo depois de serem levados por viaturas totalmente pretas.

Sinto um arrepio subir minha espinha. Imediatamente, me sinto completamente preocupado com Ciro.

Decido me afastar desses documentos e sair do quarto, antes que Ciro me veja. Quero evitar discussões desnecessárias em plena manhã, apesar de saber que eu e Ciro não somos disso.

Vou em direção a cozinha tentando esconder meu nervosismo e preocupação com Ciro, até que o vejo. Está preparando o café com um sorriso valioso no rosto.

— Fernando, senta que eu já vou te servir. — diz ele apontando para a mesa.

— Você não precisa de ajuda?

— Mas é claro que não, homem! Hoje tu que é meu convidado.

Pensei em não insistir, além do mais, sei que Ciro faz isso porque quer me ver feliz. Sorte a minha de ter um garoto desses.

Com isso, sentei-me na cadeira, apoiando meus cotovelos na mesa, juntando minhas mãos, enquanto penso nesse envolvimento de Ciro com a UNE.

Após um minutos, ele chega e começa a montar a mesa, colocando além do café, bolo, pães...

— Bom apetite. — ele fala, passando a mão em meus cabelos e deixando um beijo neles.

Eu simplesmente acenei com a cabeça com um simples sorriso.

Ele se senta e se serve também, e depois de alguns minutos, percebe que não estou muito bem. Maldito seja eu que não consigo esconder isso.

— Homem, você parece meio caído. O que aconteceu? — perguntou Ciro, estranhando-me.

— Nada não... — tentei desconversar, apoiando o rosto numa mão.

— Cabra, não adianta mentir pra mim não. Tô vendo que tu tá de ovo virado. — Ciro suspirou fundo, claramente incomodado com minha postura.

Suspiro pesado e decido falar. Ciro obviamente conseguia ver através de mim.

— Eu vi os papeis da UNE no quarto. Juro que não queria me intrometer na suas coisas. — começo a me defender, erguendo uma mão no ar. — Ciro... Você não acha perigoso se envolver nisso tudo? Podem achar que você é um terrorista ou algo do tipo! Não quero que façam nada de ruim à você...

— Fernando, a vida não é um mar de rosas. Precisamos lutar pelos nossos direitos, pelo direito do povo, não importa se para isso precisamos nos sacrificar. — ele deixou seu sorriso de lado pelo fato de termos começado a falar sobre um assunto sério. — Eu faço tudo pela democracia, Fernando. Tudo por um Brasil melhor. Ninguém vai me parar. Porém mesmo assim, tento disfarçar, já que infelizmente não temos muita liberdade de expressão.

— Ciro, você me orgulha muito. Fico feliz em saber que nossos pensamentos são parecidos. — seguro suas mãos. — Pode contar comigo.

— Vamos juntos lutar por um Brasil melhor. — ele sorri e aperta as minhas mãos de modo carinhoso. — Bom... Eu pensei que explicar isso fosse mais difícil, sorte a minha de ter um homem maduro como você.

— Agora podemos militar juntos.

— Sim! Mas agora precisamos nos alimetar, isso sim. Militância deixa para depois. — ele pisca para mim.

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Pessoal, desculpa a demora. Vou tentar postar capítulos a tarde entre 13 e 17 horas, mas não posso prometer.
Quem tá achando que a fic vai desandar está enganado, hein! É só o começo kkkkkkk.

Até mais! ❤

Amor Recíproco | Ciro & HaddadOnde histórias criam vida. Descubra agora