- Sabe o que isso está parecendo?- a olho- 13 Porquês- ela sorri e arqueio a sombrancelha
- Está comparando a minha vida com uma série?
- Sim.
- Por quê?
- Ué, você tem vários porquês pra estar aqui.
Encaro o jardim ao ouvi-la. Eu realmente tinha vários porquês para estar aqui, mas isso não queria dizer nada, todos tinham porquês para estar ali. Suspiro, enquanto encaro a paisagem a nossa frente. Um jardim completamente verde, com uma grande árvore e um balanço ao lado da mesma.
- Por que tem um balanço aqui?
- Sei lá...vai ver alguns pacientes gostem de se balançar. Mas isso não responde a minha pergunta.- a olho- O que o Willian te fez pra você estar aqui?
Fico quieta, a olhando por vários minutos e logo desvio meu olhar do dela. Voltando a encarar o balanço vermelho.
- Ele me amou demais. Foi egoísta demais.
O silêncio predomina entre nós, enquanto, ao que parece, ela absorve minhas palavras. Ouço seu suspiro e pela visão periférica a vejo focar o olhar no caderno.
- Eu queria saber uma coisa...
- Diga- incentivo a continuar.
- Você foi ver o seu pai. Você voltou a ver sua mãe?- a olho, ela me fitava com um olhar curioso e receoso
- Sim.
- Ela pediu desculpas? Perdão?
- Ela me pediu algo, mas não foram nenhum dos dois.
- O que ela pediu?
- Ela foi no meu casamento.- ela se vira no banco, ficando de frente pra mim
- E?
- Ela me pediu para assinar um documento. Meu pai não podia, porque quando foi preso tudo o que pertencia a ele passou para o meu nome.
- Ela queria o que?
- A casa.
- A casa? A casa...
- Que eu cresci.-completo sua frase, a interrompendo, encaro a árvore- A casa que eu vi pela última vez quando tinha 8 anos. A casa que eu vi meu pai sendo arrancado a força de lá. Aquela casa.
- Eu...merda...desculpa.
- Pelo o quê?
- Por ter perguntado sobre a sua mãe.- sorrio fraco
- Sabe o que ela me disse, quando eu falei que...que vendi a casa?-a olho- Ela me disse que horas depois que saiu naquele dia para trabalhar, ela descobriu que estava grávida. Ia contar ao meu pai quando voltasse pra casa. Aí aconteceu o que aconteceu.
- O quê ela fez com o bebê?
- Ela disse que tentou abortar. Mas sabe, o bebê parece que puxou a minha maldição...ele nasceu, saudável, bem. Ela o deu pra um casal qualquer. Bom, foi o que ela disse.
- Que monstro. Me desculpa, mas, sua mãe é uma vadia.
- Não insulte as vadias.- sorrio de canto
- Foi mal.
Ela levanta as mãos em rendição, com um sorriso divertido nos lábio. Ficamos alguns minutos em silêncio, com ela sentada ao meu lado, escrevendo e eu observando a mesma pela visão periférica, até que ela fecha o caderno e me olha.
- Tenho que ir-ela levanta
- Onde vai?- franzo o cenho
- Meus pais virão me visitar.- sorrio
- Esqueci que você é um bebê, agora entendi porquê do balanço.
- Não sou um bebê, tenho 19 anos. Logo faço 20.
- E ainda sim veio parar em um lugar como esse.
- Namorados ruins- nego com a cabeça
- Mentalidade ruim. Você parece ser alguém bem manipulável
- Não sou.
- Sei. Vai logo, seus pais ja devem ter chegado.
- Okay, tchau!
Ela acena e entra o prédio, apoio as costas no encosto do banco e jogo a cabeça para trás, olhando uma pequena colmeia de abelha se formando no canto da parede do prédio . Fecho os olhos, sentindo o vento bater contra mim, sentindo um pouco de paz que à alguns anos me era rara. Suspiro, por lembrar que ainda é algo raro para mim.
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Era Uma Vez... A História de Uma Vida?
Ficción GeneralA história de como Alexa perdeu a vida em vários momentos de sua melancólica existência.