Capítulo 16

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        A viagem não foi tão demorada. Elena nunca havia viajado para o reino de Pietro, mas Gabriel já.
      Na carruagem de Gabriel e Elena, o silêncio era dominante. Não queriam conversar. Ainda não era hora. E ela sabia que precisava pensar em certas coisas que não ajudavam em nada seu casamento.

       Quando finalmente chegaram ao castelo de Pietro, ela saiu da carruagem esticando as pernas como se já fizesse anos que ficara sentada.

      Eles entraram no castelo e foram bem recebidos. Os súditos de Pietro os saudaram como se fossem súditos deles, exceto por aqueles mínimos que gritaram que o motivo de o reino estar agora em guerra era eles. Elena sabia que era verdade.
      
      Tanto ela quanto Gabriel sentiam-se estranhos por estarem andando de braços enlaçados. Tendo que rir um para o outro. Tendo que agir como se nada tivesse acontecido.

      Eles estavam em um jantar com Pietro, Carlos, e o braço esquerdo de Pietro, já que o direito era o irmão.

  — Então, Majestades. Já sabem quando irão ter um herdeiro? — quis saber o braço esquerdo de Pietro, José Antônio.

   "Se continuar como está, nunca" - pensou Elena.

   — Estamos tentando. Talvez não seja a hora ainda. Estamos em guerra. Tenho medo que, se tivermos um filho, usem-o contra nós — respondeu Elena.

  — Entendo. Mas não acha que seria uma boa jogada um filho?

  — Um filho não é para ser uma jogada — respondeu Elena.

  — É uma rainha, Elena. Deves usar todas as suas peças. Todos os seus piões, antes de por-se em jogo. O rei ainda mais — Elena limpou a boca no guardanapo.

  — Acho que não entendo exatamente o que quer dizer, senhor — ele riu, sarcástico.

  — Talvez não entenda por ser mulher, mas o senhor deve enteder, não é, Gabriel? Viver no mundo do reinado é jogar em um tabuleiro. Deve-se usar todos os peões. Todas as peças. E em situações emergenciais, até mesmo sua rainha — Gabriel não gostava que falasse assim das pessoas. Como se todos os reis fossem desse jeito. Talvez todos fossem, mas ele não.

  — Meu filho não seria peça em um jogo pra mim. Minha esposa também não — José Antônio arqueou as sobrancelhas.

  — Se você diz...

  — Quanto tempo ficaremos, Pietro? — quis saber Elena, mudando de assunto.

  — Ainda não sei, Elena. Acho que não nos estenderemos muito. Preciso apenas ver a situação de como tudo está, e mostrar nossa presença aqui. Mostrar que meu reino não está largado.

   — Tudo bem. Com sua licença, senhores, subirei. Não me sinto bem — pediu Elena.

  — Algo grave? — perguntou Carlos, recebendo um olhos quase imperceptível de Gabriel.

  — Não. Acho que é consequência do balanço da carruagem. Amanhã estarei bem. Obrigado — ele acenou com a cabeça e ela saiu.

      No quarto, depois de um banho longo, se deitou na cama macia e fitou o teto. Não sabia direito o que fazer. Queria sua mãe para lhe dar um bom conselho. Talvez até uns bons tapas pela burrada que havia feito.
      Sentia falta de ter Gabriel ao seu lado, mas sabia que mesmo que eles voltassem a se falar, a confiança que ele tinha lanted, não existiria mais. 
  
          Quando ele entrou no quarto, depois de tomar seu banho, deitou na cama, de costas para ela.

  — Obrigado por ter me defendido hoje — agradeceu ela sabendo que ele estava acordado.

  — Não defendi você. Defendi meu caráter.

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