capítulo 14

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Julie

Viro na cama, inquieta, e pela primeira vez o som de chuva e trovões não me reconfortava. Se não descansar estarei exausta no dia seguinte. Isso é culpa de Matt.

Depois de dar banho e jantar para Camille, tenho lido um pouco. Mas nem mesmo o alívio de encontrar a menina sã e salva e a alegria de saber que Matt passava algum tempo com ela consegue aliviar a tensão que me domina.

Estou inquieta, agitada, consumida e o culpado era ele. Atiro as cobertas para o lado, levanto e vou até a janela. Puxo as cortinas e me sento na poltrona próxima contemplando a tempestade. O mar está escuro, e as ondas enormes explodem numa espuma branca que se destaca a luz dos relâmpagos. Me sinto exatamente como esse mar, vivo, agitado, selvagem.

Será que devo procurar Matt e tentar convencê-lo a confiar em mim?

Não adiantaria.

Ele somente faria quando estivesse pronto. Se algum dia estivesse... Se eu insistir, tenho medo que ele recuse, e pelo bem de Camille, não posso arriscar. Estou aqui por causa dela. A criança precisa de um pai de verdade, que pudesse encará-la, e ao resto do mundo, sem qualquer restrição.

Parte de mim sofre pelo homem gentil e terno, forçado a esconder-se. Pelo homem que deseja  poupar sofrimento aos outros, mas sofre sozinho, escondido nas sombras.

Um sorriso se forma no meu rosto. Trato logo se tira-lo. Eu não podia gostar de Matt. Nao! Não!

Tinha sido muito magoada pelo meu ex, não iria me arriscar. Embora reconheça que Matt fosse capaz de enxergar além das aparências.

De certo modo somos muito parecidos. O acidente mudou a vida dele por completo, alterando planos e prioridades. O noivado rompido e a perda do meu filho, mudou a minha vida, fazendo me perceber que podia confiar em poucas pessoas.

É difícil encontrar alguém que a visse como sou realmente, e não apenas a beleza.

Matt acha bonita demais para querer um homem como ele. Mas não percebia que eu não enxergava as cicatrizes, não notava como ele procurava esconder que mancava levemente. Eu me encantei com a voz na escuridão, querendo vim a luz.

Não, realmente eu não posso me apaixonar  por um homem que não confia em mim, nem mesmo o suficiente para mostrar o rosto.

Fecho os olhos e peço ajuda a Deus, como Camille me enviou alguma horas atrás quando estava colocando-a para dormir.

Matt

Ando de um lado para o outro no quarto, como uma fera enjaulada. Além das paredes, a tempestade ruge, e  sento cada raio, cada trovão, ecoando em meu corpo. Passo os dedos nos cabelos, ainda molhados do banho, esfrego a nuca dolorida. Quero ir até ela, e ouvir sua voz, mesmo sabendo como é perigoso. Para os dois.

Julie quer algo que não posso lhe dar.

Permitir que outro ser humano, além de Richard, me visse. Ela não entende o que isso significa?

Não podi correr o risco. E se ela me rejeitasse? Como me se sentiria depois?

Viver nas sombras está acabando com comigo, deixando-me mais infeliz a cada dia. Sinto falta do sol, de entrar numa sala com as luzes acesas.

Sentia falta de pessoas.

Entro na passagem secreta. Paro na frente do quarto de Julie. O vento ruge tão forte que parece querer me alertar para não entrar. Empurro a porta secreta do seu quarto, vejo as cicatrizes na minha pele e flexiono os dedos.

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