Julie
Sirvo o café olhando para Emma, a uma jovem adorável cantava na igreja. Levo o café para o casal, que vieram para passar a lua de mel na ilha.
Não foi uma boa escolha. Mas pelo menos teriam algo diferente para contar aos filhos.
Outras pessoas me ajudam, um jovem oficial da Marinha, serve café e bebidas também. Richard está ajustando o rádio e acalmando a todos.
No chão, Camille brinca com a única criança do grupo, Ana, a amiguinha que conheceu na igreja.
Seus pais sentam num sofá próximo, enquanto elas colorem uma revista.
Três pessoas, incluindo os dois policiais, saem periodicamente para checar em volta da casa, embora não houvesse, de fato, necessidade, uma vez que a ilha está deserta e os poucos que restaram se encontravam aqui no castelo da fera.
As pessoas se dividem entre o salão, a sala de jantar e a cozinha.
Com exceção de Matt.
É oportunidade que ele precisa. Abriu a casa para todos, e por certo não zombariam dele. Não na minha frente . Ninguém seria tão insensível.
Mas confesso que estou tensa, imaginando por que ele demora tanto para voltar.
-- Onde está o sr. Cambridge? - pergunta um dos policias
Sou de ombros.
-- Em algum lugar da casa.
-- Você já o viu?
-- É claro -- falo de forma natural. Como se sua pergunta não me afetasse.
-- E como ele é? -- ergo o olhar, fitando ele
-- Bonito, muito alto - respondo, me aproximo dele e encho de café a sua xícara -- Tente não ser rude, ele é um homem como qualquer outro. Aliás, um homem que abriu a própria casa para acolhê-los.
O policial fica calado e toma um gole do café.
Camille larga os lápis de cor se levanta, indo até o corredor e depois para a escada. Ouço voz dela e o sussurro de Matt.
Ela entra correndo e para.
-- Aqui está ele -- diz olhando por sobre o ombro. Mas Matt não aparece.
Ela volta para as sombras e poucos minutos depois retorna -- Venha para a luz papai -- diz puxando seu pai pela mão e trazendo-o para a claridade.Matt
Olho para minha filha, tão emocionado com seu gesto que não consigo falar. Respiro fundo e ergo a cabeça, deixando que todos vissem o rosto da fera.
Julie deixa a garrafa na mesa e vem até mim ficando ao meu lado e segura minha mão forte. Juntos esperamos a demonstração de horror ou de piedade.
Mas nada disso acontece.
--- Olá, sr. Cambridge --- fala o policial, aproximando de mim devagar -- É um prazer conhecê-lo finalmente
Ele ergo sua mão e eu o aperto. Depois ele me apresenta o parceiro e todos os outros. Sorrio, imaginando quando começaria. Mas nada acontece.
--- Cristian e Lola --- diz o homem -- Estamos em lua-de-mel.
-- Que bela recepção -- brinco e o casal sorri.
De repente, a grande janela do salão espatifa-se, espalhando vidro à volta nós. Corro puxando as cortinas sobre a abertura e segurando-as contra a força do vento.
--- Richard na despensa tem martelo, pregos e algumas placas de madeira --
Ele corre.Depois que ele volto, vendamos
a janela, e decidimos que seria melhor fazer o mesmo com as outras.Termino o serviço. Julie varre os cacos de vidro, e algumas pessoas afastam os móveis da janela. Me aproximo dela, mas recolhe os cacos, levando tudo para a cozinha, sem me olhar.
O que há de errado com ela?
Fico apreensivo. Mas não tem como ficar sozinho com ela naquele momento. Há muitas pessoas aqui e não está sendo fácil para mim ficar no meio delas depois de tanto tempo.
Disfarçadamente, escapo para a biblioteca, encontrando o policial no sofá, lendo um livro.
O jovem policial levanta-se, com o rosto muito corado.
-- Sinto muito ter entrado sem pedir licença. Mas sua biblioteca é incrível. -- Ele faz um gesto na direção das prateleiras. Sou Mário aliás.
-- Pegue emprestado o que quiser, Mario. De que adianta ter tantos livros, se ninguém aproveita? -- vou até o pequeno bar, sirvo um copo de água e ofereço ele. Mario agradece, mas recusa.
Sento na poltrona de couro, atrás da escrivaninha, lembro da noite em que encontrei Julie aqui. Queria que a tempestade acabasse logo, para poder abraça-la.
-- As pessoas tinham medo de você -- Mario comenta.
-- Eu sei.
-- E sem motivo - arqueio uma sobrancelha, mas não digo nada.
De repente, ele afrouxa a gravata e desabotoa a camisa, mostrando as terríveis cicatrizes de queimaduras que lhe cobriam o peito e o ombro, e que mal podiam ser vistas sob o colarinho.Largo o copo sobre a mesa.
-- Estava curioso para saber se eram piores do que as minhas -- diz Mario.
-- Acho que são iguais -- concluo verificando com cuidado -- Se não se importa de me dizer, como aconteceu?
0 policial abotoa a camisa e começa a contar.
-- Naquele tempo eu era casado. Tinha terminado a academia militar fazia dois anos e estava servindo em nova York quando fui chamado para ajudar num incêndio. Era num orfanato para crianças com problemas emocionais. Fui o primeiro a chegar e...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Venha Para Luz
SpiritualUma fera.... foi o que Matt Cambridge se tornou, depois de um trágico acidente que o desfigurou. Agora abandonado e solitário, se esgueirando pela sombra de seu próprio castelo, ele tenta viver sua vida sem arrependimento algum. Assim como a fera...