Two!¡

19 7 3
                                    

— PASSADO.

Ao fim da música, me jogo na cama de Susan e fico chocada por ela ter um colchão muito macio, já que ela parece aquelas velhas ranzinza que têm um colchão parecendo pedra. Rio mentalmente disso.

— Você já cansou? Levanta logo daí e vamos dançar mais!

— Ninguém me tira daqui! - Digo convicta.

— Tem certeza?

— Absoluta.

— Tudo bem, porque eu ia te chamar para a gente ir até aquela cafeteira aqui perto, mas se você não vai levantar...

Em um piscar de olhos me levanto da cama.

— Você disse comida?

Ela ri e assente com a cabeça.

— Vamos então! - Digo e levanto a mão, comemorando.

— Vai indo lá embaixo, vou avisar minha mãe que vamos sair.

Confirmo, e saio do quarto. A casa da Susan não é uma mansão, muito pelo contrário, ela é bem pequena se formos supor que uma família de 5 pessoas morassem aqui. Mas como é só ela é a mãe dela, fica até confortável.

Enquanto vou caminhando até o andar debaixo, deslizo as pontas dos meus dedos pelas paredes cinza chumbo e vou me lembrando do dia em que pintamos as mesmas.

Apesar de ser divertida, a tia Agnes nunca foi muito boa em arranjar brincadeira para crianças – ela nunca gostou muito de "ser babá" – mas mesmo assim, foi muito divertido.

Era um dia chuvoso e não podíamos brincar lá fora, e criança quando é contrariada ficam extremamente chatas, foi quando Agnes teve a incrível idéia de redecorar a casa. Me lembro de termos ficado em dúvida em qual cor pintar as paredes – as meninas queriam rosa ou roxo, e os meninos queriam verde – mas no final, foi Susan quem bateu o martelo no cinza.

Rio ao reproduzir a cena de cinco crianças ao redor de um monte de jornal e todas lambuzadas de tinta. Admito, éramos uns pestinhas.

Me encosto no batente da porta de entrada e fico esperando a Susan, que não demora a descer.

— Ela deixou, vamos lá!

Espero ela trancar a porta para começarmos a andar. Não ficamos muito em silêncio, porque ela sempre tem algo banal pra conversar.

Enquanto vou prestando atenção nela, tropeço em uma pedra e quase vou de cara no chão, se não fosse por um senhor que passava ao meu lado me segurar.

— Ai meu Deus. Muito obrigada! - Olho para ele, repetindo o agradecimento. - Eu estava muito distraída, perdoe-me.

O senhor dá uma risadinha.

— Tudo bem menina, fique tranquila. Só preste mais atenção, sim? - Ele fala em um tom divertido, e acabo dando um sorrisinho.

Olho para Susan e vejo que ela está segurando a risada. Reviro os olhos e procuro a maldita da pedra que atrapalhou meu caminho.

— Kath, você é uma comédia! Olha o mico que você passa!

Ao achar a pedra, aponto para a mesma.

— Se você não calar a boca, eu te faço engolir essa coisa!

Ela para de rir na hora, e olha a pedra como se tivesse um respeito enorme por ela.

— É possível adotar pedras? - Após isso, ela desata em uma nova seção de risadas.

Um dia ainda largo ela no meio da rua.

Quando chegamos na cafeteria, peço um café expresso e uma fatia de bolo branco. Ou seja, o mesmo de sempre. Pegamos nossos pedidos e nos sentamos em uma mesa.

— Kath, não olha agora, mas tem um menino te encarando.

Descarada do jeito que sou, viro a cabeça com tudo, até achar um par de olhos focados em mim e rio ao perceber quem é. Chamo ele com a mão, para que se junte a gente.

— Eu vi que você ficou esperançosa quando disse que tinha um menino te olhando. - Ela ri e faz uma pausa dramática - Devo contar pro James que você é caidinha nele?

Solto uma gargalhada e logo prendo as outras que querem sair. Susan perdeu a noção do perigo.

— James é bonito, mas Deus me livre. Você quem deve estar caidinha nele. - Ela faz um sinal de cruz.

— Quem está caidinha por quem? - James pergunta ao chegar na mesa.

— Ninguém, ninguém - Eu e Susan dissemos ao mesmo tempo.

— Eu não esperava você por aqui. - Digo a James.

— Na verdade, nem eu, mas eu tinha que buscar um café pro técnico.

Reviro os olhos, já que James mais uma vez é feito de idiota.

— Quando você vai abrir os olhos e perceber que esse técnico é um vacilão que tá te usando de empregada? - Quem diz é Susan, mas ela tira as palavras da minha boca.

Bom, nossa descaradez combina, pelo menos.

— Empregada é seu... - Eu o interrompo com uma tosse falsa - Desculpa. Mas ela está dizendo um absurdo!

Rio sarcasticamente.

— Tu deixa de ser sonso! Absurdo é o que estão fazendo contigo, e você obedece que nem um cachorrinho.

Ele suspira.

— Eu preciso fazer isso, eu sou do time! Por mais que eu odeie isso, e já esteja a bastante tempo no time, se eu ir contra, vão querer me tirar. Eu só tô fazendo essas coisas até virar o capitão. Juro que não vou deixar mais isso acontecer.

— Tá. - Digo contrariada - Quero só ver. Mas vamos mudar de assunto.

— É! Vocês querem ir na minha casa no fim de semana? - Interroga James.

— Isso! E dá pra gente chamar o restante do pessoal. - Diz Susan.

— Verdade, faz tempo que não nos reunimos na casa de alguém. Da última vez foi na casa do Andrew.

Nós rimos da nossa última reunião, aquilo foi cômico.

— Eu ainda tenho pesadelos com o tio dele. Quase vi aquele homem super sarado nú. - Diz irônico - Isso é demais para a minha mente santa.

— Tantos dias para o tio dele aparecer, escolheu logo aquele.

Rimos ainda mais. E no meio de uma dessas risadas, sinto meu celular vibrar em meu bolso. Rapidamente o pego, e pelo identificador de chamada vejo que é meu pai.

— Vou atender a ligação, já volto.

Eles assentem e eu me levanto da mesa, indo para fora do estabelecimento.

— Alô, pai? Aconteceu alguma coisa?

Antes que ele possa me responder, tenho uma sensação incômoda de alguém me observando, e no mesmo instante começo a procurar pelo suposto observador, mas não encontro nada.

— Filha?

Elements;; [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora