Eight!¡

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- PASSADO.
Final de semana.

Durante essa semana eu não fui á lugar nenhum. Nem sequer saí de casa. Isso pode parecer depressivo, mas não sinto vontade de mais nada, desde que descobri que meu pai está em coma.

Não fui à escola. Não fui na casa de amigos. Não fui procurar um emprego. Não fui, e nem pretendo.

Andrew, Helena, James e Susan me mandaram mensagem a semana toda, perguntando o porquê de eu estar faltando e não respondê-los, porque eles mandavam mensagem e ligavam mas eu simplesmente ignorava.

A única coisa que fiz durante esses tempos, foi assistir o noticiário e comer porcaria. E claro, prender o choro, tecnicamente porque não queria chorar.

Uma vez me disseram que choro é sinônimo de fracasso, e não quero me sentir mais fraca do que já estou.

A comida foi o que me salvou ultimamente, já que no dia em que descobri sobre meu pai, eu não comi nada; depois, comi tudo de pior que existe. Talvez assim eu morra mais rápido.

Esses últimos dias só me serviram para refletir sobre algumas coisas: Por que eu estou viva? Por que eu nasci para essa merda toda? Por que eu? Por que comigo? Por quê?

As vezes dá vontade de jogar tudo para o ar, mas simplesmente não dá. Porém estou melhor - em tese - do que antes, pode-se dizer que me adequei a andar pela casa vazia, me adequei a não ver Joseph cozinhando enquanto assobia alguma música antiga. Ainda sinto saudade.

Por isso, mais uma vez estou sentada em frente a tevê enquanto como um pote de sorvete de chocolate. E igual aos outros dias, está sintonizada em um noticiário.

- E agora, vamos falar com a Cíntia. Ela nos dará as notícias sobre os impactos ambientais dessa semana, e a previsão do tempo.

Cíntia dá um sorriso quando a câmera foca em si.

- Boa noite. Tivemos diversas ocorrências durante essa semana. Um terremoto na Indonésia, que deixou 300 feridos, mas nenhum morto. Um maremoto no Japão, com 430 feridos e muitos desabrigados.

Ela respira fundo antes de continuar.

- Chuvas muito carregadas cercaram toda a extensão da América do norte, mas que não houve nenhum ferido, somente alguns desabrigados por conta dos alagamentos. Felizmente, esses acontecimentos estão contidos desde quinta-feira, e esperamos que continue assim.

Um pouco aliviada, suspiro. Não deve ser fácil para ela falar sobre isso.

- A previsão para o próximo dia, deve ser de máxima de...

Meus olhos começam a pesar de sono, e me rendo a ele.

[•••]

Algumas horas depois, ouço a campainha tocar, e sinto vontade de morrer por causa disso. Me levanto praticamente arrastada do sofá, e sem me importar com aparência, destranco e abro a porta.

Praguejo mentalmente. Era só o que me faltava!

- Kath?! Você está viva, ou é só uma miragem? - James diz e me abraça em seguida.

Eca.

- Uma miragem bem acabada, pelo visto. - Helena solta um de seus venenos, e para falar a verdade não discordo dela, mas ela quieta é um anjo.

- Helena, cala a boca um pouco, por favor. - Diz Andrew.

Finalmente alguém sensato.

- Não vai falar nada, Kath? - Susan diz com uma cara estranha - Foi-se o tempo em que você era educada.

Reviro os olhos e dou meia volta, me jogando de volta para o sofá e recomeçando a comer meu sorvete que já está meio aguado.

- Kath, o que aconteceu? Você não é assim - James diz preocupado.

- Verdade, você está nos ignorando e isso não é do seu feitio. - Andrew comenta.

- Que pena. - É tudo o que digo.

- Gente, falem mais baixo, o pai dela deve estar dormindo - Susan diz com real inocência.

E seria melhor que não falasse. Mordendo o lábio para não chorar, abaixo a cabeça.

Helena, sempre muito atenta, senta ao meu lado e me abraça.

- Ei, eu notei que você está meio para baixo. O que aconteceu, hm? - Ela pergunta atenciosamente.

- Meu pai - digo baixinho.

Ela arregala os olhos e morde o beiço.

- Onde ele está, Kath? - Dessa vez é Andrew que pergunta.

Suspiro e fecho os olhos, para manter minha sanidade intacta.

- Gente, não force ela. Precisamos deixar ela ter seu tempo - Susan diz como se já entendesse da situação.

- Mas, a gente veio te fazer levantar essa bunda daí - James diz tentando me alegrar - Não sei o que aconteceu, mas você ficou sofrendo solitária a semana toda, e agora nós vamos sair. Vamos para a festa da Hillary.

Droga, essa merda de festa.

- James... - Digo manhosa - Eu não quero ir...

Ele ri e acaricia minha cabeça.

- Uma pena, pois eu não perguntei, eu disse que nós vamos e pronto. Meninas, dêem um trato nela. Nós vamos esperar vocês aqui.

Passo a mão no rosto, ficando com raiva. Que saco, tudo o que quero é ficar quieta sentindo o luto preencher cada célula do meu corpo. Se ele morrer eu já vou estar preparada.

- Mas que saco! Eu não quero ir! Vocês não podem me obrigar - Cruzo os braços.

- Podemos sim - Diz Andrew.

- É claro, não é você que está com o pai preso em um maldito coma. - Digo e eles ficam em silêncio. - Se eu fosse vocês, iam sem mim.

Me levanto e vou em direção a escada, mas antes de começar a subir, ouço a voz da Helena.

- Kath, você devia ir conosco. Se distrair faz bem.

- E exatamente por você estar triste que você deve sair. Se isolar agora não vai tirar seu pai do coma. - Susan diz sincera. - Eu sei que você só quer se jogar no sofá e fingir que nada está acontecendo, mas não podemos ficar vendo você se matando aos poucos de braços cruzados. Nós nos importamos com você, e é por isso que queremos que você fique bem.

Suspiro e abaixo a cabeça, sentindo a primeira lágrima descer.

- Vocês não vão me fazer chorar. Não vão fazer meu esforço da semana toda ser em vão. - Digo dando um sorriso triste, enquanto me viro de frente para eles.

Eles correm e me dão um abraço em conjunto.

- Obrigada por me dizer o que eu precisava, e não o que eu queria, Susan - Ela sorri.

- Sempre estaremos aqui para isso. Agora vamos, precisamos fazer você ficar pronta e linda para a festa.

Suspiro, pois apesar de estar melhor - não nego o fato de ainda estar triste -, não quero ir para aquela festa. Sinto que vai ser longa demais.

Elements;; [HIATUS]Onde histórias criam vida. Descubra agora