— PASSADO.
— Bom dia, Katherine Winchester. - Ouço uma voz rouca do outro lado da linha.
Estranho. Não conheço essa voz.
— Quem é? - Pergunto com a voz firme.
A ligação cai, e a linha fica muda. Jogo o celular na cama e fico pensativa. Que raios de pessoa era aquela?
O celular toca novamente. Se for esse desconhecido de novo, eu vou falar poucas e boas para ele.
— Alô? - Pergunto em um tom bravo.
— Ela tá brava gente, e agora? - Ouço a voz do James e suspiro aliviada.
Que comece a minha encenação.
— Ah, então são vocês? - Pergunto retoricamente - Tchau.
Quando vou desligar a chamada, ouço eles gritarem para eu não fazer isso. Prendo o riso.
— Não grita Susan! Minha cabeça dói - Helena resmunga.
— James me dá o celular. - Andrew diz - Kath, me perdoa... quer dizer, perdoa a gente. Todo mundo foi irresponsável e deixou você sozinha.
— Andrew, eu avisei que se vocês saíssem da mesa eu iria embora.
— Eu sei, eu sei. Nós agimos errado, e prometemos não fazer isso de novo. - Ele suspira - Então... Perdoa?
Suspiro dramaticamente.
— Eu tenho que pensar Andrew...
— Vai Kath, seja boazinha, por favor! - Ele pede e posso imaginar sua cara de cachorro sem dono.
— É... - Dou uma risada - É claro que perdôo vocês! Eu estava brincando seus bestas! Mas ainda estou ressentida do que vocês me fizeram.
Ele fica um pouco em silêncio.
— E se nós fossemos aí? Ajudaria em algo? - James sugere - Podemos inclusive recuperar a reunião do grupo que era para ser ontem. O que acha?
Sorrio.
— Ok! Podem vir! - Digo animada - Vou passar no mercado rapidinho para comprar algumas coisas. Podem me encontrar lá?
Eles afirmam e me despeço deles.
Me troco e coloco o celular e a carteira na bolsa de lado. Antes de sair, olho por cima do ombro e vejo a gaveta onde estão as coisas de minha mãe. A abro rapidamente e pego o colar dela, e depois de colocar em meu pescoço por baixo da roupa, tranco a gaveta novamente.
Como o mercado não era tão longe, fui andando mesmo e aproveitei o dia, que estava lindo. O céu azulzinho com algumas nuvens, haviam inclusive algumas borboletas quando passei em frente à uma praça.
Sorri e entrei no mercado, na intenção de comprar o triplo de porcarias que comi durante a semana. Perdão, mas nem ligo.
Ontem foi um dia em que as coisas mudaram radicalmente; do triste ao alegre, do alegre ao tedioso e do tedioso ao misterioso. Mas uma coisa que não mudou de ontem para hoje, foi a minha atitude em relação às coisas. Não ligava ontem, e não ligo hoje.
Isso é meio melancólico, mas é a verdade. Eu deixei de ser aquela criancinha que acreditava em contos de fadas a muito tempo. Me sinto alguém sem esperança, pois não boto mais credibilidade em coisas que podem ou não acontecer, o que vier já está bom.
Isso pode ser visto como uma qualidade, ou um defeito. Mas prefiro não pensar nisso.
Quando termino de pagar as compras, vejo uns animais vindo em minha direção. Coloco meu melhor sorriso no rosto.
— Vocês tratem de me ajudar a carregar isso, ouviram? - Eles riem, mas pegam as sacolas.
A moça do caixa me chama e me entrega um folheto.
— Se você conhecer alguém que esteja precisando de um emprego, estamos com vagas abertas! - Ela sorri. - Tenha um ótimo dia.
Ótimo, minha chance. Guardo o folheto com cuidado em minha bolsa.
Enquanto andamos, Helena se coloca em meu lado e passa um braço pelo meu ombro.
— Como você está? - Ela pergunta preocupada, dessa vez sem nenhum resquício de deboche em sua voz.
— Eu estou bem, por que a pergunta?
— Kath... - Ela suspira - Você passou uma semana de molho em casa, e seu pai... Eu sei que não está bem. Tem certeza que não quer conversar?
E então percebo o porquê de termos virado amigas. Helena pode parecer estranha ou até mesmo má por seus comentários, mas ela tem essa habilidade de perceber quando tem algo de errado, e também ela sempre se preocupa com todos.
Suspiro, e balanço a cabeça.
— Prefiro não pensar muito nisso, e tem dado certo, porque isso tem me mantido inteira. - Olho para ela - Dá para entender né?
Ela assente.
— Sim... mas quando quiser conversar, eu estou aqui, tudo bem? Guardar as coisas para si mesma faz muito mal.
Concordo com ela, logo o restante do grupo recomeça a conversa.
Sinto que preciso chorar, mas chorar muito, só que eu não consigo. Mas de qualquer forma, ainda não é a hora de chorar. Não quero; Enquanto eu puder aguentar, eu irei.
Ao chegar em casa, eles deixam as sacolas em cima da mesa.
— Vamos pegar os travesseiros e as cobertas lá em cima, ai a gente deixa aqui na sala. Pode ser? - Eu pergunto e passo a mão no cabelo, ajeitando ele atrás da orelha.
— Pode. Let's go! - James diz animado e sobe as escadas correndo, parecendo um brutamonte.
Rio e subo logo atrás.
— Aqui estão os cobertores. - Aponto para dentro do guarda roupa - Você e o Andrew levam eles, que eu e as meninas levamos os travesseiros.
Nós começamos a arrumar a sala, mas faltam alguns travesseiros. O motivo de eu ter vários travesseiros é justamente essas reuniões, ou seja, eles têm um objetivo destinados já.
— Eu vou buscar mais, esperem um pouco. - Digo e suspiro, já sabendo onde eu deveria ir.
— Quer ajuda, Kath? - Helena diz me analisando e eu nego.
Subo as escadas e passo a mão na testa. Entro no meu quarto e pego a chave do cômodo, já que eu tinha trancado para não ver e nem deixar ninguém entrar lá.
Abro a porta e prendo o choro. As fotos, os pertences, as roupas, os quadros... tudo. Passo as mãos nos olhos e vou direto ao armário de travesseiro. Pego dois e saio dali.
Volto para sala e jogo nos meninos.
— Toma, arruma aí - Digo dando uma risadinha para disfarçar e me jogo no chão.
As meninas já deram uma arrumada; colocaram as comidas aqui perto e ligaram a tevê, selecionando o filme. Espero que hoje seja um dia que eu relaxe e me distraia. Pelo menos hoje.
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Elements;; [HIATUS]
Mistério / SuspenseÉ possível sentir que algo terrível está por vir? E que não importa o que você faça, isso vai acontecer? Odeio me sentir impotente, e isso vem me atormentando a dias. Não quero pensar muito nisso, pois se eu pensar vou entrar em uma teia de aranha...