Oposição e Medo

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Sentei-me frente à escrivaninha do escritório, observando a folha em branco que subsistia. Imaginava milhares de palavras bonitas para escrever naquele pedaço inútil de papel, porém nada era de meu agrado. Minha mente fervilhante pensava uma enxurrada de palavras por segundo. Poderia estampar a melhor parte do nosso amor ali, com lápis ou caneta. Contudo, as melhores partes são memórias, não teria necessidade de esquecê-las em mais um amotoado de papel. Olhei a forma imóvel sobre o móvel. De fundo Johnny Hooker gritava Amor Marginal. Tudo indicava que boas lembranças não devem virar poesia. Levantei e andei até a folha. Derramei um pouco de tinta em sua borda e iniciei.

"Há gritos que sufocam e os que libertam,
Assim como existe o sexo que liberta e o que aprisiona,
É uma série de oposições.
Certos amores são libertos e outros são marginal,
E o nosso é um pouco dos dois.
Me liberto na tua presença, no teu grito e no teu sexo,
Entretanto, me aprisiono nos mesmos motivos que me libertam.
O entendimento é difícil,
Por este motivo não nos entendem.
As margens dos dias dificultam o meu momento de te vê, então escrevo sobre isso.
Porque os momentos bons são para nossa própria leitura e repetição.
Ó moça, não escrevo palavras bonitas por a felicidade que trás.
Não tenho estômago para ver coisas bonitas serem esquecidas.
Eu conto sobre dores, as minhas dores."

Os olhos se enchiam de lágrimas e o copo secava ao meu lado. Era notável o medo vivo em mim. Prosava sobre dores que nem sempre se faziam reais. A marginalidade do "nós" me fazia tremer e temer a tua partida. A tinta na borda da folha, representava meu sangue e medo, escorrendo até a mesa. Mas o que um mero poeta, que nem mesmo escrevia sobre ser feliz, poderia fazer para mudar o medo do mundo?

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