"Porra", Gerard pensou assim que acordou. Seu corpo estava fraco e, sua mente cansada, tudo isso pela insônia que passou durante a noite, quando já estava em casa depois de passar a tarde inteira com Frank.
A pior parte era que a falta de organização do seu tempo fez com que Way não conseguisse estudar nem 1% do conteúdo extremamente importante e necessário para a prova que faria naquele dia. Ele não entendia como não havia se desesperado, mas já era de manhã e, a não ser que Gerard pudesse parar o tempo, ele não conseguiria estudar tudo o que precisava antes de ir para a universidade.
A primeira coisa que fez após levantar foi tomar um rápido banho e se arrumar. Ele poderia usar o tempo restante antes de caminhar até a aula para tomar café e desejar que a sorte o guiasse nas próximas horas. Não fazia sentido se condenar pela falta de planejamento agora, quando não havia mais o que fazer, mas ele não deixava de pensar o quanto qualquer um o julgaria um péssimo estudante por aquilo. Ele não podia ser tão ingrato assim com a arte, o que queria trabalhar.
Ignorando o próprio sermão e tentando retomar o foco ao que devia fazer naquela hora, Gerard abriu a porta do prédio o mais rápido que pôde e começou a caminhar pela sua rua.
Já tendo percorrido o campus e entrado no prédio e na sala em que a prova seria aplicada, Gerard procurou Ray e se sentou o mais perto possível dele. Ainda que os lugares estivessem afastados, como poucos alunos estavam lá e apenas se concentravam no que faziam, Gerard se esticou na cadeira para conseguir sussurar para Ray.
- Oi. - cumprimentou. - Então... Eu não estudei nada.
Ray o olhou com espanto.
- Meu Deus, Gerard. O que você fez? - Sem dar chance para uma resposta do outro, Toro se lembrou de Frank aguardando Gerard para os dois saírem juntos. - Não me diga que passou a tarde toda com ele e...
- É, foi exatamente isso que aconteceu. - Way poupou o esforço do outro. - E nós usamos LSD, então, eu não consegui usar o pouco tempo que me sobrou quando cheguei em casa.
O amigo continuava a encará-lo chocado, mas sem reações escandalosas. Gerard tinha o costume de esperar que Ray fosse compreensível, como sempre foi, e como sempre acontecia.
- Gerard, você precisa usar o tempo antes da prova para estudar. Mesmo que seja só folhear pelas páginas dos livros apressadamente, faça alguma coisa. Você está com sua pasta aí, não?
Gerard fez que sim e apontou para a bolsa marrom pendurada por uma alça em seu ombro.
- Certo. - Ray continuou. - É melhor começar agora, já. Eu também vou revisar o que estudei. Cada segundo é um benefício para nós. - Way estava prestes a pegar um dos livros dentro da pasta quando Toro captou sua atenção mais uma vez. - E, Gerard, eu preciso ouvir depois o que aconteceu ontem à tarde.
O garoto sorriu e disse que certamente contaria.
Enquanto o tempo restante passava, Gerard conseguiu sugar um pouco de informação dos estudos dos livros, mas não chegava a nem um décimo do que ele precisaria para ir bem na prova. O professor entrou e ele sabia que precisava enfrentar aquilo no momento.
•••
O rapaz entregou a prova e correu o mais rápido que pôde para o campus. Ray ainda não havia saído. Gerard se sentia um fracasso, mas queria chegar em casa antes de se torturar mentalmente e lamentar.
Por mais que tivesse tentado o seu melhor e relido cada questão de todas as numerosas páginas várias e várias vezes, havia algumas que ele simplesmente não sabia qual alternativa marcar. E as descritivas apenas pioraram a situação. Gerard escreveu qualquer coisa nas linhas disponíveis, e com uma caligrafia terrível, porque não conseguiu fazer sua mão parar de tremer. O que ele podia fazer no momento torcer para que seu esforço e comprometimento em prestar atenção nas aulas tivessem valido a pena para ele não ser um artista fracassado sem mesmo ter terminado a faculdade de artes.
Gerard abriu a porta de casa e Mikey estava assistindo à televisão, deitado no sofá. O mais velho chegou em casa suspirando em derrota.
- Está tudo bem? - o irmão perguntou. - Como foi a prova?
A última coisa que Way queria era escutar aquela pergunta.
- Não, Mikey, eu não estou bem. Foi... Uma merda. - ele esfregou o rosto.
O irmão caçula fez sinal para o outro ir até o sofá e se sentar junto a ele. Quando Gerard fez isso, Mikey decidiu continuar.
- Eu pensei que você tinha se preparado, não?
- Eu esperava ter tido mais tempo. - explicou. - Você sabe que eu passei o dia inteiro fora ontem. E eu não sabia que isso iria acontecer.
Mikey ficou em silêncio por alguns segundos. Ele se sentia mal pelo o irmão, mas também não conseguiu deixar sua curiosidade e julgamento automático se intrometerem pelo caminho.
- Falando nisso, o que você foi fazer ontem? Você chegou e quase não falou comigo. Gee, você está... Diferente. Eu estou preocupado. - admitiu. - Ainda mais agora, ignorando completamente a prova que você sabia que seria complicada.
Gerard sentiu seu sangue ferver após ouvir as palavras do irmão.
- Espere aí... Você está me culpando por isso? - A expressão em seu rosto mostrava a indignação.
- Bom, eu não diria culpa, mas a responsabilidade é só sua, Gee.
- Sinto muito se nem todos tem a mesma determinação que você, Mikey. - seu tom passava a ser cada vez mais agressivo, até que ele levantou do sofá. - Talvez, sim, eu não tenha sido o melhor aluno de todos na prova de hoje. Mas não é seu papel falar isso. Eu sou o mais velho, se alguém deve dar um sermão sou eu! Então, por que você não cala a boca?
- Gerard, eu só estava tentando te ajudar!
- Parabéns, sua ajuda de merda deu errado. - ele virou as costas e começou a se dirigir para a porta. - Eu preciso sair daqui. Eu voltei para a casa para tentar me sentir bem e é isso que recebo.
- Aonde você vai? - Mikey perguntou.
- Não é da sua conta. - respondeu.
- Você vai ver o seu amigo, o Frank, não é? - Gerard hesitou exatamente no momento que ia abrir a porta. Parecia que seu irmão irmão precisou envolver Frank na briga, como se ele tivesse que o lembrar da montanha sentimental que necessitava enfrentar. - Você passou a tarde de ontem com ele, provavelmente. Eu não sei por que você não está conversando comigo. Eu sou seu irmão.
- Talvez porque existam coisas que você não entende! Ao contrário do que pensa, você não sabe de tudo que eu estou sentindo. - Mikey o olhou confuso, sem saber o motivo do irmão ter usado a expressão de sentimento na discussão dos dois. - Eu tô indo embora. Aproveite pra cuidar da sua vida no tempo que eu não estou.
E bateu a porta, guardando a chave no bolso da calça, sem saber que horas iria voltar.
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1968; frerard
FanfictionMaio de 1968. Paris, França. Gerard e Frank são dois estudantes de diferentes universidades, mas que se conhecem na manifestação e têm uma conexão que dura muito mais que um ato de rebeldia. Créditos da ideia para: @aufrerard