Tentação

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A próxima segunda-feira chegou mais rápido que o esperado. Gerard estava em uma das praças de Paris, conferindo o jornal no pouco tempo livre que tinha. Aquela era uma semana muito agitada na faculdade.

Depois de várias provas e da entrega do trabalho em conjunto com os alunos de arquitetura, os alunos do curso de arte foram avisados naquela manhã que teriam outro exame, dois dias depois, de tantos conteúdos que eles seriam merecedores de um diploma se passassem. Gerard não surtou por aquilo, porque não tinha notas ruins, mesmo que não fosse o melhor aluno da turma. Era importante, como era praticamente um teste surpresa, mas Way resolveu realizar os estudos aos poucos para manter a sanidade naquele próximo par de dias. Gerard havia precisado se apressar para acabar o livro antes da data na semana passada, então, ele merecia um descanso.

Nas notícias do jornal, um estudante, da mesma universidade que o rapaz, havia sido preso por atirar pedras em um dos policiais que tentavam conter as manifestações. Gerard olhou a foto, mas não conseguiu reconhecer o garoto. Ele tinha cabelos ondulados e um cavanhaque, e provavelmente era de um departamento muito diferente do de artes.

Internacionalmente, as contínuas manifestações pelo assassinato de Luther King, que ocorrera há um pouco mais de mês daquele dia, dominavam os Estados Unidos. E Gerard se impressionou ao ver a proposta do presidente de Gaulle para anteceder as eleições, tentando amenizar a crise francesa do momento. Mikey estava certo quando disse que queriam que ele renunciasse, mas a intuição de Gerard afirmava que os protestos estudantis iriam se esgotar em pouco tempo, ainda que não fosse o que ele desejasse.

De qualquer maneira, ele sentia que fizera tudo em seu poder para participar da política, e que as manifestações valeram a pena por ter conhecido alguém com seus ideais e gostos em comum: Frank. Ah, Frank... Way o reencontraria na casa de seus pais em poucas horas, pois o anoitecer já estava próximo.

Ele fechou o jornal e o deixou no banco do da praça que estava. Nas árvores em sua frente, o Sol se punha e criava um tom dourado no céu, que se perdia no azul das partes mais altas. Duas crianças, brincando com bolinhas de gude, provavelmente irmãos, eram as únicas pessoas ao seu redor. Gerard decidiu voltar ao seu apartamento, e tirou um cigarro do bolso. Custando para acendê-lo, ele começou a ponderar se os indícios de riscos de fumar à saúde eram reais. Como ele fumava em momentos raros, preferia pensar que não passavam de boatos e mitos.

•••

Já estava completamente à noite, e Gerard se encontrava a apenas uma quadra do endereço que Frank lhe dera. Não era complicado de encontrar, e Way simplesmente pegou os ônibus que conhecia até chegar às proximidades.

Quando estava na rua correta, o farol dos carros serviam como iluminação melhor do que os postes de luz. Várias casas, de um estilo em que cada uma parecia um minúsculo prédio, estavam uma ao lado da outra. Seguindo os números, Gerard encontrou a casa de Frank. Ele subiu as escadas da entrada e bateu na porta.

- Oi, Gee. - o garoto baixinho abriu a porta, sorrindo. Gerard pensou que ele realmente deve ter gostado da forma que Mikey apelidava o irmão. - Entre.

Ele abriu espaço e Gerard fez o pedido. O lar de Frank era extremamente aconchegante. Havia uma escada logo na entrada, lugares para os casacos serem guardados durante o inverno e um carpete cobrindo o chão até o cômodo à direita, a sala de estar. Com uma poltrona de couro e o sofá virados para a televisão, os quadros mais variados enfeitavam o lugar. Way não pôde evitar de se sentir alegre ao deduzir que os pais de Frank tinham a mínima apreciação por arte.

- Venha comigo, vou apresentá-lo a minha mãe. Ela está na cozinha. Meu pai estava lendo no andar de cima, deve descer logo. - Frank fez sinal para ele o acompanhá-lo.

1968; frerardOnde histórias criam vida. Descubra agora