Um mês se passou. As universidades estavam em férias após o fim do semestre. Os jovens podiam aproveitar um verão e um cenário um pouco mais tranquilo politicamente no país. Ao redor do mundo, contudo, os questionamentos e vontade de fazer mudanças continuavam. Muitos ousavam dizer que a França havia sido o país inspirador para isso, como uma espécie de efeito Dominó, mas apenas o tempo e a história confirmariam isso.
A família dos Iero estava se recuperando da morte recente do pai de Frank. Linda era uma viúva agora, muito mais cedo do que o esperado, o que trazia um enorme julgamento de outras mulheres, mas ela tinha seu filho, e este era todo o apoio que ela sentia precisar.
Enquanto isso, no humilde apartamento dos irmãos Way, Mikey estava (como sempre) se afundando nos livros. Gerard perguntava como o rapaz não se cansava de estudar até mesmo quando não precisava, mas ele sempre obtinha a resposta que era melhor se preparar para qualquer coisa que possa vir a acontecer academicamente. O mais velho também se destacou, produzindo incontáveis obras pessoais e pequenos projetos artísticos para alguns clientes. Gerard havia até vendido um quadro, em um estilo um pouco mais realista do que estava acostumado, para o pai tradicionalista de um antigo colega seu. O valor pago não foi tão alto como o de um artista conhecido, mas estava ótimo para seu começo de carreira. Ele sabia que não queria apenas vender quadros para o resto da sua vida, porém qualquer treino e esforço valeria a pena depois que soubesse o que gostaria de fazer de verdade com sua arte. Quando a chance chegasse, ele simplesmente saberia. E tinha convicção disso.
Ele estava se preparando para se encontrar com Ray em uma das praças perto de seu prédio. O amigo havia mencionado algo sobre o pedido de um possível cliente, mas que entraria em detalhes depois. Gerard podia usar o dinheiro para sua reserva pessoal, então não tinha nada a perder. Mais tarde no dia, combinou que iria encontrar Frank no local que foi salvo por ele da primeira vez: o bar de seu tio. Fazia um bom tempo que não iam para lá, e seria bom ter uma nostalgia daquele momento em que conheceram um ao outro, um ato que mudou suas vidas.
Alguns minutos depois, Way estava com sua camisa, suspensórios e calças da cor cáqui esperando o melhor amigo e sua proposta. Não demorou muito para este chegar e reconhecer Gerard em um dos bancos.
- Olha só, uma face desaparecida. - Ray brincou. - Você está há tempo demais sem me ver. Não é por que não estudamos mais juntos que vamos deixar de ser amigos.
- De jeito nenhum. Eu estive muito ocupado com ideias e devaneios. Desculpe, eu devo estar soando sonhador demais.
- Todo mundo sabe que você é sonhador demais, Gerard. E não tem problema nenhum em você admitir isso. - Ele sorriu. - Na verdade, acho que você vai gostar do que eu te trouxe.
- Diga. - ele se ajustou no banco, para olhar diretamente e atento para Ray.
- Bem, eu sei que você me disse há alguns dias que você não queria ouvir nada relacionado ao nosso curso e à universidade.
- Ah, não me diga que tem a ver com isso. - ele o interrompeu.
- Se acalme! Meu Deus, você não tem um pingo de paciência restante? - riu. - É uma oportunidade. Mesmo que você não seja aluno. Bem, uma galeria de Nova Iorque quer organizar várias exposições com obras de jovens de todo mundo. E eles precisam de um representante da França, então foram divulgar nas últimas aulas que tivemos do curso. Eu pensei em mostrar algumas obras e trabalhos seus, que você tinha deixado na universidade,e eles se interessaram muito em te contratar. Sabe, o seu talento chama mais atenção do que você imagina. Só precisa mostrar a quem realmente valorize ele.
Os olhos de Way chegaram a brilhar com a ideia.
- Nova Iorque? Isso é incrível! Mas ninguém da sua turma foi chamado no meu lugar? - ele estava chocado. Não havia se dedicado tanto às obras que fizera na universidade, tanto que as havia deixado lá, e muitos aspirantes da arte eram brilhantes para se destacarem nessa possibilidade de trabalho.
- Bem, alguns tentaram, mas acho que se interessaram por você pelo mistério de ser um ex-aluno. - Ray brincou.
- Isso é... Ótimo! Eu preciso falar com eles. Dizer que aceito.
- Wow, de novo, acalme-se. Existem algumas condições que você precisa saber. - Sua expressão ficou mais séria repentinamente. - Gerard, como eu falei, são várias exposições. E é Nova Iorque, uma cidade tão cultural ou até mais que Paris. Então, se você quiser aceitar o emprego, significa que mais trabalhos surgirão depois. E, bem, não é algo temporário ou rápido. Você teria que se mudar para lá. De forma definitiva.
A expectativa do amigo parecia ter sido quebrada depois dessas palavras. É claro que ele queria aquilo, trabalhar profissionalmente e representar sua geração e país da forma que mais amava. Era um prato cheio para sua criatividade, e estar nos Estados Unidos significaria que Gerard teria contato com os principais nomes das artes visuais. Talvez ele mesmo pudesse se tornar um desses nomes, se sua capacidade fosse maior do que pensava. Mas ele não podia ir sabendo que não voltaria logo.
- E você? Acabou de falar que não queria que nossa amizade acabasse. A distância só dificultaria manter isso.
- Eu sei, mas, Gerard, essa chance é única. Algumas pessoas esperam a carreira inteira para isso, anos e mais anos, e você tem ela em um único mês depois de largar a faculdade. Você é meu melhor amigo, mas eu separar o que é mais importante. Eu posso te escrever cartas que irão atravessar o Atlântico para chegar em suas mãos, porém qual seria o problema? E, além disso, você não realmente acha que eu iria deixar de te visitar? Nem que eu tivesse que ir de navio e superasse o enjoo e medo do oceano.
Way riu e se sentiu confiante pelo encorajamento de Ray. Mas haviam outras pessoas importantes em sua vida que ele deveria pensar antes de tomar uma decisão tão importante. Seus pais estavam tão decepcionados por ele ter desistido do curso que essa talvez fosse uma ótima oportunidade de mostrar para eles que a ideia de filho irresponsável e dependente estava errada. O seu irmão, Mikey, iria morar totalmente sozinho, porém, no fundo, Gerard sabia que ele conseguiria muito bem ter esse nível de independência. Seu real impedimento era Frank. Ah, Frank... Gerard o amava tanto, e ele estava em um momento de recuperação frágil demais para ser deixado. E os dois não aguentariam tamanha distância, não para um relacionamento que tinha de ser mantido em segredo.
- Ray... Eu-Eu não sei. Preciso pensar e falar com algumas pessoas sobre. Podemos falar disso depois?
- Claro. Eu ligo para sua casa e passo o número deles. Gerard, pense bem e faça uma escolha definitiva. Esse pode ser um passo muito importante, aquele que você estava esperando.
- Eu sei, Ray. Obrigado. Mesmo. Você fez demais por mim.
- Não foi nada. É isso que amigos fazem. - ele sorriu. - Agora vá. Fale com as pessoas e tome a decisão.
- Obrigado de novo.
Gerard se jogou para a frente em um abraço inesperado e verdadeiro. Em seguida, correu para chegar adiantado no encontro com Frank. Eles tinham muito o que conversar.
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1968; frerard
FanfictionMaio de 1968. Paris, França. Gerard e Frank são dois estudantes de diferentes universidades, mas que se conhecem na manifestação e têm uma conexão que dura muito mais que um ato de rebeldia. Créditos da ideia para: @aufrerard