1968; frerard

Fazer as pazes

Sem reação, Gerard tentou limpar as lágrimas que ainda restavam no seu rosto, e deduziu que Iero deve ter seguido ele quando deixou sua casa para conseguir estar ali em poucos minutos depois.

- Gerard, eu... - O mais novo parecia desajeitado e sem saber o que dizer. - Posso falar com você?

Way fez sinal para ele entrar e fechou a porta do quarto.

- Então, o que você está fazendo aqui? - perguntou Gerard, quando finalmente conseguiu recuperar a coragem para falar.

- Eu vim pedir desculpas. Não queria que nossa discussão tivesse acabado daquele jeito. - Frank parecia sincero e constrangido, mas o rapaz mais velho se sentia magoado demais para perceber isso. - Eu só... Não soube me expressar com as palavras certas.

- Não, Frank. - Gerard disse, levantando uma mão, antes que ele pudesse falar qualquer outra coisa. - Você só está dizendo um monte de palavras aleatórias e sem sentido para alivar sua culpa. Você está tentando se justificar, mas o olhar que você fez enquando me dizia aquelas coisas me fez me sentir totalmente errado, como se eu não fosse natural. - Way precisou segurar a emoção em sua voz por um segundo. - E eu me convenci por tempo o bastante de que eu era para você estragar isso.

Frank parecia surpreso pela mágoa de Gerard, ainda que ele tivesse seus motivos.

- Eu sei que falo merda às vezes. - foi o que ele conseguiu dizer. Way respirou fundo, e se sentou na cama, segurando o rosto e tentando criar paciência para ouvir o que o mais novo teria a dizer. - Olhe, talvez eu esteja perdendo meu tempo porque você não quer nem ver minha cara agora, mas eu preciso pedir desculpas. As mais sinceras. - ele se sentou na cama ao lado do rapaz. - Eu fiz um erro grande quando falei aquilo de forma cruel, mas você também ouviu a parte mais verdadeira de tudo que eu disse.

- Qual parte? - Gerard virou o rosto para Frank.

- A parte que eu disse que também gosto de você. Muito mais do que como amigo. - confessou. - E isso é muito difícil de lidar. Sempre foi, para mim. Eu preferia esconder esse tipo de sentimento por muito tempo dentro de mim, negando e repetindo os mesmos julgamentos que eu ouvi de qualquer um com quem eu me abri quando tocava no assunto. Pessoas que tem esse tipo de sentimento não podem nem se casar, Gerard. Você vê o quão horrível é pensar nesses direitos retirados se eu decidisse ser quem eu sou? Eu fui injusto com você porque estava assustado. Não foi o correto, e nem é uma justificativa válida, mas eu preciso que você entenda, e me perdoe.

- Eu entendo, Frank. Eu também estou assustado. E você não precisa pedir pelo meu perdão. A única coisa que eu desejo... - ele hesitou. - A única coisa que eu desejo, de verdade, é estar contigo.

Frank sorriu.

-E eu desejo isso o mesmo tanto que você.

O mais baixo pôs as mãos ao redor do pescoço de Gerard e, antes mesmo que ele pudesse raciocinar, os dois estavam com as bocas coladas. Way fechou os olhos e aproveitou a intensidade do beijo de surpresa, lentamente levando sua mão até o cabelo de Frank e sentindo o gosto de seus lábios. Iero percorreu cada espaço interior da boca de Gerard, sabendo que aquele beijo era com certeza o melhor que já havia dado.

Repentinamente, ambos se distanciaram pela interrupção do barulho da porta abrindo. Mikey estava parado na entrada do quarto de Gerard, boquiaberto, e parecia uma estátua pelo choque da cena que acabara de presenciar.

- Mikey... - o irmão mais velho falou, tão surpreso quanto o outro Way. Só com seu nome, ele voltou a si.

- Gee, meu Deus, eu não... Eu não sabia que eu não podia abrir a... Meu Deus... - ele fechou os olhos com força, sem saber qual palavra poderia dizer. - Quer saber? É melhor eu sair e voltar para a sala.

Mikey fechou a porta apressadamente e Gerard se levantou, pensando em como explicaria para o irmão o que ele vira. Frank o acompanhou na saída do quarto.

- Espera, Mikey, espera...

- Eu nunca pensei que o meu irmão... Você nunca me contou que... - ele ajustava constantemente os óculos, que quase caíam de seu rosto pelos seus movimentos ao falar com Gerard. Mikey se sentia incapaz de terminar uma frase. Ele respirou fundo. - Como você consegue me explicar o que eu vi?

Desta vez, foi o mais velho que ficou sem palavras na boca.

- Eu não sei, Mikey. Simplesmente... aconteceu. Eu e Frank nos beijamos só naquele momento. Eu não estou escondendo nada de você, mas eu não esperava que você fosse aparecer no quarto de repente.

- Eu entrei para te avisar que nossos pais ligaram nos convidando para jantar na casa deles hoje! - ele exclamou. - Eu também não esperava que eu iria entrar e ver vocês dois se agarrando. Mesmo se foi a primeira vez, por que você não me falou antes? Se eu soubesse que você gostava de homens, eu pelo menos bateria na porta antes de entrar nessa situação.

Frank observava a discussão dos dois do canto da sala, sem saber se poderia fazer algo para ajudar. Somente quando a hora de se intrometer chegasse, ele poderia dar apoio direto para Gerard.

- Eu queria falar, mas você acha que isso não é novidade para mim também?! - o tom de voz do mais velho mudou, se equiparando ao de Mikey. - Eu não gosto apenas de homens, eu só gosto... Eu gosto de quem eu quiser. E, agora, quem eu gosto é o Frank. - ele assumiu. - Além disso, da última vez que nos vimos, você foi estúpido comigo. Você disse que eu estava diferente por causa de Frank. Como você esperava que eu conseguisse te contar a verdade se você mostrou que eu não podia confiar em você? Você pareceu me julgar antes mesmo que eu tocasse no assunto.

Mikey se deu conta do porquê Gee havia sido tão afetado pela briga naquele momento. Frank percebeu só então que a briga dos dois irmãos o envolvia no meio, e também viu a importância que tinha para Gerard pelo mesmo ter ido até sua casa naquele dia.

- Gerard, eu... - o mais novo se sentiu envergonhado e abaixou a cabeça. - Eu nunca te julgaria como errado. Você é meu irmão. Qualquer pessoa que você gostar, se ela te fizer bem, você vai poder contar comigo, é claro. Sinto muito se eu te passei outra impressão. - Mikey respirou fundo mais uma vez. - Por mim, não importa se existem homens que gostam de homens, mulheres que gostam de mulheres, ou até se você sentir que pode amar os dois... Eu nunca havia pensado sobre isso antes. Nossa família jamais gostaria que falássemos desse assunto. - essa lembrança deixou Gerard levemente triste. - Mas agora eu posso dizer que tenho uma opinião. E é que meu irmão tem o mesmo direito de viver sua vida do jeito que quiser, como qualquer um.

O mais velho sorriu, precisando dar um abraço em Mikey. No final, tudo correu melhor do que ele esperava. Mas, agora, eles teriam mais coisas para lidar.