Sentir é um perigo

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Frank começou a rir depois da revelação de Gerard, e o mais velho não compreendia porque ele estava fazendo aquilo.

- Essa foi boa, Gee. - ele disse, ainda rindo.

- O que? - Gerard falou, sem acreditar que Frank viu sua forma de dizer que estava apaixonado como uma piada. - Eu estou falando sério, Frank.

- Mesmo? Tem certeza que você não está fazendo isso como maldade, para que eu tenha uma falsa expectativa? - Iero dizia, e Way não conseguiu entender por que ele estava tão irritado, ou o que ele queria dizer com a tal falsa expectativa.

- Frank, por que eu mentiria para te magoar? Você não tem ideia de como foi difícil para mim contar que eu estou gostando de você, afinal, você é um garoto.

- É exatamente isso, Gerard, eu sou um garoto. E eu não quero me enganar e sentir que posso confiar em você se eu estiver errado.

E somente então Gerard começou a entender a confusão do mais novo.

- Frank. - ele o chamou. - Você... Você já havia sentido isso antes?

Iero parecia preocupado, mas respirou fundo para tomar coragem.

- Sim. Eu gosto de garotos, Gee. Eu não sei como, mas sempre gostei. É quem eu sou. - revelou. - E eu gosto de você desde o momento que te conheci.

Gerard sentiu uma onda de felicidade por saber que era recíproco. Ele nunca esperaria que Frank também gostasse dele e que falasse de uma parte tão íntima sua tão facilmente. Mas era bom demais para ser apenas isso.

- E qual é o problema? Eu falei a verdade, você sabe disso. Por que você está tão irritado, então? - ele perguntou.

- Porque, Gerard, isso é perigoso. Esse tipo de sentimento. Nós somos dois homens, nós devemos gostar de mulheres. Eu tentei falar com a minha mãe uma vez sobre isso, ela me ignorou completamente e disse que eu estava cansado, e portanto, falando coisas sem sentido. Se ela fez isso, o que você espera dos outros? - A voz de Frank tinha certa melancolia.

Gerard se aproximou dele e botou a mão em seu ombro.

- Frank. - ele o agarrou com força. - Nós não precisamos que os outros nos aceitem. Eu estou passando por um dilema, então, eu entendo o que você diz, mas se você mesmo diz que assim é como você é, eu sei que também não estou fazendo nada de errado.

Frank o encarou profundamente, levantando um pouco o rosto.

- E o que você pretende? - falou baixinho. - Viver honrando sua identidade, e recebendo constantes julgamentos de todos que mais ama, ou poder viver uma vida normal, sem os outros descobrirem a verdade?

Gerard hesitou antes de responder.

- Eu nunca vou negar quem eu sou. É isso que todos os artistas deveriam fazer. Você é um artista, então a primeira opção deveria ser a óbvia para você. - Seu tom de voz se tornou um pouco agressivo com Frank. Ele se imaginou com as mesmas inseguranças e medos do mais novo, mas não conseguia evitar de sentir raiva por Iero se sentir tão preso ao padrão de normalidade que ele sempre aparentou questionar.

De repente, Gerard percebeu que estava perdendo seu tempo ali. Não precisava tentar convencer Frank de algo quando parecia ser inútil, não valeria a pena.

- Quer saber? - o mais velho falou, segurando a angústia e tristeza em sua garganta e disfarçando em sua voz. - Eu vou embora, Frank. Outro dia eu te devolvo as roupas do seu pai. Só preciso sair daqui.

Way agarrou o amontoado das suas roupas úmidas no canto do quarto de Frank e saiu correndo para descer as escadas. Depois do barulho de seus passos, ele ouviu Iero descendo para impedi-lo de sair da sua casa em seguida.

- Gerard, espere. - ele falou. - Espere.

Ele não respondeu, apenas girou a maçaneta para abrir a porta da frente, que estava destrancada. Gerard bateu a porta, ignorando o que Linda, a mãe de Frank, poderia pensar da discussão dos dois.

A chuva forte já havia parado na rua, tudo o que sobrou foram os pingos que caiam dos telhados das casas da vizinhança, mas Gerard estava caminhando estressado demais para prestar atenção em qualquer coisa. O rapaz só conseguia pensar no quão enganado se sentiu. O pior de tudo é que essa enganação vinha de Frank, a pessoa com quem ele mais se importava. Aquilo trazia raiva e dor demais para ser processado de uma vez. Way tinha sido sincero sobre seus sentimentos e tudo que Iero conseguiu fazer foi... rir.

Em poucos minutos, Gerard já estava em casa. Era surpreendente como ele conseguiu andar um trajeto que geralmente necessitava de um veículo pela distância tão rapidamente. Mas o mais chocante era que Way havia esquecido sua briga anterior com Mikey, pois sua irritação com Frank era maior que isso, ao ponto de fazê-lo esquecer do que aconteceu antes disso naquele dia.

Entrando no apartamento, o irmão mais novo ficou feliz em vê-lo.

- Gee, me desculpe por... antes. Você tem razão, eu não deveria pensar que sei tudo sobre você, e-

- Eu não quero conversar, Mikey. - Gerard o interrompeu. Sem sequer olhar para seu rosto, foi até o próprio quarto e trancou a porta.

Ele sentou na cadeira da escrivaninha que usava para seus desenhos e projetos e afundou o rosto em seus braços, apoiados na mesa. Pela vista da janela, ele percebeu que a noite já havia chegado, e a Lua estava excepcionalmente linda naquele dia. Nada daquilo importava para ele. Ele só sentia que precisava tirar o que apodrecia dentro dele, a sensação horrorosa que o machucava mesmo sem ele desejar aquilo. E então Gerard chorou profundamente, com as lágrimas quentes deslizando pelos seus braços.

Ele passou vários minutos ali, sem saber ao certo explicar sua reação, quando, de repente, uma batida em sua porta de quarto o fez limpar o rosto rapidamente. Logo perguntou-se por que diabos Mikey iria atrapalhá-lo se tinha percebido que o mais velho precisava ficar sozinho, mas, para a surpresa de Gerard, ao destrancar sua porta, Frank estava no apartamento.

1968; frerardOnde histórias criam vida. Descubra agora