五十九

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Felix estava apertando a campainha na maior agonia do mundo. Estava todo suado por ter corrido do metrô até a casa do mais velho, com o rosto inteiro vermelho e a respiração descompassada.

Já tinha jogado a mochila na porta de entrada e tirava sua jaqueta também para tomar um ar, sem parar nunca de apertar a campainha.

   Algo dentro de si gritava que o baixinho estava mal, talvez em perigo, desprotegido e sozinho. Estava começando a pensar na possibilidade de arrombar a porta e só entrar e, caso tivesse exagerado, escutaria suas reclamações com ele em seus braços e agradecendo por todos os xingamentos que ele proferiria.

   Mais do que nunca, gostaria de estar errado.

Finalmente a porta foi aberta por um garoto de cabelos pretos que nunca havia visto na vida. Ele esbanjava um sorriso daqueles dignos de comercial de pasta de dente, e mordeu o lábio enquanto encarava o estrangeiro de cima a baixo.

— Escuta, parceiro, meu horário ainda não acabou — Hyunki comentou, fazendo Yongbok olhá-lo estranhado.

Pensou, por um instante, que estava no lugar errado. Mas não tinha como, afinal, a caixa de correio tinha o nome Seo esbanjado em letras consideravelmente grandes.

— Preciso falar com Seo Changbin, pode chamá-lo por favor?

— Eu já falei, moleque, é meu horário agora — respondeu, em um tom um tanto quanto sugestivo. — Devia ter marcado antes.

— Como assim marcado? Ele é meu namorado.

— E ele não te disse com o que ele trabalha? — o mais velho arregalou os olhos, com um tom indignado. — Achei que normalmente putinhas contassem para seus namorados se precisam vadiar por dinheiro.

Felix mordeu sua bochecha, já cansado daquela história.

Quem era aquele cara? O que ele estava fazendo na casa de seu namorado? Por que ele tinha atendido a porta e não Changbin?

— Olha aqui seu merda — o mais novo começou, já perdendo a paciência. — Se você ousar chamar meu namorado de puta de novo eu vou cortar sus língua fora e fazer você engolir. Agora me da licença que eu não to com paciência pra essas brincadeiras sem graça.

Felix foi tentar passar, empurrando o cara à sua frente que era uns bons dez centímetros mais alto que si, mas foi parado por seu braço e empurrado de volta pra fora.

Naquele momento duas coisas ficaram ainda mais claras em sua mente: primeiramente, que aquele cara era um babaca, e segunda, que seu instinto estava certo e que Changbin estava sim mal do lado de dentro e impossibilitado de se comunicar.

   — Cara, se você abrir passagem pacificamente eu juro que eu não te meto o soco no estômago. Me dá licença — Felix alertou, tentando passar de novo.

   — E o que o magricela vai fazer? Me acertar um golpe de taekwondo?

   — Olha, essa seria uma ótima ideia — sorriu debochado, segurando-o pelo ombro e lhe acertando uma joelhada na boca do estômago. O mais alto perdeu todo o fôlego e começou a tossir, perdendo a força e cambaleando em caminho ao chão. — Mas kickboxing é mais efetivo.

   Yongbok ignorou o jovem que tentava recuperar a respiração enquanto se apoiava no batente da porta e apenas entrou na casa, procurando seu baixinho. Hyunki, mesmo achando ter fraturado uma costela de tanta dor, apenas ignorou-a e andou em direção ao mais novo, fazendo uma chave de braço bem apertada para que se asfixiasse.

   Felix jogou o peso do outro por cima de si, com uma facilidade surpreendente, fazendo-o cair na sua frente e batendo as costas em uma mesa de canto, derrubando alguns porta-retratos e um vaso de flores de plástico.

   — Felix? — o mais novo escutou a voz de Changbin, embriagada e trêmula, que levantava o olhar do sofá para o mais novo. As mãos e braços ainda amarrados atrás de seu pescoço e sem forças para deixar o sofá, as pernas bobas de medo. O rosto encharcado em lágrimas e sangue escorrendo dos seus lábios.

   Yongbok sentiu uma vontade enorme de continuar batendo no mais velho ali, chuta-lo no estômago e esmurrar sua cara até fazê-lo vomitar porque tudo pareceu se esclarecer – era aquele o desgraçado que havia abusado do amor da sua vida, e quem estava prestes a fazê-lo de novo.

   Mas, ignorando o jovem no chão que ainda não tinha se recuperado do golpe de autodefesa, correu até o namorado e se ajoelhou ao lado do sofá do mesmo, passando sua mão pela bochecha do baixinho e soltando seus pulsos e braços, que estavam com marcas vermelhas enormes e quase roxos pela falta de circulação de sangue. Deu um beijo em cada uma de suas mãos e juntou suas testas.

   — Esse desgraçado não te fez nada, fez? — perguntou baixinho, abraçando o menor.

   Mas então, algo aconteceu.

Um empurrão, um baque altíssimo, o cheiro de sangue sangue e o som de metal contra o chão de mármore.

@darkkingOnde histórias criam vida. Descubra agora