C A P I T U L O 5

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   Dispersei-me de minhas lembranças ao ver o rapaz trombar em meu ombro, andando na direção da porta e mostrando-me seu dedo do meio antes de finalmente ir embora. Soltei um suspiro extremamente aliviado e sentei-me em uma das cadeiras, apoiando as mãos em minha cabeça e revirando os olhos para as paredes, amaldiçoando-me pelo meu incrível poder de atrair pessoas inúteis ao meu redor. Era a minha sina, afinal. Eu era uma destas pessoas também.

 — Oi, sou Luke. — Dou um pequeno pulo da cadeira ao ouvir sua voz novamente e olho para cima, vendo-o estender a mão para mim. Ótimo, estava lidando com um louco. — Você tem um temperamento incrível e é muito bonita. Obrigada por pagar minha dívida e me perdoe por ser rude. — Sinto sinceridade em sua voz, mas não o suficiente para estender a mão de volta.

— Sou Callie e não lhe fiz um favor. — Ergui uma sobrancelha. Mas tentar ser durona a aquela altura faria de mim a pessoa mais estressada do Texas, e eu não queria ter tal fama. Então, estendi minha mão para com a sua e apertei em um cumprimento breve, mas fúnebre. — Devia tomar cuidado com quem se mete, Luke. Pode acabar prejudicando outras pessoas. — Olhei-o com desafio no olhar, notando em sua expressão que havia entendido o paralelo de minha afirmação.

— Não comprei nada além de maconha, e nem mesmo era pra mim. — Ele se senta ao meu lado, deixando-me abismada com a intimidade que achara ter comigo. — Meu tio está em seu melhor temperamento quando está fora de órbita. Eu gosto de seu humor quando está fora de órbita, porque odeio seus gritos, — dou uma leve risada, realmente sentindo a semelhança entre as situações —, e a maconha é sua melhor amiga, deixando seu temperamento bom a ponto de ter que fazer dívidas por ele.

— Saia de casa. — Breve e ríspida, viro-me em sua direção e apoio um de meus braços na mesa. — Não é sua obrigação colocar sua cabeça em risco por conta de um mala. E nem o meu emprego. — Sua risada baixa faz-me questionar da maneira em que vive em sua casa, e se não tinha como pagar as drogas de seu tio, também não tinha como sair de casa.

— Você é engraçada, Callie. Estranha, mas engraçada. — A forma como estranhou minha habitualidade conquistou certa simpatia de mim, e era o máximo que muitas pessoas conseguiam de mim.

 Conversei com Luke durante alguns minutos, que foram o suficiente para perceber que era um garoto com a cabeça fodida e um rebelde com causa. Era confortante saber que o Texas era um abrigo para indivíduos sem esperança alguma sobre o futuro, mas com a mente evoluída a ponto de ainda esperar alguma coisa, seja ela boa ou ruim. Conversando com aquele estranho, pensei na possibilidade de conhecer outras pessoas que fossem como nós, travando guerras internas que não faziam ideia de como e quando terminariam a batalha. E durante a minha caminhada de volta para casa, pensei em minha mãe. Pensei se ela ainda estava lutando dentro de si mesma e no que eu poderia fazer para tirá-la daquele campo de batalha. Pensei também no monstro que assombrava minhas noites, e lembrei-me de tudo o que passara por sua causa.

   Pensei na guerra que eu precisava causar, pois ansiava por respostas e por um alívio eminente em relação ás minhas feridas. Pensei, principalmente, em uma iniciativa para tudo isto acontecer. E ia acontecer, era a minha única certeza.

Blood Hands (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora