C A P I T U L O 1 7

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Dormir fora um dos maiores desafios de minha vida após a tensão e melancolia instalada no cômodo, consequência da conversa que Luke e eu tivemos. Deitar ao seu lado tornou-se um dos grandes prazeres vergonhosos de minha lista, pois seu cheiro era formidável e o breve contato de sua pele fazia-me ansiar por sua proximidade de modo constante. Amantes passaram por minha cama diversas vezes. A pele e o calor de cada um havia feito com que arrepios crescessem por minha espinha durante um longo tempo. A dependência por sexo era um de meus maiores pecados, e eu nem mesmo me sentia culpada por isso. Uma mulher gostar de sexo é como um peixe gostar de água, tão natural quanto.

A noite era fria, mais fria do que me lembrava ser o dia. A procura por conforto agoniava todo o meu corpo e a maneira como o rapaz era espaçoso estressava-me imediatamente, e precisei levantar para perambular por todo o quarto. Caminhar era um exercício que acalmava minha mente perturbada, e ir para fora do ambiente não era minha primeira opção. Não sabia o que encontrar lá e não estava apta a arriscar.

O discreto barulho que ouvia do lado de fora do quarto arrancou toda a minha atenção, e imaginei ser algum frequentante de quartos próximos. E quando o barulho transferiu-se lentamente para a nossa porta, o estado de alerta me atingiu como um raio. Precisei pensar com toda a minha rapidez noturna e me escondi ao lado da porta, impedindo que meus pés ficassem visíveis na brecha acessível para quem quer que estivesse ali. Inclinei meu corpo com cuidado, checando meticulosamente qualquer sinal feito por mim. Precisava manter o cuidado e a sanidade. Tudo o que passou por minha cabeça foi olhar pela fechadura o que se passava do lado oposto, e uma figura encapuzada em tentativas falhas de abrir a porta sem fazer o mínimo barulho fora tudo o que aparecera em meu campo de visão.

- Droga. Droga. Droga.- Repeti diversas vezes com os sussurros mais baixos que minha boca permitia-se soltar, e com cautela, andei até a cama onde Luke dormia tranquilamente.- Acorda.- Os sussurros não cessaram, mas agora eram em seu ouvido. Subi em cima do rapaz e sentei ali, colocando a mão em sua boca e o balançando com a outra. O que recebi foi um Luke assustado e com olhos arregalados em confusão, pedindo por respostas e um quase desespero. Para alerta-lo, indiquei com o dedo que fizesse o máximo de silêncio possível e apontei para a porta, onde o barulho tornara-se mais alto e violento. Imediatamente, Luke entende meu recado e nos levantamos juntos, procurando por meios de escapar dali.

- No banheiro tem uma grande janela- Luke segura em meus ombros, solicitando meu estado de alerta -, vá até lá e veja se o acesso é viável para pularmos e jogarmos as malas. Rápido.- Assim, retirei os chinelos que usava e corri até o banheiro, subindo em cima do vaso sanitário e olhando para o lado de fora. O alívio tomara conta de todo o meu corpo ao ver uma saída de emergência, e não seria de todo mal pular dali e sair com uma leve dor nas pernas. - O que conseguiu?- Ele aparece de soslaio dentro do toalete, com seus braços suportando o peso de todas as malas e objetos deixados para trás. Peço-o para colocá-las no chão e guardo o necessário ali, pegando do banheiro alguns objetos que nos seriam úteis.

- Estamos em um hotel horrível, com um desconhecido tentando entrar e a estrutura é lamentável.- Olho para Luke ao vê-lo questionar o apanhamento dos objetos.- Merecemos, no mínimo, isto.- O tom baixo de minha voz mostrava o cuidado que estava tendo, pois não sabia o tipo de ameaça que estávamos enfrentando.

As fugas que encarei em toda a minha vida foram o suficiente para me ensinar tudo o que precisava saber, mas o nervosismo que minhas mãos trêmulas demonstravam induziu-me a cobrar tanto de mim, que joguei as malas pela janela em uma rapidez assustadora. Luke trancou a porta do banheiro ao notar que a do quarto havia finalmente sido aberta, e seus gritos de pressa invadiram meu ouvido. Naquele instante, a porta do banheiro era forçada e uma Callie apressada e nervosa pulava uma grande janela, esperando um trágico capaz pular em seguida. As malas eram pesadas, o tempo era congelante, e a força que encontrei em meus braços para carregar parte da bagagem até o carro fora encontrada no momento em que notei uma silhueta misteriosa correndo atrás de nós com uma arma em suas mãos.

- Ele está armado!- Grito para Luke, que estava a poucos passos a minha frente e olhara para trás, jogando duas malas de roupas no chão e me incentivando a fazer o mesmo. E eu o fiz, tomando impulso para correr rápido e alcançar o carro a tempo. Ao adentrar, a euforia era clara e tomei o controle, balbuciando a chave entre a sua entrada e abaixando a cabeça quando um tiro acertou o vidro de trás.

- Porra, isso sairá caro para consertar.- Meu parceiro tinha uma arma camuflada em seu banco, e só notei a gravidade do problema quando coloquei o pé na marcha e Luke tinha seu vidro aberto e metade de seu corpo para fora, atirando sem sucesso no indivíduo, que agora nos apresentava ameaça.

- Droga, Luke.- Meu tom era alto demais e a adrenalina em minhas veias fazia com que o carro andasse em uma velocidade elevada.- Que merda foi essa?- Perguntei para o nada, achando que o universo fosse me dar respostas. Lukas parecia estressado e a arma em seu colo brilhava com a luz da lua, fazendo-me admirar a beleza do objeto. A velocidade foi diminuída ao notar o quão longe estávamos do hotel, e a dúvida explodia a cabeça das duas pessoas presentes ali no carro.- Estamos caçando e acabamos sendo caçados?- A conclusão chega em minha mente de imediato e não consigo evitar rir, com toda a minha garganta. Encostei o carro em um canto da estrada escura e vazia, e meus risos tomavam conta de todo o ambiente. Luke ria ao meu lado, olhando para mim com indignação e admiração. Duvidava que em algum momento de sua vida, alguém riu com ele sobre vida e morte. Quase fomos mortos, capturados ou assaltados, e aquilo parecia engraçado demais para deixar passar. Afinal, estávamos naquele hotel para matar alguém.

A vida nos pegara com uma ironia fulminante, e olhei para os céus agradecendo a movimentação que havia me proporcionado. Se Deus havia tentado me pregar peças, tudo o que me oferecera fora um longo e quase fatal momento de diversão. E era apenas o começo.

Blood Hands (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora