Existem maneiras esplêndidas de começar o dia. Você pode abrir os olhos, reparar ao redor e respirar fundo, inalando todo o ar que lhe rodeia. Você pode simplesmente não levantar de sua cama, e era a melhor forma, para mim.
De forma honesta e contundente, meu humor possuía a melhor de sua variação nos instantes em que eu permanecia em minha cama, observando as estrelas e fazendo de conta ser uma delas. Em minha imaginação, eu era a mais brilhante de todas e fazia o céu brilhar de maneira única, tendo a capacidade de iluminar a noite de pessoas que eu sequer conhecia, mas ficara feliz em apenas mentalizar tais momentos. Também era bom para, perceber, enfim, que havia uma beleza única dentro de mim.
Mas na manhã de terça-feira, daquele dia de Outubro, decidi não permanecer em minha cama. Estava inquieta por algum motivo. Me senti sagaz o suficiente para construir uma casa, e estranhei tal sentimento, pois nunca o tinha. Meus dias eram ligados em um modo automático que passara a me acompanhar em cada segundo, sendo meu fiel companheiro e melhor amigo. Não é deprimente como parece, tenho amigos. Entretanto, era extremamente difícil encontrar alguém que acompanhasse meu humor, meus costumes, meus gostos.
Certa vez, tive um amigo em minha infância. Seu nome era Mark, e ele era um sonho. Mark tinha o costume de sentar-se em seu gramado e esparramar suas mãos pela terra de alguns buracos presentes no lugar, e segundo ele, a sensação de sentir os grãos de terra no meio de seus dedos era como tocar pequenas partes da galáxia, e eu o chamava de louco por isso. No final das contas, eu era louca por não entender seu paradoxo. Não estava no direito de julgar nada, pois eu era tão estranha quanto ele. Tão estranha, que, sugeri brincar no escorregador de seu quintal. Mas tenho quase a total certeza de que Mark não entendeu que não era para escorregar, e sim para voar. Ora, cada um com sua maluquice. Acreditei que ele poderia voar com sucesso, mas o único resultado foram ossos quebrados e hematomas que lhe dei ao o empurrar do topo do escorregador. Logo após, sua mãe imediatamente mudou-se de vizinhança, para bem longe de mim. Acredito que Mark não tenha sentido tanto pelo ocorrido, mas seus pais nunca entenderiam o sentido de nossas brincadeiras. Perdi o único amigo que eu poderia empurrar de uma altitude considerável e me lamentei por longas quatro horas.
Tchau tchau, Mark!
— Mãe, hoje é dia de lavar a roupa. — Ao me levantar, lembro-me de minhas obrigações básicas, e sabia que hoje era dia de lavar a roupa, pois minha mãe nunca se lembrava, e alguém teria que manter a ordem. Mas a ordem não estava estabelecida naquele dia, pois gritar minha mãe várias vezes não fora o suficiente para obter uma resposta, e foi aí que quase me apavorei.
Quase.
Entrei em seu quarto meticulosamente e respirei fundo antes de acender a luz, pois tinha a sensação de que não encontraria nada ali. Nem roupas para lavar, nem minha mãe para chamar.
E foi exatamente com o que me deparei ao acender a luz e adentrar completamente: nada. Foi quando decidi não me apavorar. Esperava tal atitude de Holiday Mulligan desde o dia que a ouvi me culpar pela sua desgraça a anos atrás, e me preparei para este momento tão cedo que precisei tornar-me uma mulher, e eu era uma mulher. Mas também notei que, ainda teria a minha mãe se houvesse gritado anos atrás, naquela cozinha prepotente e maldita. Ainda haviam momentos em que eu tinha o dever de me culpar, mesmo quando tinha total noção de que algumas coisas são incontroláveis, e que a vida pode ser uma vadia.
A atitude que tomei a seguir foi a mais aleatória de toda a minha vida.
— Jack, três rodadas. Encha o copo. — A maneira mais inteligente que encontrei de lidar com o abandono de minha mãe, fora indo até o bar do Jack. Jack era um senhor rechonchudo, que mal podia se segurar em seus próprios pés, mas que preparava um drinque como ninguém. Ele me socorrera em momentos que os deuses decidiram abandonar-me, e eu o agradeceria em meu leito de morte, brindando em seu nome no inferno. — Hoje é tudo por minha conta!
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Blood Hands (Concluído)
Mystery / ThrillerO Texas nunca foi o melhor lugar para se viver. Pelo menos para Callie, que morava ao lado de todos os seus demônios e traumas. Marcada por abusos sexuais e abandonos, ela decide se vingar. Mas não contava com a presença de Luke, que decide prossegu...