C A P I T U L O 1 4

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Estive andando insistentemente por toda a sala da casa de Luke, de um lado para o outro, com uma mão em meu queixo e uma pulga atrás da orelha. Havia chegado ali com as solas de meus pés em um estado deplorável, e quase me convenci de que descansar em sua confortável cama seria necessário por algumas horas. Mas ao ver o garoto despojadamente sentado em seu sofá, com seus cabelos molhados, uma camiseta branca e um jeans surrado, senti-me incomodada com a beleza irritante do garoto, e o palito de dente brincando entre seus lábios contribuía para que eu questionasse todo o resquício de sanidade dentro de mim, e estava próxima de sair correndo para a minha casa que naquele momento ardia como o fogo do inferno.

- Parece que está prestes a enlouquecer. - Luke diz me analisando da cabeça aos pés, e a lufada de ar que solto o faz rir tão descaradamente que desejei pular em seu colo e o enforcar até a morte. Ou o matar de outra maneira, que consistia em benefício mútuo. - Sente-se e vamos elaborar o plano. Está me matando de curiosidade. - A coincidência em sua fala me faz o olhar incrédula, para então me sentar ao seu lado, mantendo uma distância segura. Quando finalmente olho para Luke, sinto-me na obrigação de o alertar sobre onde e com o que estava se metendo.

- Antes de qualquer coisa ser planejada, - respiro fundo fundo e acumulo toda a coragem que possuía dentro de mim, pois ouvir toda a historia em voz alta fazia parecer com que o mundo fosse cair sobre meus ombros e meus ouvidos me crucificavam por serem torturados com minha própria voz sentenciando todo o meu sofrimento, de novo e de novo -, preciso que saiba meus motivos.- Luke segura minha mão, encorajando-me a prosseguir com minha fala, e o aperto de seus dedos fez com que meu coração enchesse de bravura.

- Estou aqui e irei matar um homem com você. - A forma como sua frase foi dita arrancou uma careta de mim e sua risada deu um tom divertido para a mais trágica das situações.- Seja lá o que tenha para dizer, diga. Deixe que saia e não sinta remorso por nada.- E então, as palavras saem de mim, sílaba por sílaba, letra por letra.

- Billy me estuprou...- Vacilo a voz após o confessar, e o abraço que estava prestes a me dar fora cortado por minha mão, que deixava claro que consolo não era o que eu precisava, mas que eu sabia que estava ali por mim. - Eu estava no auge da infância, e então... aconteceu. Mamãe descobriu de uma forma grotesca e desde então me tratou mal. - Balanço a cabeça negativamente, recordando-me dos momentos em que fui culpada por minha própria mãe e até mesmo agredida. Sua raiva tornou o processo de superação a coisa mais difícil depois do ocorrido, e eu sentia que nunca seria a mesma. Ouvia seu choro durante a madrugada e suas palavras amaldiçoarem Billy, não se esquecendo de me amaldiçoar também. Algo no fundo de sua mente a convencia de que eu teria feito algo para o impedir, mas a força de meu coração e a força de minhas mãos não foram capazes de o fazer recuar nem por um mísero instante, e contar para Luke o desenrolar da história fez com que o rapaz chorasse em minha frente, tão livremente que quis desfazer cada fala dos últimos minutos.- Ele tirou minha inocência, tirou minha mãe e logo após, tirou Earl de mim.- Pensar em meu amado amigo fazia com que meus punhos apertassem em mágoa, e eu já nem sabia de onde a força vinha para mim.- Entende a necessidade que tenho de o fazer pagar?

- Entendo que precisa do sangue dele derramado como garantia de que ele nunca mais fará nada de ruim contra você,- Luke se levanta, indo até o primeiro degrau de sua escada e olhando para mim em seguida-, e também entendo que não passarei nem mais um instante sem que eu te ajude a mover estas montanhas. Estou indo embalar minhas coisas, Callie. - Ele aponta para mim, arqueando a sobrancelha em seguida e intensificando seu tom de voz.- E nós sujaremos nossas mãos com o sangue deste maldito.- Senti meu coração arder com a primeira sensação boa que senti em tempos, tornando cada vez mais fácil ter Luke ao meu lado e a sua convicção natural para tornar tudo mais violento.

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- Daremos início aqui.- Aponto para um dos pontos vermelhos desenhados em um mapa de Sulphur Springs, que insisti para que fosse nossa base de busca e apreensão. Circulamos a localização da casa de Billy, que me lembrava perfeitamente desde minha infância. Posteriormente, o posto de gasolina onde Billy frequentara tranquilamente sem preocupações com a polícia fora circulado. O bar de Jack tornou-se um alvo conjunto, e o cemitério onde Earl estava enterrado não passara despercebido. Surpreendentemente, Luke possuía um mapa que nos guiaria por todo o Texas, e o orgulho que senti de meu parceiro fez com que depositasse beijos espontâneos em sua bochecha. - Cada passo que ele der, será uma tortura para ele sequer estar vivo.
- Por que estes lugares, especificamente? - Luke exala toda a sua curiosidade e olho diretamente para seus olhos, enxergando ali uma ponta de entusiasmo em saber até onde eu era capaz de ir.
- Billy passará em sua casa para pegar alguns de seus bens, se for fugir. Acredito que ele não seja esperto o suficiente para desconfiar que não só a polícia está atrás dele. - Encosto-me no sofá, empurrando para o lado a bagunça presente no chão e respiro fundo, olhando para o teto para pensar com exatidão. - Ele sabe que no posto de gasolina não irá atrair desconfiança, pois foi lá tranquilamente e de maneira natural. Lá ele é conhecido e possui pessoas de confiança. - Viro a cabeça para Luke, notando seu imenso interesse. - Por fim, Luke, - ressalto a precisão de toda a sua atenção naquele momento -, ele é um safado. Porém, um amador. Ele me violou e voltou para o lugar onde o fez. Ele voltará para o local do crime. - Refiro-me ao bar de Jack. - E irá conferir seu serviço, indo até o cemitério. Nosso trabalho? Fazer com que sua jornada daqui em diante seja um verdadeiro inferno, antes de mandar sua alma para lá definitivamente.

Blood Hands (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora