Começando do começo, o melhor jeito de começar.

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  - Amanda, você vai se atra... – começou Carol.

 Porém, a me ver já de pé, vestida e pegando minha mochila, ela parou e sorriu, sem graça.

  - O que é que você quer? – perguntei rispidamente.

 Sim. Eu sou um pedaço de cavalo. Dane-se! Sabe aquele ditado de “Não mime seus filhos demais, ou eles vão crescer e se tornar pessoas horríveis”? Eu sou a pessoa horrível formada por mimos desnecessários. Tudo bem, não é verdade. Eu sou uma pessoa muito boa, porém, eu tenho um irmão gêmeo. É, não faz sentido para quem vê de fora.

 O problema é: meu irmão gêmeo é irritante de tão perfeito. Ele é lindo, ele é inteligente, ele é carismático... Não, não tenho inveja dele. Eu sou isso tudo também. E não é falta de modéstia! Eu simplesmente nasci assim. Porém, desde que nasci, todos repetem sempre que somos parecidos. Sempre. E eu cansei de ser parecida. Cansei de ser a filha perfeita. Então, me inspirei no meu pai. Genial, mas um bruto clássico, ele tem uma personalidade, no mínimo, difícil. E adivinha quem resolveu copiar essa personalidade?

 Se você não conseguiu adivinhar, tenho que lhe alertar da sua falta de capacidade de raciocínio lógico. Eu estou narrando a história, anta! E estou me apresentando. Mas que coisa. Enfim, o que aconteceu é que, desde os meus doze anos, tenho agido como o meu pai na maioria dos aspectos. Tem coisas que ele faz que nem mesmo eu seria capaz de copiar. Voltando à minha vida, Caroline, a governanta da casa (não me pergunte por que ainda não demitimos essa mulher) estava completamente sem graça.

  - O que você ainda está fazendo aqui? – perguntei, lhe lançando um olhar de “vá embora ou morra”.

 Ela rapidamente se desculpou e saiu. Permiti-me sentir pena dela por alguns momentos, até finalmente me olhar no espelho. Eu sei, não existe, no mundo, nada mais “modinha” do que tachinhas. Porém, cá estou eu, com uma calça rasgada e cheia delas. O uniforme do colégio está por baixo do moletom preto que eu uso e devo agradecer a Deus pelo clima frio. Minha basqueteira vermelha completava o visual e não, eu não tenho culpa se o que eu gosto é coerente com o grupo social de roqueiros, mesmo que eu não tenha nada contra eles, sendo eu eclética. 

  - Bom dia irmãzinha linda. – disse Rafael, me puxando para um abraço quando eu saí do meu quarto.

  - Sai daqui. – reclamei enquanto me contorcia para sair de seu abraço.

  - Vou fingir que você confessou ardentemente seu amor por mim e eu lhe recusei porque incesto é proibido. – ele riu, enquanto bagunçava meu cabelo moreno.

  - Faça o que quiser. – falei enquanto finalmente me soltava dele e descia as escadas.

 Sim! Eu sou rica. É um fato que eu me esqueci de mencionar... Meu pai é um gênio, lembra? Ele construiu a própria empresa do zero e casou com minha mãe, que é advogada. Romance sem sal e sem açúcar esse, não é? Pois é. O incrível é que minha mãe é a pessoa mais legal e bem-humorada do mundo. Chega a ser irritante. Eu sou uma pessoa facilmente irritável, você percebeu? Não? Como existem pessoas burras nesse mundo. Não sei por que ainda me surpreendo.

   - Bom dia. – falei, ao entrar na sala de refeições e sentar ao lado da minha mãe.

  - Bom dia, meu amor. – ela me sorriu gentilmente – Como você dormiu?

  - Bem. – falei, enquanto me servia.

  - Vamos logo, vocês vão se atrasar. – disse meu pai enquanto entrava na cozinha ajeitando a gravata.

 O homem é dono de uma empresa, com mestrado em sistema de informação, mas é doente mental ao ponto de não saber dar um nó na gravata. Acho que não existe uma pessoa inteligente nesse mundo. Exceto eu, é claro.

Perfeição É Para Os FracosOnde histórias criam vida. Descubra agora