🏡 Vizinho parte 3 || Imagine Coringa 🏡

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Eu adoro sabado, e principalmemte domingo, os dois são os meus dias favoritos. Nada de trabalho, nada de estresse e nada da minha mãe.

Todos os sábados e domingos ela saia de casa. Para onde? Eu não sei exatamente, mas deve ser algo relacionado a amigas dela da outra cidade. Nossas únicas amizades se encontram em Gotham. Aqui em Sweet City, quase ninguém gosta da gente, principalmente pelo fato de sermos de Gotham, talvez achem que somos malucas.

Mas eu gosto desse ódio, nunca me dei bem com vizinhos, são as pessoas que eu mais desconfio na vida, como podem ver. Talvez eu tenha pegado essa paranóia em Gotham, lá ninguém confia em ninguém, nem no seu próprio cachorro.

Minha mãe e eu nos mudamos pra cá porque queríamos silêncio, paz e tranquilidade. Ela tem isso, mas com esse novo vizinho eu não consigo nem dormir direito. Deve ser algo esquisito eu sei, mas não tem como não desconfiar de um cara com cicatrizes horríveis em sua face.

E agora que ele está amiguinho da minha mãe, eu tenho que tomar mais cuidado.

- E já se fazem 5 dias sem o famoso palhaço em Gotham City, teria Batman o matado, afinal? Será que isso pode significar o fim dos vilões?- Disse a jornalista na TV.

5 dias sem o Coringa em Gotham City, era muito estranho. Me perguntava aonde ele estaria agora, mas me lembrei que eu prometi não falar mais sobre isso.

Mudei de canal umas 300 vezes, e nada de interessante passava. Respirei fundo e olhei para o teto, achei uma teia de aranha e me lembrei de dar uma faxina geral nessa casa, não fazia isso a meses e minha mãe estava velha demais para serviços domésticos.

Eu não sei como, mas comecei a pensar no meu pai, aquele que nunca conheci. Mesmo tendo 31 anos, eu nunca me interessei por saber quem era. Minha mãe cuidou de mim desde meu nascimento, por que eu pensaria em alguém que nunca se importou comigo?

Sou interrompida de meus pensamentos por minha barriga que começou a roncar. Já eram 4:56 e eu não tinha comido quase nada, e eu não me lembro de comprar nada esses últimos dias.

Levantei do sofá e fui em direção a cozinha, pensei em fazer algo doce. Obviamente, fui procurar o açúcar, que eu escondia bem nos fundos do armário para que minha mãe não pegasse. Quando consegui pegar o pacote, o abrindo, não tinha mais nada lá dentro.

- Droga, esqueci de comprar açúcar...- Falei comigo mesma.

Morrendo de preguiça, peguei as chaves da casa e do meu carro. Como era sábado, só os supermercados principais estariam abertos, e eles eram muito longe.

Peguei minha carteira e fechei a porta, indo em direção ao meu carro. Entrei, tentei ligar e bem...Ele não ligava. Tentei de novo, e de novo, e de novo e...No final eu acabei deduzindo que ele estava quebrado. Isso não me surpreende, esse carro já deve ter 10 anos.

- Merda de carro!- Bati no volante, ligando a buzina diversas vezes.

Respeitei fundo, eu estava muito estressada esses últimos dias. Eu só queria um açúcar, é tão mal assim?

Uma ideia veio a minha mente. O vizinho, Jack, ele poderia me dar um pouco de açúcar.

- Não, não, não! De jeito nenhum eu vou pedir algo pra aquele cara!- Disse. Porém minha barriga roncando não concordou.

Então, relutante, eu acabei saindo do carro e indo em direção a casa do meu vizinho. Apertei a campainha, depois de alguns minutos ele abriu. Não consegui não olhar para as cicatrizes, elas me assombram.

Ele vestia uma camisa branca e uma calça de moletom, ambas manchadas de tinta, e ele também estava descalço.

- Ah, Oi. Tem como você me emprestar um pouquinho de açúcar? Não tem mais lá em casa e o meu carro quebrou, só pra melhorar minha situação.- Fiz uma cara de pidona envergonhada.

- Entra.- Entrou na casa, me deixando sozinha na sala e indo até a cozinha.

A casa era muito bem arrumada, e estava rodeada de quadros bem esquisitos. No meio da sala, tinha um quadro pintado ao meio e uma cadeira, com uma paleta de tinta.

Minha curiosidade estava muito grande, e não pude evitar olhar o quadro que ele estava fazendo. Me aproximei e vi o quadro melhor, e para minha surpresa, era eu quem estava lá. Olhei confusa para ele.

Era eu olhando para frente, com uma cara séria. Usava minhas roupas de trabalho com meu cabelo preso e usava um batom bastante vermelho. Me aproximei melhor para ver as cores esquisitas que ele usava, minha pele era um pouco cinza, combinando com meu terno, e a paleta de cores era pastéis, com um verde esquisito, marrom e azul. O fundo tinha a mesma cor que o batom, um vermelho forte.

Toquei em meus lábios no quadro, e uma gosma vermelha grudou em meus dedos, fazendo um fio entre o quadro e meu dedo indicador. Fiz uma cara de nojo e analisei a tinta. Era gosmenta e tinha cor de sangue, os artistas escolhem cores bem esquisitas para se expressar.

Esfreguei a tinta na minha calça e me afastei. Jack estava bem na minha frente, com uma xícara nas mãos.

- Você é bem curiosa mesmo, né?- Perguntou.

- Me desculpe eu...Espera, por que você está fazendo um quadro com a minha cara? Sabia que isso é muito esquisito?- Perguntei também.

- Não gostou? É bem difícil pintar a sua expressão, até agora eu só a vi com uma cara séria e de raiva.- Falou normalmente.

- Você pintava um quadro com a cara dos seus últimos vizinhos também?- Perguntei.

Ele não me respondeu, apenas deu um suspiro e me entregou a xícara.

- Aceito suas desculpas se você me deixar fazer um auto retrato decente de você um dia desses.- falou.- Se não aceitar, eu pego o açúcar de volta.

Extorsão.

Minha barriga respondeu sozinha, roncando.

- Tá bom.- Falei.- Mas essa é a última vez que quero ver você me pintando por aí.

- Eu não prometo nada.- disse.- Te vejo amanhã a noite?

- Amanhã a noite, certo.- Falo e vou andando até a porta.- Obrigada.

Não me respondeu novamente. Saí de lá o mais rápido, eu sabia que ele era esquisito. Não vejo a hora de falar isso para a minha mãe.

Bem, pelo menos eu consegui o açúcar, e um auto retrato meu.


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