Back to Avonlea • Shirbert

eleven

Diana Barry

Quando conheci Anne Shirley-Cuthbert prometemos amar e confiar uma na outra, mas aparentemente ela não se importa tanto com isso.

Faz dois dias que não conversamos, estou brava, completamente brava. Descobri que ela e Blythe andavam se encontrando e Anne simplesmente decidiu não me contar, talvez eu não seja realmente sua melhor amiga como imaginei.

Não estou assim porque ela está saindo com ele e estão praticamente namorando, sempre soube que gostavam um do outro, o problema é Anne não ter me contado, que tipo de amiga faz isso? Eu não era sua amiga do peito?

Termino de amarrar o laço azul em meus cabelos, passo a mão pelo meu vestido, conferindo se não está amassado, certo, tudo pronto. Pego a cesta e os livros, dou um beijo na bochecha da mamãe, me despeço de Minnie May e começo a caminhar para o colégio.

O que devo fazer quando encontrá-la? E quando nos sentarmos juntas? Devo ignorá-la o dia inteiro? Isso certamente será cansativo.

Há tantas coisas que desejo contar à ela, o modo como ele me olha e me faz ficar extremamente vermelha e envergonhada - de um jeito bom - ou como acho que estou me apaixonando por alguém que não deveria, por exemplo.

Encaro o colégio, certamente já foi mais bonito, respiro fundo e começo a andar em direção à construção.

Decido me sentar com Ruby, uma carteira atrás do meu lugar, observo atentamente cada um que chega; Charlie está radiante como sempre, Jane parece confusa com a minha troca de lugar repentina mas não fala nada, Billy continua extremamente quieto, todos começam a entrar quando o sinal toca e Anne e Cole chegam quando a sala já está praticamente cheia, ela me olha, depois olha para Ruby e para nosso lugar, então desvia o olhar e vai se sentar com Cole.

"O que aconteceu?" pergunta Ruby.
"Com o que?" fingi não saber do que se tratava.
"Com vocês" apontou disfarçadamente para o outro lado da sala mas não precisei olhar para saber de quem se tratava "Você e Anne"
"Nada demais, besteira" menti, não poderia contar aquilo à Ruby, acabaria com ela.
"Tem certeza?" indagou, fiz que sim com a cabeça e tratei de me concentrar na aula antes de falar alguma besteira

•••••

"O que acharam do livro?" Srta. Stancy perguntou, havíamos acabado de ler Romeu & Julieta na aula de literatura; todos ficaram em silêncio "O que aconteceu com vocês? Anne?" sugeriu a professora "Diga-nos o que achou"
"Essa certamente é uma história de amor trágico, porém e linda" sorriu de lado "Romeu e Julieta se amavam tanto que preferiam morrer a ter que viverem um sem o outro"
"Incrível" a professora elogiou "Mais alguém?" por puro impulso levantei a mão "Diana"
"Romeu e Julieta não se amavam"
"Claro que se amavam" Anne exclamou do outro lado da sala.
"Eles se conheciam há três dias!" respondi.
"Amor à primeira vista!" rebateu.
"Isso não existe!"

E lá estava Diana Barry, a menina perfeita que aceita tudo e nunca perde a paciência, perdendo o controle.

"Existe sim!"
"Não, não exite. E Julieta não amava Romeu, ela era uma mentirosa" acusei.
"Diana!" Cole exclama.
"Cole!" eu e Anne falamos ao mesmo tempo e nos encaramos.
"Ela está certa, Cole, Julieta era uma mentirosa" disse por fim e tenho certeza de que não falávamos sobre o livro.
"Hm, certo. Isso foi... Intenso" Srta. Stancy quebra o clima pesado que havia se instalado na sala "Estão liberados"

Me levantei e comecei a arrumar minhas coisas; juntei os livros rapidamente, queria sair dali assim que possível.

"Vocês duas não" a voz da professora me fez acordar de meus devaneios, mas não precisei olhar para saber para quem ela apontava.

Ela se certificou de que todos haviam ido embora para conversar conosco e isso estava me preocupando.

"O que foi aquilo? Sei muito bem que não falavam sobre o livro lá dentro e eu nem vou perguntar o porquê. Mas não aceito que briguem na minha aula por seja lá o que tenha acontecido, resolvam isso lá fora, não quero brigas aqui, estamos entendidas?" disse tudo extremamente séria.
"Sim, senhorita Stancy" concordamos.
"Ótimo, estão liberadas"

Eu e a ruiva saímos juntas do colégio em silêncio absoluto e ela não parecia nem um pouco afim de terminar com isso.

"Anne, me desculpa eu..." comecei mas fui interrompida pela mesma.
"Não precisa se desculpar" respondeu sem me olhar e eu me senti péssima, que tipo de amiga eu era, afinal?
"

Preciso sim, eu fiquei brava por besteira, você tem todo o direito de querer manter isso em segredo, eu fui uma tola, sinto muito" parei de caminhar e toquei seu ombro, ficamos uma de frente para a outra.
"Você contou à ela?" perguntou, seus olhos estavam marejados, isso me quebrou; como pude fazer isso com a minha melhor amiga?
"O que?" perguntei confusa.
"Você contou à Ruby que eu e o Gilbert nos beijamos?" perguntou novamente.
"Não, eu não... Claro que não, Anne, você ainda é minha melhor amiga, eu jamais faria algo assim com você" garanti "Então..." respirei fundo, estava preocupada com a sua resposta "Estamos bem?"
"É, estamos" sorriu e acabei sorrindo também.
"Senti sua falta" admiti mesmo que ela já soubesse disso.
"Achei que já tinha sido trocada" murmurou.
"Nunca!" neguei "Você é minha amiga do peito" sorri.
"Também senti sua falta" ela me abraçou, Anne sorria e eu tinha certeza de que também estava radiante.
"Tenho tanto para lhe contar" comentei como quem não quer nada.
"Ah, eu também, inúmeras novidades. Mas por favor, Diana, comece. Anseio por suas histórias sobre tal garoto encantador que roubou seu coração"
"Como você...?" parei de falar no meio da frase, como ela sabia que havia um garoto extremamente encantador havia?
"Seus olhos brilham sempre que falamos com ou sobre ele" arqueei a sombrancelha "Jerry" ela respondeu como se fosse óbvio, meus olhos se arregalaram.
"Não! Nós não... Não daria certa" me enrolei na explicação "Tá, eu gosto um pouco dele" senti minhas bochechas esquentarem, Anne sorriu.
"Eu sei, ele gosta de você também. Sempre te compara à algo belo, mesmo que você não esteja por perto" a olhei surpresa "O melhor é que ele nem percebe!" ela ri animada.
"Não pense que vai ficar me zombando porque disso, quero saber toda essa história de você e Gilbert Blythe" sorrimos.

Tudo parecia ter voltado ao normal, como se nunca tivéssemos brigado.