eight

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Gilbert

Quando estava vivo papai costumava dizer que eu sempre deveria correr atrás do que quero, para sempre lutar por algo que achasse certo e nunca desistir.

Só mais tarde fui entender ao que ele se referia: amor. Acho que tinha medo que nunca encontrasse o amor verdadeiro, ou se encontrasse, não o deixasse ir.

Um tempo antes de morrer, me contou uma história, sua história. Durante sua juventude, papai foi apaixonado por uma garota, ela era inteligente, ruiva e mandona. Eles se amavam, mas essa garota terminou tudo pois precisava cuidar de sua mãe - que estava doente - e de seu irmão mais novo. Ele a deixou ir, pois a amava, e isso significava que ele estaria feliz com o que ela decidisse. Não lutou, e perdeu o amor de sua vida, já que após uns anos ela alegou estar 'velha demais para essas baboseiras de jovens'.

Sei que ele amou mamãe, mas não como amou Marilla. Marilla Cuthbert, a grande paixão de meu pai.

Talvez deixar os Blythe's confusos e apaixonados seja uma coisa das garotas Cuthbert.

A história parecia estar se repetindo, Anne estava me ignorando desde o beijo. Eu estava triste e confuso, não entendia - na verdade, não sabia - seus motivos. Tudo parecia bem entre nós pela primeira vez.

"Então, turma" Srta. Stancy chamou a atenção da turma "Quero que façam um texto sobre 'amor' como tarefa de casa" sorriu "Estamos lendo um romance trágico na aula de literatura, nada mais justo que honrar o tema que estamos estudando" disse e saiu da sala assim que o sinal tocou e foi em direção ao quartinho dos fundos.

"É uma pena que você não possa fazer o trabalho, Anne" Josie Pye disse em alto e bom som para que a sala toda escutasse "Você sabe, já que é órfã e viveu a vida inteira em um orfanato não deve saber o que é amor" sorriu cínica. achei que Anne iria enfrentá-la, como sempre faz, mas a ruiva pegou suas coisas rapidamente e saiu correndo.
"O que aconteceu?" Stra. Stacy entrou no cômodo "Por que Anne saiu correndo?"
"Josie disse coisas maldosas sobre ela" Christopher murmurou.
"Ninguém te perguntou, aberração" a garota respondeu ríspida.
"Josie Pye!" a professora ralhou.

Onde será que Anne estava?

"Precisamos encontrá-la" disse Ruby.
"Certo, onde ela pode estar?" Moody perguntou.
"Green Gables?" arriscou a professora.
"Ela não deixaria Matthew e Marilla a virem daquele jeito" Diana murmurou.
"A cabana?" Ruby tentou.
"Óbvio demais" Cole negou.
"Não tem mais nenhum lugar? O bosque? Tem que ter outro lugar!" me pronunciei pela primeira vez.

Mesmo que ela esteja me ignorando não deixei de me preocupar com ela.

Cole e Diana se encararam, pareciam conversar pelos olhares, até que ela soltou um "É nossa última opção".
"Não custa tentar" o garoto concordou.
"Onde vamos?" Ruby quis saber, aparentemente eu não era o único perdido nessa história toda.
"Praia" o amigo respondeu, simples.
"Praia? A do penhasco?" perguntou e eles fizeram que sim com a cabeça, todos os encaravam.

Penhasco? O que?

"Eu vou com vocês" disse firme.
"Melhor não, nós temos mais intimidade com ela, será mais fácil convencê-la" a morena negou "Srta. Stancy será que poderíamos...?" a garota não terminou de falar, pois foi interrompida pela professora.
"Claro, vão atrás dela" concordou e eles saíram correndo até a porta e desaparecendo de vista "E você" ela olhou diretamente para Josie "Pra minha sala. Agora, mocinha"

•••••

Estava no meio da floresta, sentado em uma pedra, com um lápis e um caderno na mão. Não estava conseguindo fazer o dever e pensei em sair de casa para pensar um pouco, respirar ar fresco e tentar colocar os pensamentos em ordem.

Como falaria sobre o amor? O que era o amor, de fato? Um presente que muitos não teriam a honra de receber? Uma fonte de felicidade e tristeza? Sacrifícios? Dores?

Suspirei e coloquei os materiais de lado, estava frustrado. Frustrado por ter chegado tão perto e perdido tudo rapidamente. Frustrado por achar que daria certo.

"Também não consegue fazer o trabalho?" a voz de Christopher me tirou de meus pensamentos.
"Não, e você?" ele negou com a cabeça "Como ela quer que a gente escreva sobre o amor se nunca amamos ninguém além de nossos parentes?"
"Tem certeza que nunca amou ninguém?" indagou e o olhei confuso "Vi como olha pra ela, a amiga do Cole, Anne"
"Por favor, não conte para ninguém" pedi.
"Contar? Eles já sabem" murmurou se sentando ao meu lado "Todos sabem"
"Como?" perguntei surpreso.
"Olhares, palavras, pequenos gestos..." suspirou "É bonito, inspirador. Me faz acreditar que ainda existem pessoas que se amam, que não se casam por dinheiro ou nome"
"Era bonito" corrigi "Acabou"
"Por que?"
"Não sei, ela apenas decidiu me ignorar" fui sincero "Estou lhe dando espaço, foi decisão dela"
"Ela ainda gosta de você" afirmou, e quando abri minha boca para argumentar ele falou antes "Não tente negar, ela gosta"
"É complicado" murmurei.
"Belos romances sempre são" concordou.
"Pensei que gostasse dela" admiti.
"Sério?" ele riu "Por isso me olhou daquele jeito quando cheguei? Ciúmes?" senti meu rosto queimar, estava envergonhado.
"Sinto muito"
"Não sinta" ele sorriu gentil "Ela não é meu tipo, se é o que queria saber"
"Como assim?" do que ele estava falando, afinal?
"Posso te contar um segredo? Já que estamos sendo sinceros"
"Claro"
"Sabe por que me mudei?" neguei "Tinha problemas, no outro colégio. Eu era diferente, de todos" ele sorriu triste, provavelmente se lembrando de algo.
"Por isso Josie te chamou de aberração?" perguntei "Oh meu deus, sinto muito" completei rápido ao perceber o que havia dito.
"Esta tudo bem. E sim, foi por isso. Não faço ideia de como ela descobriu"
"Ninguém nunca faz. E então..." ele me olhou curioso "Cole, hein?" ele riu e me deu um soco fraco no braço enquanto fazia um movimento com a cabeça.
"Não sei do que você está falando, nem o conheço" negou rindo, olhando para a floresta.
"Você mente muito mal" rimos "Eu tenho olhos, sabia?" ficamos conversando e rindo, aparentemente, tinha um novo amigo.


(por favor, me digam o que estão achando)

Back to Avonlea • ShirbertOnde histórias criam vida. Descubra agora