twelve; christmas special

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eu não pretendia postar mais nada esse ano mas acabei escrevendo algo e aí está um especial de natal, espero que gostem.

Gilbert

Fechei os olhos ao sentir o vento gélido em meu rosto, minhas mãos terminavam de abotoar o último botão de minha camisa; passei as mãos pela mesma, procurando algum amassado, precisava estar apresentável.

Eu deveria ter fechado essa janela, o vento bagunça meus cabelos que foram lenta e cuidadosamente arrumados e alinhados. Caminhei até ela e me perdi ao observar tal cena, pequena parte da neve já estava derretendo, as árvores estavam levemente brancas, ainda assim sem flores ou cores.

Eu gostava do inverno, era estranhamente reconfortante; adoro quando nossa fala ou respiração vira fumaça, sendo a prova de que há algo quente e vivo ali. Mas infelizmente acabaria logo, dando espaço a tão amada primavera, estação favorita da maioria, da maioria e dela.

Elas eram estranhamente parecidas, belas, alegres e vibrantes; tinham um modo próprio de animar tudo e todos a sua volta.

Anne poderia animar todos, mas no momento, eu não.

Desde o dia em que ela decidiu me ignorar e fingir que nada entre nós aconteceu eu decidi fazer o mesmo e parar de correr atrás de Anne Shirley-Cuthbert como se fosse algo que ela não necessariamente precisa, mas usa quando quer ou está entediada.

Faz mais ou menos três semanas desde a última vez que não nos falamos, nos comunicamos apenas quando é extremamente necessário, como nas aulas e jogos de soletração, decididos a ganhar.

Ando tentando encontrar formas de esquecê-la, ou modos para me distrair. Cheguei até a levar outra garota para casa e, embora saiba que isso é muito errado, colher flores para ela. Me pergunto se algum dia encontrarei alguém como Anne, pois por mais que eu esteja tentando agora, não consegui.

"Onde vai, Blythe? Quem é a garota de sorte?" Bash surge do além em meu quarto, me assustando.
"Céus, Bash! Está querendo me matar?" digo colocando a mão no peito, fazendo um pouco de drama, observo ele tentando segurar o riso.
"Eu? Jamais tentaria tal coisa, não depois de tudo o que fez por mim" ele sorri "Quando você chegou ao navio e ficava cantando aquelas músicas horrorosas, talvez" me provoca.
"O que? Minhas canções eram incríveis!" me defendo, embora esteja adorando isso.
"As músicas até poderiam ser boas, mas sua voz? Você realmente não tem talento para isso, fique com a carreira de médico mesmo, embora desmaie ao chegar perto de uma agulha" Bash solta uma gargalhada, na verdade, várias, ele ri tanto que está quase chorando.
"Isso é golpe baixo" digo fingindo irritação e virando o rosto ao deixar um sorrisinho escapar, para que ele não veja.
"Você está sorrindo! Sabe que estou certo" sei.
"Não! Você estar certo de algo é impossível"
"Eu estou certos sobre muitas coisas, principalmente a seu respeito..." não, não, não, não fale sobre ela. acho que a cara de pânico que eu - provavelmente - estava fazendo me entregou "Ei, o que aconteceu?"
"Nada demais" dei um sorriso forçado "Está tudo bem, é besteira"
"Tem certeza, garoto? Sabe que pode conversar comigo sobre isso, hm?" ele parecia preocupado, apenas fiz que sim com a cabeça "Certo, vou deixar você terminar de se arrumar para seja-lá-o-que-você-esteja-indo-fazer" ele sorri gentil e antes de sair me dá dois tapinhas nas costas, tenho certeza de que ele sabe onde eu vou e o que vou fazer.

Eu gosto de Bash, ele é parte da minha família agora, como um irmão mais velho que nunca tive ou um primo do qual sou bem próximo. Ele já passou por coisas horríveis simplesmente por ter uma cor de pele diferente e fico realmente feliz ao saber que ele arranjou alguém como a Mary para se casar e está construindo uma família com ela; acho que pelo menos uma vez na vida alguém precisa ter um amor como o deles.

Não deixo a oportunidade passar e começo a cantar em alto e bom som a música que ficava cantarolando todos os dias quando estávamos no navio, escuto a gargalhada alta de Bash e acabo sorrindo. Continuo cantarolando e me arrumando, batuco os dedos na mesa de madeira e balanço a cabeça no ritmo da melodia, a conversa com Bash realmente me animou e me encheu de energia no inverno gélido.

Pego os meus livros e abro na última página, leio tudo o que eu escrevi, penso seriamente se isso é algo bom para se dizer, ou simplesmente colocar por debaixo da porta dela e torcer para não haver nenhum erro gramatical. Arranco as folhas e desço para a sala, pego o meu casaco e coloco as anotações no bolso do mesmo.

"Mary, Bash, estou de saída" grito para avisá-los.
"Vai lá, Blythe, vai reconquistar sua garota" ele grita da cozinha "Aí" geme de dor após provavelmente ter levado um tapa da sua esposa.
"Obrigada, Mary" grito.
"De nada, querido" responde divertida.

Coloco o cachecol no pescoço, fecho o casaco, calço as botas e coloco as mãos nos bolsos para conferir se minhas anotações estão ali, certo, está tudo aqui. Respiro fundo ao fechar a porta atrás de mim, é, acho que estou pronto.

As árvores pareciam estar ainda mais bonitas de perto, assim como todo o resto.

"Oi, estou com saudades" tentei "Não, Gilbert, que coisa horrível" me repreendi.

Peguei a folha e a amassei, depois coloquei no bolso.

"Certo, vamos de novo" falei sozinho novamente "Você vai continuar me ignorando ou...?" sério Gilbert? é isso que você vai dizer a ela? "Droga"

Amassei mais uma folha.

"Precisamos resolver as coisas entre nós" revirei os olhos após terminar de dizer, parecia que eu estava desesperado!

Mais uma folha amassada em meu bolso.

"O que aconteceu com a gente? Numa hora estamos bem e em outra..." sou interrompido.
"Gilbert? Está falando com quem?" droga!

Respire fundo, Gilbert, agora não tem mais volta. Me viro para ela.

"Hm, oi?" o que eu devo fazer?
"Oi" ela sorri meio sem graça, sem saber o que fazer.

Paro para observá-la pela primeira vez nessa conversa; ela usa botas e meia calça, está com seu vestido marrom e um casaco, na mão há uma cesta coberta por um paninho, os cabelos ruivos e curtos estão soltos e as sardas e as bochechas vermelhas estão adoráveis.

"Por que está aqui falando sozinho? Achei que o papel de doida que fala com as árvores fosse meu" ela faz graça, acabo sorrindo.
"Na verdade, estava indo até Green Gables" eu estava nervoso, e Anne, surpresa.
"Sério? Eu estava indo até a sua casa" o que? "Precisamos conversar" concordo com a cabeça e a encaro, acabo me perdendo mais uma vez nos olhos de Anne Shirley-Cuthbert.

Back to Avonlea • ShirbertOnde histórias criam vida. Descubra agora