nine

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Anne

Corria como se minha vida dependesse disso, e talvez dependesse mesmo. Minhas pernas estavam doloridas e meus pulmões 'reclamavam' pela falta de ar, mas não parei.

Só parei de correr quando já estava na ponta do precipício, com o mar à minha frente. Lágrimas rolavam livremente pela minha face, e com elas, a dor e a humilhação.

Gosto de contemplar o horizonte e imaginar todas as possibilidades, a vida é curta e o mundo é grande, imagine a quantidade de coisas que podem acontecer.

Encaro o mar que está à minha frente mais uma vez, abro os braços e fecho os olhos. Respiro fundo, sentindo o cheiro do oceano me preencher por completo.

Começo a pensar no verdadeiro motivo de estar aqui. Desde que Cole machucou Billy e veio correndo para cá, esse tem sido nosso refúgio, um lugar para refletir e deixar nossos pensamentos nos guiar.

Talvez Josie Pye e as meninas do orfanato tenham razão e nunca serei amada, como alguém como eu receberia tal dádiva?

Será que um dia Gilbert será capaz de me amar? Oh, Gilbert... Parei de falar com ele e o garoto deve estar um poço de confusões, mas o que eu poderia fazer? Não posso arriscar minha amizade com Ruby, ela é completamente apaixonada por ele.

Balanço a cabeça, decidida a não pensar mais em Blythe e não ficar remoendo o que fiz, a decisão já havia sido tomada.

Matthew e Marilla, será que me amavam ou só estavam comigo por pena? Pena da pobre Anne Shirley, a órfã ruiva e sardenta.

Talvez todos apenas tivessem pena de mim.

"Anne!" me virei e vi meus amigos correndo em minha direção.
"Ficamos preocupados" Diana me abraçou e não pude evitar o choro que veio em seguida.
"Não ligue para Josie, ela não sabe o que diz" Ruby me abraça também.
"É claro que sabe, quem, em sã consciência, me amaria?" me afastei das meninas "Ninguém! Ninguém me amaria porque sou uma órfã, uma ridícula, ruiva" segurei uma mecha de meus cabelos horríveis "E sardenta. Eu sou horrível! E é por isso que ninguém me amaria" não me importei de segurar o choro.
"Não diga besteiras, Anne" Cole repreendeu "Você é uma garota incrível!"
"Não só por dentro, como por fora também" Diana concordou.
"E não há nada no mundo que nos fará mudar de ideia" Ruby concordou e os três me abraçaram.
"Eu amo vocês" disse, ainda no meio do abraço.
"Nós te amamos também" responderam.
"Nós, Matthew, Marilla, Jerry, tia Josephine..." Diana começou a listar, e então me encarou, como se quisesse dizer algo a mais, mas não disse.

Voltamos juntos, conversando e rindo. Sorri o caminho inteiro, pensando em como tinha sorte por ter amigos como eles, amigos que me apoiavam em tudo e confiavam em mim, agradeci mentalmente por tê-los em minha vida.

•••••

Eles passaram a tarde comigo em Green Gables, ao entardecer, Ruby e Cole já tinham ido, ficando apenas Diana e eu.

Decide acompanhá-la até o portão, é o mínimo que eu poderia fazer.

"Miss Barry" Jerry a cumprimentou com um movimento com a boina quando já estávamos perto do portão.
"Jerry" ela sorriu, acenando com a cabeça.
"Jerry" o chamei e ele pareceu despertar de um transe, parando de olhar minha amiga para me encarar "Está ficando tarde, poderia acompanhar a Diana até a casa dela?" pedi.
"Oui" ele assentiu "Vamos, senhorita?"
"Até amanhã, Anne" Diana se despediu e os observei caminhando, pareciam calmos, isso era maravilhoso, meus dois melhores amigos se dando bem.

Voltei para dentro e subi as escadas, precisava pensar.

Peguei o trabalho e comecei a escreve-lo, não pensei no texto inteiro, como sempre fazia, apenas comecei a escrever o que sentia e pensava, as palavras e frases saiam automaticamente.

Assim que terminei o texto, Marilla entrou no quarto.

"Por que chorava?" perguntou "Hoje cedo, quando chegou em casa"
"O mundo é um lugar cruel, não acha?" a olhei.
"Sim, sim. Vamos, Anne, me conte o que aconteceu" pediu, se sentando em minha cama, ao meu lado.
"É bobeira" menti, não queria que ela se preocupasse.
"Se te fez chorar, não é bobeira. Sabe que pode confiar em mim, não?" me olhou, suspirei.
"Srta. Stancy passou um trabalho, devemos escrever um texto sobre amor, já que estamos lendo Romeu e Julieta na aula de literatura, e..." respirei fundo, não querendo derramar mais qualquer lágrima por tal motivo "E me disseram que eu não poderia fazer o trabalho, já que nunca fui amada" sorri triste.
"Ah, criança" Marilla me abraçou "Não acredite nessas tolices, nós a amamos, Matthew e eu, e seus amigos. Te amamos muito, você alegrou a vida de todos quando se mudou para cá" sorri, um sorriso verdadeiro, e comecei a chorar.
"Eu te amo, Marilla" a abracei novamente.

•••••

"O amor é uma fraqueza, não acha?" perguntei de repente à Marilla, ela ainda estava no quarto conversando comigo.
"Acho que é um sentimento bonito, o mais forte, sem dúvidas" discordou.
"Se eles é tão bonito e forte, por quê nos faz sofrer?"
"Há mais alguma coisa que queira me contar, Anne?" perguntou calmamente, mordi o lábio inferior.
"Eu gosto de uma pessoa..." contei.
"E essa pessoa é Gilbert Blythe?" assenti e ela não pareceu surpresa.
"Mas eu não deveria gostar dele" continuei.
"Por que não?" indagou confusa.
"Ruby gosta dele" expliquei "Ela é completamente apaixonada por ele, e o viu primeiro, não posso acabar minha amizade por um garoto" suspirei.
"Você realmente gosta dele?" concordei com a cabeça "Então acho que ela entenderia, afinal, vocês são amigas. Não acho que ela terminaria a amizade por isso, pode demorar um pouco, mas ela vai entender"
"E tem mais" ela me olhou curiosa "Nós nos beijamos" disse rapidamente.
"Anne Shirley-Cuthbert!" exclamou "Como a senhorita só me conta uma coisa dessas agora?"
"Me desculpe, Marilla" murmurei.
"Está se desculpando pelo o quê? Isso é muito normal, na sua idade. Só queria que confiasse em mim para me contar tal coisas"
"Eu confio, Marilla, confio mesmo. Só achei que ficaria brava" admiti.
"Por isso? Não mesmo. Ainda mais como um menino bom como o Blythe" balançou a cabeça "Aparentemente eles têm esse dom"
"Eles quem? E que dom é esse?" perguntei confusa, e ela apenas sorriu.
"Isso é história para outro dia" e então ela se levantou e saiu, me deixando sozinha com dúvidas e pensamentos.

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A fanfic chegou a 5k de leituras e eu queria agradecer, isso não seria possível sem vocês. Muito obrigado.
Estou pensando em postar um cap especial para comemorar, querem pov de quem?
Lembrando que críticas e sugestões são sempre bem vindas.

Back to Avonlea • ShirbertOnde histórias criam vida. Descubra agora