Logo que desliguei queria ligar de novo. Só de conversar com ele ali... um pouco da dor se amenizou. Mas ainda estava doendo muito. Muito. A saudade doía. O desespero doía. A tristeza doía. A vontade de ver ele novamente, a vontade de ter ele ali novamente, tomando café comigo, me chamando de pikachu... doía. Não importa pra quem eu pedisse socorro, ninguém conseguiria entender o que eu sinto. Porque, por mais que alguém passe exatamente pelas mesmas coisas que você, em certas coisas só você pode entender completamente a sua dor. Você pode dividir com outras pessoas, mas não espere que essa pessoa saiba qual a sua dor e saiba exatamente como te ajudar, porque apenas você entende o que sente. Apenas você sabe de qual modo quer passar por isso. Suspirei e fui para a cozinha novamente, acho que agora já desceria alguma coisa. Peguei um cup noodles e esquentei. Me joguei no sofá assistindo um desenho qualquer, e meu celular vibrou no meu bolso. Meu coração descompassou ao ver o número.
- A...alô? -
- Anne Kakimori Carvalho? -
- Sim. -
- O corpo já está pronto. Precisamos que compareça a delegacia, por favor. -
- Ok... - Suspirei e desliguei o telefone. Que ótimo. Fui pro quarto e peguei uma roupa pra me trocar. Peguei as chaves e saí de casa.
- Boa tarde! Como está? - O homem da recepção perguntou
- Bem. Obrigada. - Sorri e fui para o ponto de táxi que ficava próximo do prédio. O táxi parou e um homem desceu
- Olá. Posso ajudar? -
- Sim. Delegacia, por favor. - Ele assentiu e entrou no carro. Fiz o mesmo. Ele parou e eu o paguei, desci do carro e entrei na recepção. - Boa tarde. Anne Kakimori Carvalho. Me chamaram. -
- Um minuto.- ele disse pegando o telefone e discando dois ou três números - Anne Kakimori Carvalho... ah, 2? ... Ok. Anne, pode me acompanhar. - ele disse e o segui até uma outra sala. Dessa vez uma mulher me atendeu.
- Annyeong. - Falei entrando
- Olá. Sente se. - Ela disse sorrindo e eu me sentei. Ela suspirou. - Anne, bem... nós já examinamos todo o corpo e ainda estamos trabalhando com as investigações, infelizmente, não tem muito mais coisas que nós possamos fazer, mas vamos fazer o possível. Você tem algum responsável ou algum outro parente por aqui? -
- Não, nossa família está no Brasil. Eu sou a única aqui até agora. -
- Hm... ok. - Nós ficamos debatendo sobre o corpo e ele será enterrado em três dias. Agora eu realmente estava ferrada. Acho que, se no mínimo minha mãe tiver alguma consideração, vai querer vir para Seul no enterro do meu pai, e vai ficar muito triste e magoada por eu não tê-la avisado. Ou ainda, vai querer me levar de volta para o Brasil, mas isso está fora de acordo. Não que eu tenha algo melhor para fazer aqui, mas eu tenho 1) Meus amigos, do qual, se algum dia eu tiver que me separar, vai ser muito difícil. 2) Minha faculdade, ainda tenho que me dedicar. 3) Já me acostumei com aqui. Não que isso seja importante, porque não seria a coisa mais difícil, mas realmente deixar a maravilhosa Seul vai ser complicado. Após a nossa longa conversa já eram seis horas. Amanhã tinha faculdade e eu estava frita. Procurei um ponto de táxi, e felizmente achei um a duas quadras. Chamei um e fui até em casa.
- Boa tar... noite? - O homem me cumprimentou novamente
- Boa tarde. - Sorri e fui até em casa. Tranquei a porta e me joguei no sofá pegando meu celular e discando o número. - Oi. - Falei
- Oi Anne! Quanto tempo você não me liga, não é? -
- É. Mãe... eu... - Suspirei tentando achar as palavras certas