Capítulo 1

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"Bom dia, querida

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"Bom dia, querida. Está na hora." 

Ao ouvir essa frase dita pelos lábios da minha sábia avó, é quando o pânico realmente se instala dentro de mim e a ficha da realidade desce sobre meus olhos. As lágrimas que eu segurei durante a semana, eu não sou mais capaz de suportar, deixo-as rolar sem me importar com a maquiagem.

Eu não queria estar aqui, vestida nesse vestido reluzente, impecável, caro e cheio de pérolas, eu não queria estar com meu cabelo embolado num coque alto e glamouroso, eu não queria essa maquiagem que me deixa parecendo uma boneca. Eu não queria nada disso, tudo que eu queria era liberdade, liberdade essa que será para mim, um sonho apagado, a partir de hoje minha vida nunca mais será a mesma.

Minha melancolia é pensar no que minha mãe sofreu ao lado do meu pai, sendo uma mulher totalmente submissa que sofria com as alterações de humor dele e relevava eternamente suas traições. Meu avô materno também deu a minha mãe à casamento ao meu pai, ela conseguiu suportar, até que uma doença miserável tirasse-a de mim. O maldito câncer.

Aquele dia foi o pior de todos, eu queria me jogar na cova com ela, queria morrer para ficar com ela, a única pessoa que me amou de verdade, não estava mais comigo, – sinto que com ela seria mais fácil suportar tudo isso – a dor ainda está aqui e ela nunca irá embora, entretanto eu tenho uma convicção de que um dia eu irei vê-la novamente, além do seu colar que eu carrego comigo, como se fosse a sua presença em minha vida.

Durante toda a minha vida, eu só vi o meu pai durante o jantar, a única pessoa que me fazia companhia o tempo inteiro era a minha mãe, Elisabete, e também a minha melhor e única amiga, Ludmilla, ela é americana e está aqui por quê fugiu com o noivo, hoje estão casados. Ele trabalha na guarda do meu pai e ela é a minha "empregada" e óbvio que eu não a considero assim, esse é apenas o termo que se referem a ela.

E pronta para caminhar até a minha morte, eu soluço sem parar com o coração doendo.

"Vovó... Eu não quero..." Murmuro entre lágrimas.

"Infelizmente, em nosso meio, o querer não é poder. Vem comigo, no fim do dia você se sentirá melhor, eu lhe garanto." Fala e pega minha mão.

Sem ter outra escolha, eu sigo minha avó até a entrada da igreja, os nossos costumes são tão estranhos, que nem entrar na igreja comigo, meu pai irá. Entrarei sozinha, desolada, desamparada e querendo desaparecer.

"Faça o seu papel." Avó Lauren diz e se afasta.

Respiro fundo e limpo minhas lágrimas, os soluços ainda não pararam, mas eu faço o possível para disfarçar. Estou na porta da igreja e há um anexo para passar até chegar a entrada do tapete vermelho, seguro o buquê em minhas mãos e piso no primeiro degrau, a cada segundo é como se eu tivesse morrendo por dentro, a tristeza profunda me atingindo.

De repente vejo Ludmilla aparecer com a respiração ofegante e olhar desesperado.

"Você não precisa fazer isso. Eu não posso deixar minha melhor amiga se casar sem amor. Você tem que fugir!" Propõe e lanço-lhe um olhar confuso.

"Mas, como?" Questiono. Olhando para todos os lados tentando vê se não tem alguém perto que possa escuta-la.

"No anexo tem uma pequena porta, lá é onde algumas pessoas que não podem frequentar a igreja, ouvem a missa escondidos, isso foi feito pelos soldados a pedido do padre, para que o rei não ficasse sabendo. A porta te levará até uma rua, é feia e cheia de lama, mas isso não importa agora, eu roubei um carro, não me pergunte como eu fiz isso, entre nele e vai embora, fuja disso aqui. Abner estará lá para te levar até um aeroporto com destino aos Estados unidos." Explica tudo sem respirar.

"Mas e vocês? E se desconfiarem?" Pergunto com relutância.

"Ninguém sabe que fui mais que sua empregada, que nos tornamos amigas, ninguém também irá desconfiar de Abner, hoje é seu dia de folga, junto com mais dez soldados, ninguém pensará em nós. Por favor, não quero que se submeta a isso. Vá!" Ela me dá um abraço apertado e vai embora.

Eu sorrio com lágrimas nos olhos, mesmo que eu não queira me casar, ainda há um rastro de relutância em mim, entretanto sinto a esperança de uma vida livre e feliz começar a florescer em mim, fecho meus olhos com o coração acelerado e a adrenalina nas veias, aperto o colar da mamãe em meu pescoço, e nesse momento é como se eu ouvisse a sua voz...

"Fuja, minha menininha. Você merece uma vida livre, não queira um destino como o meu. A única coisa que eu não me arrependo, é de ter tido você, minha princesinha Eve."

Abro os olhos assustada pois é como se eu realmente tivesse ouvido sua voz suave e mansa. E sem pensar duas vezes, tomo a decisão de ir. Jogo o buquê no chão, arranco o véu da cabeça, solto meus cabelos, e corro pela pequena porta no anexo.

Corro sem parar e sem olhar para trás, ao longe avisto um carro preto, me aproximo rapidamente e entro, com a respiração ofegante, eu me recosto no banco do carro. Abner não diz nada, apenas da partida me levando para longe, em alta velocidade.

"Lud separou uma mochila com roupa para você, também tem um pouco de dinheiro e algumas coisas suas aí dentro, ela tem certeza que você irá conseguir um emprego e irá se erguer, boa sorte e felicidades, Eve." Abner diz após me deixar no aeroporto da Grécia.

"Muito obrigada, eu não tenho palavras para agradecer a vocês por isso. Diz a Lud que eu a amo muito. Tchau e boa sorte para vocês também." Saio do carro e corro para algum banheiro do aeroporto.

Tiro meu vestido de noiva com um pouco de dificuldade e jogo num canto qualquer, por sorte o banheiro está vazio, após isso, coloco um vestido florido um pouco acima dos joelhos, um sinto fino e um colete jeans, calço uma bota baixa e saio apressada do banheiro em direção a fila de embarque.

Pego meus documentos e a passagem dentro da bolsa, olho no grande telão acima de mim e vejo o horário, quase na hora, faço o check-in e espero ansiosamente e com medo. Nesse espaço de tempo, é impossível não pensar na possibilidade de que Ludmila e Abner podem se prejudicar por minha causa, e que meu pai não irá descansar até me encontrar e arrancar minha carne viva.

Ouço o primeiro chamado para o meu vôo, sou a primeira da fila pois a minha ansiedade em sair desse país, para estar o mais longe possível do meu pai e de Alexandre é imensa. Eu agradeço aos céus e a minha amiga que me ensinou a falar inglês, com os vários livros e gibis que ela sempre levava para mim, incluindo as séries e as músicas.

Minutos depois, sinto-me ser levantada do chão, eu estou finalmente livre agora. Sorrio aliviada e também derramo algumas lágrimas. Apesar de tudo, da felicidade de enfim estar livre, também existe o novo desafio de viver as escondidas, de conseguir uma fonte de renda, de conseguir sobreviver sem o luxo do palácio onde sempre tive de tudo em minhas mãos. Eu não sou uma princesa mimada, nunca encheu os meus olhos toda a riqueza que eu tinha.

O grande problema, é que eu não tenho experiência nenhuma com o mundo exterior. E eu peço aos céus e a minha mãe, que me ajudem a encontrar um bom lugar para viver, um trabalho legal e pessoas amigas a quem eu possa confiar para não viver sozinha.

Eu não faço a menor ideia do que me espera quando eu chegar, mas não quero pensar nisso agora. O pior já passou, ou, assim eu espero. Contudo nada é pior do que casar forçada então estou pronto para enfrentar o que quer que venha pela frente.

Assim eu torço.




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ImEmili

Um Segundo Para Se Apaixonar © [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora