Quinta-feira, café com cupcakes.
Fran se encontra enfiada em alguma parte do submundo atrás do balcão para buscar o pedido que eu, Britânia e Radija fizemos. Julgo que esse seja o momento perfeito para abordar o assunto que tenho na pauta para hoje:
— O que anda acontecendo com Ricardo Malheiros? – pergunto para Rad e Brit.
As duas trocam um olhar esquisito e meu estômago dá um solavanco.
Será que o flamenguista estava certo?
Não quero que esteja.
Pois além de desejar que a vida de Ricardo caminhe perfeitamente em ordem e, de preferência, na minha direção, não quero dar o braço a torcer para o meliante.
Ele não merece nem uma gota do meu arrependimento. Nunca perdoarei ele ter me chamado de mimada na frente de toda aquela gente melequenta.
É justamente por isso que abordo o assunto com Radija e Britânia, para que elas possam me acalmar em relação ao bem-estar de Ricardo. Contudo, a troca de olhares delas, por mais que dure milésimos de segundos, me tira do prumo.
— Na-nada – diz Radija, ajeitando a postura na cadeira.
— Quer dizer, não que a gente saiba – Britânia completa.
— Por que a curiosidade? – Rad quer saber.
Como se não fosse óbvio!
Olho para o balcão na esperança de que Fran chegue com nossos pedidos e interrompa a conversa. Não estou nem um pouco a fim de declarar meus sentimentos sem algo doce para me amparar.
Mas como não posso ficar com o olhar perdido para todo o sempre, sou obrigada a voltar a encarar as expressões especulativas das minhas amigas e falar:
— É que ouvi abobrinhas sobre ele por aí – falo, abanando a mão para afastar os absurdos falados pelo meliante da minha mente.
— Por aí, onde? – Radija interroga.
— Você está sendo muito vaga – Britânia observa, como sempre, muito certeira.
— Deve ser sobre aquilo que ele postou outro dia – Radija especula.
— O que ele postou? – quero saber, imediatamente.
— Oras, você não viu? – Britânia pergunta, desviando o olhar por um milésimo de segundo para fuzilar Radija.
— Andei sem tempo ultimamente – me justifico, fingindo que não me abalo por elas terem desenvolvido um código via-olhar do qual eu não participo mais. – Minha madrinha me obriga a fazer serviços em casa. Fora isso, ando concentrada num trabalho que tenho que entregar na escola.
— Desde quando você faz trabalhos escolares? – Brit debocha.
— Desde que fui obrigada a fazer dupla com a pessoa mais autoritária do mundo – digo, praticamente bufando.
Sei que não devo ficar ofendida pelo deboche de Britânia, pois na época em que reinávamos no Castelinho, eu não fazia trabalho nenhum mesmo.
Mas tenho passado tanto tempo fazendo pesquisas, redigindo textos infinitos e fritando meus miolos para descobrir onde é a posição correta de certas vírgulas, que o pouco caso dela me ofende.
Por mais que ela seja minha melhor amiga, não pode entender pelo que estou passando.
Ela sempre teve tudo na mão.
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A arte de morder a língua
Teen FictionSinopse: O pior aconteceu, o Grande Arantes foi pego em grandes esquemas da Lava-Jato e com isso tudo que Mercedes conhecia como vida foi direto pelo ralo. Com as contas do pai congeladas, a solução é começar o último ano do Ensino Médio de forma t...