Bandeira Branca

55.2K 4.1K 6.8K
                                        

Pestanejou os longos cílios algumas vezes antes de girar nos tornozelos e caminhar até a beira do rio, onde se sentou. A água corria tranquila, devagar. Louis invejou aquela calmaria, pois seu coração batia num ritmo descompassado em seu peito por mais que ele mantivesse a expressão blasé no rosto.

Ouviu o som das botinas pesadas contra a grama macia até que viesse o silêncio. Harry sentou-se ao seu lado e se pôs a observar a água também, enfiando o dedo em um buraco do jeans em seu joelho.

— Isso é um sim?

— Isso é um “quem foi que te disse tal estupidez?”.

— Isso não importa — Harry virou a cabeça, olhando o perfil de Louis. Os cílios longos que faziam sombras nas bochechas, os lábios finos e rosados, o nariz arrebitadinho. Não mudaria nada ali, nem pensar. — É verdade, não é? Eu posso ver pela sua cara.

— E daí? — encarou Harry, só então notando que ele sentou realmente perto de si. — Isso não muda nada pra você. Pode continuar sua vida de alfa adorado.

— O quê? Como assim não muda a minha vida? — enrugou a resta, as sobrancelhas retas se juntando. — Esse bebê é meu também.

Louis riu, balançando a cabeça aleatoriamente.

— Não, não é seu.

— Como não? Não tem como ser de outro cara — riu nervoso. — Só estávamos nós dois lá, Lou. É claro que é meu.

— Entenda, esse bebê é meu. Eu vou cuidar dele. Eu vou criar ele sozinho. Não precisa se preocupar com nada.

— Você se acha demais — murmurou antes de fechar a mão no queixo de Louis, puxando seu rosto para perto. — Esse filho é tão meu quanto seu — falava devagar, assustando o menor que mantinha os olhos azuis arregalados. — Fui eu que coloquei ele aí dentro, e você estava gostando muito quando eu fiz isso. — notou as bochechas de Louis corarem, mas continuou: — E eu sou homem suficiente para assumir os meus atos. E, por mais que você não acredite, tudo o que eu mais quero agora é esse bebê.

— Q-Quem você pensa que é? — resmungou, afastando a mão de Harry de si. — E o que quer dizer com “o que eu mais quero é o bebê”? Eu sei que você só pensa em quantos ômegas vai comer na próxima semana — soprou o ar pelas narinas.

— Você tem uma ideia totalmente errada de mim. Por quê? Por que você acha que os alfas são assim? Quem botou isso na sua cabeça?

— Ninguém colocou nada na minha cabeça, é só experiência própria.

— Experiência? — sorriu de canto. — Quantos alfas você conhece? Eu digo, realmente.

Louis abriu e fechou a boca.

— Você não entende — falou baixo, voltando seus olhos azuis para as águas calmas do rio Dane.

— Então tenta me explicar...

Depois de um silêncio considerável, Louis falou:

— Meu pai batia na minha mãe... Ele a humilhava por só ter gerado ômegas e nenhum alfa como ele. Um dia ele simplesmente fez as malas e disse que ia embora, ele tinha arrumado outra mulher. Uma beta. Eu, estúpido como era, perguntei se eu podia ir com ele — riu com escárnio, balançando a cabeça. — Sabe o que ele disse? Disse que eu não era filho dele. Que ele nunca mais queria me ver e que ele estava saindo de casa por minha culpa. Porque eu era uma maldita fêmea. Uma aberração.

Harry ouviu em silêncio, fitando suas botas gastas.

— Eu tinha só 13 anos, mas naquele momento eu entendi o que era ser um alfa. E eu decidi que nunca precisaria de um alfa.

InstintoOnde histórias criam vida. Descubra agora