Capítulo I

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Northumberland, Início do século XIX, Era Georgiana

Lizzie se espremia o máximo que podia em seu assento, tentando respirar da forma mais regular que podia, mas aquela tarefa tornava-se quase impossível em um local tão claustrofóbico quanto à cabine de uma carruagem com as janelas fechadas. Ouvia o som abafado das pesadas gostas de chuva que caiam sobre o teto do veículo, e se pegou imaginando se ainda faltava muito até que finalmente chegasse ao seu destino.

Detestava locais como aquele... Frios, úmidos e apertados. Faziam com que se lembrasse da pequena cabine onde passara seus últimos dias com sua mãe, uma das poucas memórias que guardava daquela derradeira viagem. A recordação daquilo fez com que o velho pânico se instalasse em sua mente e Lizzie tentou bloquear as imagens do cadáver putrefaço e do odor de decomposição, mas as sensações eram tão reais que por um instante, sentiu como se estivesse de volta aquele pesadelo, afundando lentamente... Perdendo-se em brumas.

-Querida, você está bem? – Indagou sua velha madrinha que estava sentada ao seu lado, enquanto tocava sua mão e a trazia de volta a realidade – Parece tão pálida...

-Oh, não é nada... – Respondeu com a voz entrecortada e pigarreando na tentativa de ganhar tempo – Acho que o balanço da carruagem está me deixando um tanto nauseada.

-Sim, posso imaginar. As estradas costumam ficar assim durante o outono. As chuvas torrenciais fazem com que a lama se desprenda e os caminhos ficam mais escorregadios.

-É sempre assim aqui no norte? – Perguntou sentindo um certo desespero tomando conta de seu ser ao imaginar-se presa aquele lugar cinzento e sombrio pelo resto de sua vida.

-Oh, não! A chuva é uma constante companheira, devo admitir, mas na primavera nossos campos são de tirar o fôlego e a vista do penhasco é simplesmente deslumbrante.

Lizzie sorriu de forma pouco convincente e deixou que um pesado suspiro escapasse de seus lábios. Por mais que sua bondosa madrinha falasse sobre as maravilhas de Beacofell, não conseguia se deixar enganar. Nunca tinha visitado o extremo norte da Inglaterra, mas sabia que não deveria esperar muito daquele nebuloso lugar. Sua mãe sempre dizia que sua vila natal era o local mais inóspito do mundo, e até agora, Lizzie não tivera razão para discordar daquilo.

-Ouça, minha menina. – Disse sua madrinha apertando sua mão e a trazendo de volta dos devaneios – Sei que está nervosa por vir trabalhar em um lugar tão distante e isolado de Londres, mas confie em mim. Lorde Hector Nightley será um excelente patrão e tenho certeza de que vocês se darão bem.

-Não se preocupe madrinha. Sei que a senhora jamais me traria até aqui se este não fosse um trabalho descente. – Respondeu tentando omitir seus reais temores.

-Oh sim... E Lorde Hector foi muito gentil em aceitá-la como nova governanta, mesmo você sendo tão jovem.

-Isso não lhe parece estranho? Que um homem contrate uma completa desconhecida para cuidar de sua casa?

-Você não é uma completa desconhecida. É filha de Lauren Dashwood e todos em Beacofell conheceram sua mãe quando ela era apenas uma jovenzinha. Além disso, creio que milorde estava apenas fazendo uma boa ação. Quando a notícia do falecimento de sua mãe chegou à Beacofell, Lorde Hector mandou que me chamassem para saber o que poderia ser feito em seu benefício. Ele foi tão generoso, que mesmo não tendo nada a ver com sua história, lhe ofereceu um emprego e um lugar para morar. Portanto você deve mostrar mais gratidão para com ele, Elizabeth. Não se esqueça disso.

-Sim, madrinha, mas ainda assim acho que piedade não é motivo suficiente para contratar uma desconhecida. Como ele pode saber se eu sou realmente apta para trabalhar como governanta?

Brumas de SalOnde histórias criam vida. Descubra agora