Capítulo VII

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-Acho que a febre está baixando... - Disse Lizzie enquanto repousava a palma de sua mão sobre a testa do pequeno Oliver.

-Sim. - Concordou Abigail com um tom animador na voz. - E ele já não está mais suando tanto. Creio que se recuperará antes do que imaginávamos.

Com um pesado suspiro, Lizzie deixou que todo o estresse e preocupação que vinha lhe afligindo nos últimos cinco dias se esvaíssem de uma única vez. Desde que Lorde Hector partiu em sua misteriosa viagem a "negócios", o pequeno Oliver fora acometido por uma súbita febre, ficando restrito ao seu leito sobre a constante vigília de Lizzie.

Colocando uma compressa úmida sobre a testa do menino, ela se deixou analisar o rostinho pálido do garoto, surpreendendo-se com as manchas escuras que rodeavam seus olhinhos verde-acinzentados. Ele parecia tão frágil com aquele pijaminha branco que sua vontade era de abraçá-lo com força e curá-lo com seus afagos.

-Ainda acho que deveríamos chamar um médico. - Disse olhando para Abigail, tentando buscar o apoio da mais velha.

-Lamento senhorita, mas isso seria impossível. A neblina está a cada dia mais densa, e seria loucura descer o desfiladeiro sem ter uma boa visibilidade. Além disso, duvido muito que algum médico se arrisque a subir até aqui com o tempo que está fazendo lá fora.

-Mas o coitadinho parece tão frágil... E eu não faço a mínima ideia do que tenha. Certamente não é nenhum resfriado, mas ainda assim...

-Já disse para a senhorita não se preocupar. - Insistiu Abigail colocando-se ao lado dela e segurando suas mãos cansadas - Olie sempre tem este tipo de febre quando Lorde Hector viaja. Ouvi falar que é algo psicológico, sabe? Muitas crianças sofrem de coisa parecida quando alguém que amam se afasta por um longo tempo.

Lizzie ficou boquiaberta ao ouvir aquilo. Sabia que era comum crianças desenvolverem sintomas físicos para expressar sua tristeza, mas não imaginava que Oliver pudesse ser tão apegado assim ao pai! Um pai que se quer teve coragem de assumi-lo. Quem era Lorde Hector, afinal? O homem excêntrico que tinha explosões de fúria ao ter sua privacidade invadida ou o pai atencioso que resgatava pobres donzelas de humilhações públicas? Difícil dizer...

Mas de uma coisa Lizzie tinha certeza: Lorde Hector amava seu filho, e aquele amor fazia com que ela sentisse uma estranha inveja em seu intimo, pois sabia que jamais seria amada daquele modo novamente. Nunca tivera um pai por perto, e por isso estimava muito o carinho paternal. Aos seus olhos, um homem que demonstrava cuidado e amor por seus filhos era um homem de valor, e seu patrão parecia encaixar-se perfeitamente naquela descrição embora seus costumes sombrios contrariassem aquela imagem.

-Céus... Nunca pensei que diria isso, mas gostaria que Lorde Hector regressasse logo. - Suspirou encarando a criança em seu leito, sem saber se desejava isso por Oliver ou por si própria.

-A senhorita deveria descansar um pouco. - Sugere Abigail por fim, parecendo preocupada - Mal vem se alimentando e pouco dormiu na última noite.

-Mas e se o Olie acordar e não me ver?

-Ficarei aqui caso isso aconteça. Oras, vamos senhorita Lizzie! Tem que descansar um pouco ou do contrário acabará caindo doente também, e certamente isso não fará bem algum ao Oliver. Prometo que não sairei até que a senhorita regresse.

Lizzie queria protestar, queria se recusar a sair dali por um segundo que fosse, mas sabia que Abigail tinha razão. Não podia descuidar de si mesma... Precisava estar forte para ficar ao lado de Oliver caso o menino piorasse. Por alguma razão, vinha se apegando cada vez mais a ele e sentia que não conseguiria deixá-lo por motivo algum no mundo. Era engraçado, mas jurava que havia uma conexão maior entre eles! Uma conexão que ia além da explicação.

Brumas de SalOnde histórias criam vida. Descubra agora