Lizzie se segurava ao mastro do pequeno barco, enquanto o mar agitado fazia com que a embarcação sacudisse de forma violenta. Ela estava assustada, tentando enxergar em meio à noite escura, mas a chuva dificultava sua visibilidade e tudo o que conseguia ver eram duas silhuetas que pareciam discutir à sua frente! Uma delas pertencia à sua própria mãe, mas a outra... A outra pertencia a um completo desconhecido.
Quem era ele? E o que queria com Lauren? Lizzie o observou da melhor forma que pôde, constatando que era alto e magro, com a pele pálida contrastando de modo marcante com seus cabelos e olhos escuros. Algo fazia seus pelos se arrepiarem sempre que encarava aquele completo desconhecido, mas Lizzie não conseguia desviar seus olhos dele!
Queria ser corajosa! Queria ter forças para enfrentá-lo assim como Lauren estava fazendo, mas ela estava tão assustada que a única coisa que conseguia fazer era ficar ali, agarrada naquele maldito mastro enquanto sua mãe lutava com unhas e dentes para protegê-la. Lizzie sentia seus olhos queimando com as lágrimas em busca de uma saída, algum modo de acabar com tudo isso, até que sua mente começou a ficar pesada e logo tudo foi tragado pelas águas. Como em um suspiro, as imagens ao seu redor foram perdendo o foco, e antes mesmo que ela esperasse, acordou.
Demorou um pouco para perceber que tudo não passara de um pesadelo e que estava em seu quarto, na sombria Silverstone. Havia uma fina camada de suor frio sobre sua testa e suas mãos tremiam enquanto seu coração batia de forma disparada no peito. Quem era aquele estranho homem, e por que discutia com sua mãe? Seria o dono do barco em que estavam? Oh, não devia forçar sua mente! Foi apenas um sonho... Não foi? Ou seriam lembranças perdidas daquela última noite?!
Com um longo suspiro e tentando parar de tremer, Lizzie levantou-se da cama e caminhou até a janela, apenas para constatar que ainda devia faltar uma hora para que o dia amanhecesse por completo. Pensou em voltar para a cama e tentar dormir novamente, mas tinha medo de que os pesadelos retornassem e no final resolveu ir até a cozinha beber um pouco de água ou comer mais alguns dos pãezinhos de mel que Abigail preparava com tanta destreza.
Sendo assim, vestiu um comprido penhoar de linho negro por cima da camisola, e com uma vela de sebo nas mãos saiu de seu quarto. Tudo lá fora estava extremamente silencioso, indicando que a casa ainda dormia, e Lizzie pegou-se admirando o corredor como se só agora reparasse no quão longo ele era. Nunca tivera medo do escuro, mas sobre a penumbra da madrugada Silverstone parecia ainda mais sombria, e sem querer ficar ali por muito tempo, Lizzie caminhou com passos largos até a escada.
Desceu os degraus com o maior cuidado que podia, temendo tropeçar na escuridão, mas antes que chegasse a passagem que dava na cozinha, notou uma luz bruxulenta que vinha de lá. Será que Abigail já estava acordada à uma hora dessas? Diminuindo os passos, Lizzie tentou não fazer barulho algum até que finalmente pôde ver quem estava na cozinha, surpreendendo-se com aquela visão. Bem ali, sentado de forma solitária e com uma pequena vela sobre a mesa, estava Lorde Hector, parecendo pensativo.
Maldição! Certamente ele era a última pessoa que ela gostaria de encontrar após a terrível advertência que recebera no dia anterior, mas agora que o observava sentado de forma tão pensativa e usando um simples roupão negro, achou que seu patrão não era tão assustador quanto pensava. Na verdade, havia algo em Lorde Hector que lhe atormentava a mente. Talvez fossem seus mistérios... Talvez fosse a forma melancólica como ele olhava para o nada... Ou talvez fosse o cheiro másculo e viril que dele emanava!
Engolindo em seco, Lizzie achou que o melhor seria sair dali antes que seu patrão lhe notasse, e da forma mais sorrateira que podia, deu meia volta. Já estava prestes a deixar a cozinha, quando ouviu sua voz suave e austera ressonando pelo cômodo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Brumas de Sal
RomanceApós uma terrível tragédia, Elizabeth Dashwood perde tudo o que mais lhe importava: sua amada mãe e sua integridade mental. Todas as noites ela revive aquele fatídico dia, que ainda permanece coberto por brumas que a impedem de enxergar o que realme...