Hector observava a lápide no cemitério dos indigentes que ficava por trás de Silverstone, segurando a pequena mãozinha de Oliver enquanto encarava a pedra cinzenta. Sobre a lápide havia apenas a identificação "E. Portman" e nada mais do que isto. Era estranho estar ali diante daquele tumulo e sem conseguir definir os sentimentos que duelavam dentro dele, mas devia isto a Oliver.
-Por que estamos aqui, papai? – Indagou o menino, parecendo confuso após longos minutos em silêncio – E quem está enterrado nesta cova?
-Um dia você entenderá, Olie. – Respondeu Hector, sem saber o que dizer ao sobrinho.
-E quando a senhorita Lizzie voltará da casa de sua madrinha? Já faz três dias que não a vejo e estou com saudades...
-Eu também sinto a falta dela, querido. Mas você precisa entender que a senhorita Elizabeth pode demorar a voltar.
-Mas ela vai voltar, não vai?
Hector engoliu em seco ao ouvir aquela pergunta, e por um momento sentiu o vazio em seu peito ficando ainda maior. Ele não queria continuar mentindo para Oliver, mas o garoto era jovem de mais para compreender metade das coisas que se sucederam naquela trágica noite. Para apaziguá-lo, todos em Silverstone concordaram em dizer que Elizabeth havia ido passar alguns dias na casa de sua madrinha em Beaconfell, mas Hector sabia que aquela mentira não podia se manter por muito tempo.
Céus, o que foi que ele fez?! Por que levou sua vingança até aquele ponto, envolvendo uma pobre garota que nada tinha feito para merecer este triste desfecho? O destino de Elizabeth o perseguiria pelo resto de sua vida, assim como o de Beatrice ainda o perseguia. Era esta a sua sina, a final... Destruir a todos que amava.
A culpa corroia suas veias sempre que ele se recordava do momento em que retirou o corpo de Elizabeth das águas do mar, pálida como a morte e com os lábios roxos pelo frio. O pior de tudo foi perceber que ela já não respirava, e isso o assombraria por todas as noites até o fim de sua miserável existência.
-Papai, por que o senhor está chorando? – Indagou Oliver, encarando Hector com seus olhinhos especulativos.
-Por que eu também tenho saudades da senhorita Elizabeth, meu querido. – Confessou com um sorriso triste, segurando a mão do sobrinho com mais força.
-Será que ela está com medo daquele homem mau que estava nos perseguido? Aquele que parecia um mendigo...?
-Não, querido. Garanto a você que aquele homem mau nunca mais nos incomodará novamente. A senhorita Elizabeth nos salvou dele.
-Então... Será que ela está demorando porque está com raiva de mim?
-E por que ela estaria?
-Porque eu fugi naquela noite... Foi por isso que a senhorita Lizzie foi embora, não foi? Porque eu me comportei mal e fui ao penhasco no meio da noite...
-Não, meu querido. A senhorita Elizabeth seria incapaz de sentir raiva de você, e sabe por quê? – Indagou Hector, ficando de joelhos em frente ao menino e encarando-o diretamente nos olhos – Porque ela é sua irmã.
-Minha irmã?! – Oliver parecia tão impressionado que sua boca formava um perfeito "O" – Minha irmã de verdade?
-Sim, querido. Sua irmã de verdade. Mas você não pode contar isso para ninguém, está bem? Será o nosso segredo.
-Dou minha palavra de que não contarei a ninguém!
-Esse é o meu garoto. – Disse Hector enquanto dava um carinhoso cafuné na cabeça de seu sobrinho e tentava conter as lágrimas que teimavam em turvar sua vista – Mas agora precisamos voltar para Silverstone. Soube que Abigail está fazendo sua torta favorita e tenho certeza de que você vai querer comer uma fatia ainda quentinha.
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Brumas de Sal
RomanceApós uma terrível tragédia, Elizabeth Dashwood perde tudo o que mais lhe importava: sua amada mãe e sua integridade mental. Todas as noites ela revive aquele fatídico dia, que ainda permanece coberto por brumas que a impedem de enxergar o que realme...