cap. 8 - Notícias recheadas de esperança!

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Foi então que senti algo a vibrar-me no bolso e, depois, a minha música preferida da Ellie Goulding começou a ouvir-se ruidosamente. Olhei para o ecrã do meu Iphone. A foto de Joana piscava. Não acredito! Com tudo aquilo esquecera-me completamente que a tinha de ir buscar ao comboio.

Fintei o meu relógio preto da Swatch. Já eram 4 e meia da tarde. Ela ia matar-me. Deslizei o dedo pelo visor do meu telemóvel, enquanto me afastava gradualmente de Duarte e da sua mãe.

Os dois com a tristeza e desespero espelhados no rosto. A andar de um lado para o outro sem parar um único segundo e com aqueles tiques nervosos. O Duarte não parava de morder os lábios, de esfregar as mãos e de piscar os olhos. Sabia sempre quando ele se encontrava nervoso devido a estes sinais. Conhecia-o demasiado bem. Era tão difícil vê-lo assim...

Marquei o número de Joana e esperei que me atendesse. Ela já tinha ligados umas 2 ou 3 vezes anteriormente. Espero que não tenha ficado chateada comigo. Esqueci-me completamente de a avisar. Sai de casa tão à pressa que nem tive tempo de contar a ninguém onde estava nem o que havira acontecido. Espero que a mãe não tenha ficado preocupada.

-Olá Joana! Desculpa-me mana, mas acho que vai ser impossível ir, agora, aí buscar à estação.

Ela respirou demonstrando algum alívio e depois retorquiu:

-Que alívio, mana.O comboio atrasou-se. Houve uma avaria. Liguei-te para dizer que vou chegar bem mais tarde que o previsto. Pensava que estavas à minha espera, à seca. Mas está tudo bem, Maria? Pareces um pouco em baixo.

Dei um longo suspiro.

-Estou agora no hospital de Sta Maria, com o Duarte. Eu depois explico-te melhor tudo, quando chegar a casa.-disse-lhe eu apressadamente - Mas chegas a que horas? Fazes alguma ideia? Talvez ainda te consiga apanhar. - respondi-lhe, tentando evitar falar daquele assunto triste, e demonstrando alguma disponibilidade para ela. Precisava mesmo de alguém para falar. E, quando necessitava de o fazer, a Joana estava sempre lá para mim. Adorava as conversas que tinha com ela. Ajudavam-me sempre muito.

-Isto parece que ainda vai demorar. À pouco anuciaram que retomariam a viagem dentro de 1 ou 2 horas, só devo chegar aí por volta das 7 horas da noite. Não te preocupes comigo, eu desenrasco-me. Talvez apanhe um autocarro ou pergunto onde há uma entrada para o metro, mais próximo. Está mesmo tudo bem por aí? Foi algo contigo, Maria? - disse-o de uma maneira meio assustada e dava para notar a preocupação na sua voz.

-Não te preocupes. Eu estou bem. Foi com o pai do Duarte. Teve um acidente. Estou aqui a apoiá-lo, ou a tentar fazê-lo. Não o consigo ver assim triste. Preciso mesmo de ter uma "daquelas conversas" contigo, Johanna. - (Eu era completamente louca pelos The Hunger Games, e costumava chamá-la "Johanna" na brincadeira. Aquela força dela tornava-a muito parecida com esta personagem fascinante.) - Posso ir buscar-te, mais ou menos, a que horas então?

-Já estou a ver que vamos ter uma longa conversa. Dá um beijinho ao Duarte e à família dele por mim. Fazemos assim: 2 paragens antes de chegar, eu ligo-te. Se puderes vir, era óptimo. Se não conseguires, não faz mal, Maria. Eu vou de transportes na boa maninha. Mas estou cá por volta das 7, ou 7 e meia da noite. Espero que fique tudo bem por aí.

-Espero o teu telefonema, mana. O médico está a vir para aqui. Tenho de desligar. Beijinhos. Amo-te muito, Joaninha. - As últimas palavras saíram-me um pouco baixo. Tinha tantas saudades daquela tontinha...

Corri de novo até perto deles. Vislumbrei a mãe de Duarte a chorar, pena não ter percebido o motivo. Será que ele tinha piorado? Não podia ser isso. O Duarte não teria força suficiente para aguentar uma notícia dessas. Ou será que se tratava de um choro de felicidade? E de alívio?

Não tardei a ter resposta a esta questão.

Duarte abraçava a mãe com aquele seu sorriso magnífico. Não poderia estar mais feliz. De seguida, correu até mim. Abraçou-me. Um daqueles abraços bem apertados e aconchegantes.

-Tinhas razão, Mary! Correu tudo bem, tal como tinhas dito, princesa.

Beijou-me na face. Aquele beijo doce, suave e carinhoso tão característico dele.

Chegámo-nos de novo até junto do médico e ele continuou a sua explicação.

-Como sabem, o sr Pereira, foi atingido por uma bala durante o assalto. Nós fizemos uma operação que nos permitiu retirá-lá. Como disse anteriormente, a bala encontrava-se num local de difícil acesso e foi, por isso, que foi tão demorado. Mas a operação foi bem sucedida. Consegui-mos retirar a bala, esta alojou na zona torácica, perto do coração. Quase posso dizer que foi um milagre, a bala não ter atingido o coração. Agora encontra-se em recuperação. Ainda está muito fraco. A operação foi difícil e aviso-vos já que a recuperação será lenta e difícil. Ele precisará de todo o vosso apoio e força que lhe conseguirem transmitir.

-Obrigada por tudo, Doctor William. Acha que podemos vê-lo? - questionou a Sra Pereira entre lágrimas de alegria.

-Ele está, ainda, sob o efeito da anestesia. Mas deve estar quase a acordar. Venham! - afirmou prontamente o médico. Olhou para Duarte. Ele não estava bem. - Ou se não se sentirem preparados, eu espero um pouco. Depois peçam aquela senhora -apontou para a recepcionista - para me chamar.

-Obrigada, doctor. Talvez daqui a pouco.

-Depois quando se sentirem preparados, já sabem. O seu marido é um sortudo. Nunca tinha visto nada a assim...- O médico continuou a conversa com a Sra Pereira, acerca do acidente e da recuperação necessária devido à complexidade da operação que se havia sucedido.

Enquanto isso, procurei levar Duarte para um lugar mais isolado. Sentia que o tinhade preparar para aquele reencontro com o pai, não nas melhores circunstâncias, infelizmente.

-Duarte, vais ter de ter força. Já sabes que eu não vai ser fácil, mas eu sei que tu consegues. Eu vou lá estar contigo. Vai correr tudo bem. O teu pai já está a salvo. Agora ele precisa muito do vosso apoio para a recuperação. Sim?

Ele parecia bastante preocupado e pensativo, e eu compreendia-o.

-Okey. Okey. Nós conseguimos. Mas eu tenho medo, Mary...- Abraçou-me de novo, depois recompôs-se. - Vamos lá. Nós conseguimos. Força. Apoio. Para o meu pai voltar a ser como antes. Bora, Duarte! Tu consegues!

Dei-lhe a mão e fomos em direção ao quarto 428. Juntamente com o médico, que continuava a dar-nos recomendações sobretudo o que poderia acontecer, depois daquele acidente. Bate-mos à porta. O médico entrou e disse-nos para aguardarmos à porta da sala até ao seu sinal. Duarte apertava-me a mão cada vez com mais força. Entrelaçou a mão esquerda na mão direira da mãe. Fizemos um cordão. Os três. Unidos.

Ouvi-mos uma porta a abrir. Era o médico que nos chamava...

Dele...Onde histórias criam vida. Descubra agora