Foi então que senti algo a vibrar-me no bolso e, depois, a minha música preferida da Ellie Goulding começou a ouvir-se ruidosamente. Olhei para o ecrã do meu Iphone. A foto de Joana piscava. Não acredito! Com tudo aquilo esquecera-me completamente que a tinha de ir buscar ao comboio.
Fintei o meu relógio preto da Swatch. Já eram 4 e meia da tarde. Ela ia matar-me. Deslizei o dedo pelo visor do meu telemóvel, enquanto me afastava gradualmente de Duarte e da sua mãe.
Os dois com a tristeza e desespero espelhados no rosto. A andar de um lado para o outro sem parar um único segundo e com aqueles tiques nervosos. O Duarte não parava de morder os lábios, de esfregar as mãos e de piscar os olhos. Sabia sempre quando ele se encontrava nervoso devido a estes sinais. Conhecia-o demasiado bem. Era tão difícil vê-lo assim...
Marquei o número de Joana e esperei que me atendesse. Ela já tinha ligados umas 2 ou 3 vezes anteriormente. Espero que não tenha ficado chateada comigo. Esqueci-me completamente de a avisar. Sai de casa tão à pressa que nem tive tempo de contar a ninguém onde estava nem o que havira acontecido. Espero que a mãe não tenha ficado preocupada.
-Olá Joana! Desculpa-me mana, mas acho que vai ser impossível ir, agora, aí buscar à estação.
Ela respirou demonstrando algum alívio e depois retorquiu:
-Que alívio, mana.O comboio atrasou-se. Houve uma avaria. Liguei-te para dizer que vou chegar bem mais tarde que o previsto. Pensava que estavas à minha espera, à seca. Mas está tudo bem, Maria? Pareces um pouco em baixo.
Dei um longo suspiro.
-Estou agora no hospital de Sta Maria, com o Duarte. Eu depois explico-te melhor tudo, quando chegar a casa.-disse-lhe eu apressadamente - Mas chegas a que horas? Fazes alguma ideia? Talvez ainda te consiga apanhar. - respondi-lhe, tentando evitar falar daquele assunto triste, e demonstrando alguma disponibilidade para ela. Precisava mesmo de alguém para falar. E, quando necessitava de o fazer, a Joana estava sempre lá para mim. Adorava as conversas que tinha com ela. Ajudavam-me sempre muito.
-Isto parece que ainda vai demorar. À pouco anuciaram que retomariam a viagem dentro de 1 ou 2 horas, só devo chegar aí por volta das 7 horas da noite. Não te preocupes comigo, eu desenrasco-me. Talvez apanhe um autocarro ou pergunto onde há uma entrada para o metro, mais próximo. Está mesmo tudo bem por aí? Foi algo contigo, Maria? - disse-o de uma maneira meio assustada e dava para notar a preocupação na sua voz.
-Não te preocupes. Eu estou bem. Foi com o pai do Duarte. Teve um acidente. Estou aqui a apoiá-lo, ou a tentar fazê-lo. Não o consigo ver assim triste. Preciso mesmo de ter uma "daquelas conversas" contigo, Johanna. - (Eu era completamente louca pelos The Hunger Games, e costumava chamá-la "Johanna" na brincadeira. Aquela força dela tornava-a muito parecida com esta personagem fascinante.) - Posso ir buscar-te, mais ou menos, a que horas então?
-Já estou a ver que vamos ter uma longa conversa. Dá um beijinho ao Duarte e à família dele por mim. Fazemos assim: 2 paragens antes de chegar, eu ligo-te. Se puderes vir, era óptimo. Se não conseguires, não faz mal, Maria. Eu vou de transportes na boa maninha. Mas estou cá por volta das 7, ou 7 e meia da noite. Espero que fique tudo bem por aí.
-Espero o teu telefonema, mana. O médico está a vir para aqui. Tenho de desligar. Beijinhos. Amo-te muito, Joaninha. - As últimas palavras saíram-me um pouco baixo. Tinha tantas saudades daquela tontinha...
Corri de novo até perto deles. Vislumbrei a mãe de Duarte a chorar, pena não ter percebido o motivo. Será que ele tinha piorado? Não podia ser isso. O Duarte não teria força suficiente para aguentar uma notícia dessas. Ou será que se tratava de um choro de felicidade? E de alívio?
Não tardei a ter resposta a esta questão.
Duarte abraçava a mãe com aquele seu sorriso magnífico. Não poderia estar mais feliz. De seguida, correu até mim. Abraçou-me. Um daqueles abraços bem apertados e aconchegantes.
-Tinhas razão, Mary! Correu tudo bem, tal como tinhas dito, princesa.
Beijou-me na face. Aquele beijo doce, suave e carinhoso tão característico dele.
Chegámo-nos de novo até junto do médico e ele continuou a sua explicação.
-Como sabem, o sr Pereira, foi atingido por uma bala durante o assalto. Nós fizemos uma operação que nos permitiu retirá-lá. Como disse anteriormente, a bala encontrava-se num local de difícil acesso e foi, por isso, que foi tão demorado. Mas a operação foi bem sucedida. Consegui-mos retirar a bala, esta alojou na zona torácica, perto do coração. Quase posso dizer que foi um milagre, a bala não ter atingido o coração. Agora encontra-se em recuperação. Ainda está muito fraco. A operação foi difícil e aviso-vos já que a recuperação será lenta e difícil. Ele precisará de todo o vosso apoio e força que lhe conseguirem transmitir.
-Obrigada por tudo, Doctor William. Acha que podemos vê-lo? - questionou a Sra Pereira entre lágrimas de alegria.
-Ele está, ainda, sob o efeito da anestesia. Mas deve estar quase a acordar. Venham! - afirmou prontamente o médico. Olhou para Duarte. Ele não estava bem. - Ou se não se sentirem preparados, eu espero um pouco. Depois peçam aquela senhora -apontou para a recepcionista - para me chamar.
-Obrigada, doctor. Talvez daqui a pouco.
-Depois quando se sentirem preparados, já sabem. O seu marido é um sortudo. Nunca tinha visto nada a assim...- O médico continuou a conversa com a Sra Pereira, acerca do acidente e da recuperação necessária devido à complexidade da operação que se havia sucedido.
Enquanto isso, procurei levar Duarte para um lugar mais isolado. Sentia que o tinhade preparar para aquele reencontro com o pai, não nas melhores circunstâncias, infelizmente.
-Duarte, vais ter de ter força. Já sabes que eu não vai ser fácil, mas eu sei que tu consegues. Eu vou lá estar contigo. Vai correr tudo bem. O teu pai já está a salvo. Agora ele precisa muito do vosso apoio para a recuperação. Sim?
Ele parecia bastante preocupado e pensativo, e eu compreendia-o.
-Okey. Okey. Nós conseguimos. Mas eu tenho medo, Mary...- Abraçou-me de novo, depois recompôs-se. - Vamos lá. Nós conseguimos. Força. Apoio. Para o meu pai voltar a ser como antes. Bora, Duarte! Tu consegues!
Dei-lhe a mão e fomos em direção ao quarto 428. Juntamente com o médico, que continuava a dar-nos recomendações sobretudo o que poderia acontecer, depois daquele acidente. Bate-mos à porta. O médico entrou e disse-nos para aguardarmos à porta da sala até ao seu sinal. Duarte apertava-me a mão cada vez com mais força. Entrelaçou a mão esquerda na mão direira da mãe. Fizemos um cordão. Os três. Unidos.
Ouvi-mos uma porta a abrir. Era o médico que nos chamava...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dele...
JugendliteraturEsta sou eu. Estes são os meus problemas. Estes são os meus sonhos. Estes são as pessoas que mais gosto. Estes são os meus maiores medos. Estes são os meus inimigos. Estas são as minhas escolhas. Esta é a minha história.