cap. 26 - Nem uma palavra

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Liguei o carro e conduzi até casa. O que eu imaginara que iria ser uma conversa animada de volta para casa depois de uma noite fantástica, não passara de um momento de silêncio. Um longo momento de silêncio até casa. A culpa espelhava-se no rosto de Duarte. Também o desconforto e talvez até um acontecimento muito forte que o afetara bastante. Algo que o ligava a Alice. Algo que eu desconhecia. Tentei por algumas vezes meter conversa com ele, mas a sua resposta não passou de uns simples acenos de cabeça. Estava mesmo preocupado com algo. Só eu não sabia o quê.

Liguei o rádio. Naquela estação passava Sam Smith na altura. "Stay with me". E como eu a adorava. Mas aquela rapariga não me saía da cabeça... Havia algo que não me deixava confiar nela, e, depois do sucedido, ainda tinha piorado significativamente. Ela. Duarte. Algo os ligava. Algo que a deixava extremamente feliz. Algo que o deixava completamente diferente. E tão preocupado. E, todo este silêncio, deixava-me ainda mais nervosa. Porquê é que nunca me contara nada acerca dela? Porque é que não o fazia agora? Tudo isto estragou a nossa noite, que, até antes do fogo de artíficio estava a ser tão especialmente divertida.

Parei em frente à sua casa. Ele olhou para mim cabisbaixo. Nem me conseguiu olhar bem nos olhos. Abriu a porta.

-Adeus Maria. Depois falamos. - disse baixinho enquanto saía do carro, o mais rápido que conseguia. Puxei-o pelo braço.

-Esqueceste-te da mala oh macaquinho!

-Ah obrigada. - disse friamente.

-E o meu beijinho? Hum? - Toda aquela mudança de atitude depois de estar com Alice era tão esquisita e deixava-me tão triste. Ele fingiu não me ouvir e correu até à porta do seu prédio o mais rápido que pode.

Todo aquele momento pareceu passar tão devagar. Ele tão diferente. Tão mudado. Tão frio. Nunca o tinha visto assim.

Tentei desvalorizar. Estacionei o meu Smart. Peguei na minha mala e rumei até casa.

Não passava das 23 horas quando cheguei a casa. Comprimentei a mãe e a Joana quando cheguei. Estavam as duas no sofá a ver "Tomorrow People" no AXN. Depois dirigi-me para o meu quarto.

Entrei. Olhei-me no espelho. Aquele colar parecia cintilar no meu pescoço do seu tão grande significado para mim. Uma lágrima escorreu-me pelo olho direito. Não a consegui controlar. "Tenho de ser forte. Não é uma rapariguinha que vai estragar a minha felicidade." Tentei convencer-me disto vezes sem conta. Mandei a mala para cima da cama. Mas, graças à minha excelente pontaria, ela acabou por cair ao chão. Obriguei-me a caminhar até ela. Apanhei as coisas do chão, uma a uma, o mais rápido que consegui. Só depois de pegar na minha carteira e de a colocar de novo na mala é que descobri um bilhete. Estava escrito num papel amarelo chocante. Com uma caligrafia desconhecida para mim. "Ele é meu e sempre vai ser!" OKEY...WHAT? O QUE É ISTO? ALGÉM ME EXPLIQUE SFF? Virei o papel, na esperança de aquilo ser alguma brincadeira do Duarte ou da Joana. Mas deparei-me com algo completamente inesperado. "Tu sabes bem quem sou." e no final do bilhete via-se um grande "-A" como assinatura.

Fiquei a pensar um pouco naquilo. Só poderia ser mais uma brincadeira parva. E eu a dar importância àquilo...

Mas depois reparei. "-A" de Alice. Será que teria sido mesmo ela?

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