Going Down

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FLASHBACK - TRÊS SEMANAS ATRÁS.

A porta do quarto se abriu violentamente durante a caminhada nervosa e impaciente de Jill, que só queria estar em seu cantinho. Adentrando o cômodo com pressa fazendo de tudo para que seus pais não a vissem, ou que pelo menos não vissem a sacola que carregava pressionada contra o peito, meteu o pé na porta fechando a mesma assim que adentrou e sem mais delongas, arremessou-a em cima da cama, de longe. Pressionou as costas contra a porta, se aliviando de finalmente estar em casa, fechando os olhos ao dar uma expressão de "Até que enfim". Seu olhar percorreu o cômodo, questionando-se. Hesitou por um momento, em dúvida de suas próximas ações. Até que desistiu do pouco bom senso que lhe restou, ao seguir em direção à sua compra, agora jogada em cima do edredom. Soltou um suspiro, no que um semblante determinado se instalou ao que remexeu a sacola afastando as alças. A mão mergulhou dentro dela, remexendo-a e ao ser retirada, trouxe consigo um tecido grosso e preto como a noite. Levantou o braço segurando aquilo na ponta dos dedos frente ao rosto, pondo-se a analisar o comprimento. Era grande, enorme, tinha até um pouco mais que seu tamanho. Mas não era um vestido e nem um cobertor, muito menos uma echarpe gigante. Pressionou o tecido contra o peito deixando-o se desdobrar até seus pés. E dando uns dois passos para trás, comparou o seu tamanho com o dele, tentando se imaginar vestindo aquilo. Deu meia volta ficando de frente ao espelho, pegando a ponta da manga também longa, colocando-a sobre seu ombro. É, o tamanho não era perfeito. Era grande demais, passava de seus pés e talvez até um pouco mais. Poderia tropeçar se andasse vestida naquilo ou se andasse muito rápido, ainda mais se corresse. Ainda que o tecido fabricado de modo especial como um tipo de lycra para que se pudesse esticar as pernas dentro dele sem que alguém tropeçasse, não seria bom o bastante para Jill. Precisava de alguém um pouco maior, que o vestisse com perfeição. Deslizou seus dedos sentindo o tecido, notando que haviam pequenos pontos brilhantes por toda parte, como se ele fosse coberto por um tipo de glitter ou algo assim. Mas não eram muito visíveis, você teria que ficar bem perto para notar. Esses pontos pequenos e brilhosos do tamanho de grãos de areias serviam para a escuridão. Mesmo numa noite escura, seria possível ver a silhueta daquela capa preta espessa. Era pra isso que era feito. A figura assombraria até mesmo os que estivessem perdidos no breu total. Com as duas mãos, segurando em cada uma das pontas das mangas, esticou os braços deixando a figura negra de braços abertos. Com um sorriso diabólico, girou de um lado para o outro feito uma princesa de conto de fadas que está provando um belo vestido pela primeira vez em sua vida medíocre. Seu olhar desta vez era de contentamento e o sorriso ainda que brilhante, não era de felicidade.

Lançou o tecido preto no ar vendo-o se ondular, pousando na cama como uma leve folha de papel. Os detalhes embaixo dos braços, que eram grandes filetes de tecido preto se agitaram. Observando aquela capa preta pousar na cama, percebeu que realmente parecia uma assombração que flutuara por alguns segundos. Todo o tecido era projetado especialmente para isso, para que dançasse ao vento tornando os movimentos do corpo mais abertos e cartunistas. Um verdadeiro fantasma em forma de vestes. Não havia uma cor preta mais negra que aquela. Ou pelo menos, Jill ainda não conhecera um preto tão escuro como aquele. Agora, há uns três passos de distância da cama, os pequenos pontos brilhantes estavam invisíveis. Era difícil de explicar como aquele preto era tão chamativo. Era como olhar para um universo sem estrelas, um breu, um vazio. E ainda sim aquilo se destacava como um neon.

Acima dos ombros da coisa, havia um capuz. Grande e bem aberto, muito maior que uma cabeça por sinal. Caberiam umas duas ou três ali. Por que tinha de ser um capuz tão grande? Ela estava ainda encantada com o design tão perfeito da fantasia. Inclinou o rosto fitando a sacola e o que mais ela escondia. Logo, seu braço já estava chegando ao fundo puxando de lá a única peça que faltava: Uma máscara. A segurou de frente ao rosto como se encarasse uma luz no fim do túnel. Segurando-a, ergueu o pulso deixando que a figura do fantasma olhasse direto para si. Acima do que seria a testa da máscara, percebeu que havia uma área áspera, era o velcro. Olhando de novo para o capuz, ficou claro. Por dentro do capuz, em suas beiras, ele continha uma superfície também áspera. Havia de fato um velcro feito para assegurar o firmamento da máscara, na "touca". Ou seja, ao colocar o capuz por cima, o velcro trataria de unir o capuz com a parte superior da máscara, não deixando que o capuz saísse da cabeça do indivíduo ao correr ou pular, e deixando a máscara ainda mais difícil de ser arrancada do rosto de quem a veste. O disfarce era perfeito em todos os sentidos.

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