(Dica: Leia ouvindo: Losing Your Memory – Ryan Star. c:)
You're losing your memory, now
Where have you gone,
The beach is so cold in winter here
P.O.V – Snowglobe White.
O bebê foi concebido em solo terreno. Nascera cheio de vida, com os cabelos ondulados como os meus e com a coloração loura-acinzentada dos cabelos do pai. Seus olhos são acinzentados, assim como os meus. É uma menina:
– Ela é a sua cara. – Duan sorri, comentando. Ela dorme em meus braços, serena. – E que nome daremos a ela? – Pergunta, deslizando seus dedos pelos meus longos cabelos azuis.
– Maia. – Digo, olhando para os olhos acinzentados da criança. – Ainda que ela viva em terra firme, sua origem e seu legado jamais serão esquecidos. – Sorrio, e logo a criança me acompanha, soltando uma risada gostosa.
– E o que significa esse nome? – Pergunta Duan, direcionando seus olhos azuis a mim.
– Água. – Digo, virando-me para meu marido. – Maia é, e sempre será filha das águas. – Sorrio, orgulhosa, colando minha testa na da criança. – E a futura herdeira do meu trono. A princesa. – Sorrio.
– Então está decidido. – Duan sorri, sem me contrariar. Lhe olho, com olhos pidões. Talvez esse não fosse um nome usual para ele. – Eu queria que fosse Juliana, mas quem sabe a próxima. – Dá de ombros, como se tivesse perdido alguma partida de um jogo qualquer.
– Maia. Maia White Jones. – Sorrio, nomeando a pequena criança.
Maia cresce e se desenvolve em solo terreno. Em seu primeiro ano de vida e alguns meses, dá seus primeiros passos e logo apaixona-se pelo mar. E, como eu, tem a transformação de sereia e as mãos geladas. Divertia-se com as esculturas geladas e eu também lhe ajudava com os primeiros passos. Afinal, eu já estive na pele dela. Eu sei como é não ter controle sobre si mesmo. Porém, toda noite o mesmo pensamento me atordoava: viverá Maia comigo ou com o pai, em solo terreno? Em uma das noites, Duan me vê olhando atordoada para o berço em que Maia dorme. Eu sei que ele está me observando. Fecho os olhos ao ouvir seus passos. O homem massageia meus ombros:
– Você está tensa. – Ele sussurra em meu ouvido, fazendo um arrepio percorrer minha espinha. – Não tem dormido? Alguma coisa te incomoda? – Pergunta, preocupado, acarinhando meus cabelos.
– Sim. – Viro-me, apoiando minhas mãos em seu peito. – O futuro dela me incomoda. Eu não sei se é a decisão certa deixa-la viver totalmente comigo, e se ela for mala como eu fui? E quiser vir à superfície para ver alguém? Como eu o fazia! – Me desespero, atropelando as palavras. Logo sinto o nó de um choro entalado há dias se formar em minha garganta.
– Shhh... – Duan afaga meus cabelos. Encosto minha cabeça em seu peito e as batidas de seu coração me acalmam. – Vamos decidir isso amanhã. – Diz, me conduzindo ao quarto.
Mal prego os olhos. Acordo com o feixe da luz do sol incidindo sob uma pequena fresta da janela, que ilumina parcialmente o quarto. Então, sem enrolar, Duan e eu conversamos a respeito do futuro de Maia:
– Eu não quero que ela passe pelo o que eu passei. – Digo, preocupada. Observo as ondas do mar quebrarem através da janela da cozinha. – Eu quero que ela viva uma vida normal. – Pontuo, brandamente.
– Você não pode esconder o que ela é. – Duan me repreende.
– No momento certo, ela saberá. – Digo, evitando o olhar gelado e reprovador de Duan. Aqueles olhos azuis que faziam meus joelhos bambearem. – Deixe-a viver com você até o momento certo. – Peço. – Eu não quero que ela passe pelo perrengue que eu passei. – Suspiro, repetindo.
– Snowglobe! – Grita Duan, exasperado. – Não é da sua índole fugir! Como você pode saber o que é melhor para ela?! – Indaga.
– É a minha opinião! – Levanto a voz juntamente a Duan. – E como você o sabe?! – Indago e Duan não diz mais nada.
– Tudo bem, Snowglobe. – Diz Duan, cansado. Coloca os dedos sob as têmporas. – Ela vive comigo, no mundo terreno. Talvez seja melhor para ela.
– É um ato de amor. – Me defendo, firme, e Duan apenas assente. – Vamos visitar Nefertati para "reservar" – faço aspas no ar com meus dedos. – Os dotes dela.
– Até a transformação?! – Indaga Duan, exasperado. – Snowglobe, você...! – Procura palavras, eu posso ver o desespero através de seus olhos.
– Sim. Vamos omitir a identidade dela até então. – Digo, firme. Entretanto, meu coração estava apertado.
Rumamos à terra das ninfas e logo Nefertati me reconhece, abrindo seus braços para me abraçar. Logo atiro-me em seu abraço, sentindo a entidade afagar meus cabelos:
– Olha só... – Diz Nefertati, apontando para Maia, no colo de Duan. Os olhos da pequena, confusos, não desviavam da entidade. – É sua filha? – Nefertati vira seus olhos para mim e eu apenas assinto, orgulhosa.
– Mas... nós temos um pequeno problema. – Duan coça a cabeça, passando Maia para meus braços. Nefertati arqueia uma sobrancelha, confusa. – A Maia nasceu com poderes que nem a Snowglobe. E ela quer tirar isso dela. – Posso jurar que vi os olhos de Nefertati saltarem de suas órbitas.
– Você nunca entenderia. Você é humano. – Fuzilo Duan com meus olhos, reprovando seu tom de deboche. – Eu não quero que ela passe pelo mesmo sufoco que eu. – Confesso, e Nefertati logo faz com que Maia adormeça para que a criança não veja a discussão torpe entre mim e seu pai.
– Você vai se arrepender. – Nefertati condena minha decisão. – Eu entendo o seu lado, mas você não tem direito de intervir nas escolhas de uma pessoa que nem escolher pode.
– É irreversível? – Pergunto, apreensiva.
– É. – Confessa Nefertati. – É isso mesmo? – Apanha a criança em seus braços, olhando-a com pena. Antes de assentir, olho para Duan, que assente comigo.
Logo uma aura azul ascende ao céu, dividindo-se em duas. Uma parte vai para um peridoto, enquanto a outra é destinada a uma conchinha. Ambos são amarrados em cordões diferentes:
– A concha é a transformação de sereia, enquanto o peridoto, pedra do destino, armazena seus dotes sobrenaturais. – Diz Nefertati. – A escolha da pedra é proposital. – Diz ela, logo sumindo dentre as plantas. Acho que ela está decepcionada.
– Espero que a ausência de uma despedida não signifique o começo de uma inimizade. – Diz Duan, apanhando Maia em seu colo.
Apanho os cordões, ameaçando me arrepender.
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Maia
FantasyCom personalidade forte como a mãe, Maia é fruto de um milagre: de um relacionamento entre um humano e uma sereia. Filha da rainha do oceano Atlântico, Snowglobe White, Maia vive uma vida postiça que lhe impede de enxergar seu verdadeiro legado. Ent...