13 - Teto branco - Benjamin.

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Não podia acreditar que estava fazendo aquilo. Eu realmente tinha tomado coragem.

— Por que você decidiu trancar o curso, meu bem? — Perguntava Túlia, a senhora da cantina da faculdade e basicamente minha única amiga naquele lugar.

— Não, Túlia. Você não está e entendendo. Eu desisti de vez. — Disse eu, mostrando os documentos que havia recuperado de volta da instituição.

Túlia me olhou nos olhos, aflita, com o seu curto cabelo vermelho, balançando com o vento daquela noite fria. Ela ignorou a fila de pessoas que estavam esperando para serem atendidas, puxou uma cadeira ao lado da que eu estava sentado e sentou-se. Túlia não disse nada, apenas sentou e me encarou, apoiando o queixo na mão direita.

— Não vejo bem como desistir... — Prossegui — ... É mais um auto-conhecimento. Eu percebi que estava investindo em algo que eu não amava.

Eu aproximei meu rosto do dela.

— A minha família tem boas condições, do contrário, eu não estaria em São Paulo. Eu posso ter uma boa vida se eu quiser, mas não quero viver dependendo dos meus pais. Já recebi uma proposta de emprego. Vou poder trabalhar num escritório, ganhando um dinheiro considerável e ainda vou ter tempo para escrever meus roteiros e estudar cinema.

Túlia pôs a sua mão esquerda sobre a minha mão encostada na mesa. Ela pigarreou antes de começar um discurso.

— Olha, meu filho... — Começou ela. — Você é um homem. Mas não é homem qualquer. Você é diferente de muitos homens. Olhe bem para essa velha aqui! Você acha que esses filhos de papai que estudam aqui querem saber do meu dia? Você acha que eles me dão bom dia? Não dou a mínima se eles são futuros advogados, promotores ou sejam lá o que forem ser. Eles não tem educação e nem simplicidade. Não quero generalizar, claro, mas você entendeu!

Olhei bem no fundo dos olhos daquela senhora. Não havia dúvidas de que ela estava sendo verdadeira no que falava.

— Você é um homem educado e se importa com o próximo. Não merecia aquela maldita Clara na sua vida, que só fez partir o seu peito. — Ela falava me olhando intensamente. — Eu fico muito feliz por estar seguindo o seu coração, meu filho. A vida é curta e não podemos perder tempo com coisas que não depositamos amor. Faça o que te faz feliz.

Túlia continuou jogando conversa fora comigo por mais alguns minutos. Pediu para garota que a ajudava a fazer os lanches para se virar sozinha enquanto ela me ouvia. Antes de ir embora, dei um abraço apertado naquela senhora e, sem ao menos olhar para trás, dei as costas para aquele lugar. Direito é uma área honrosa, mas de fato, não era para mim.

                                                                                                   ...

Deitado na minha cama, eu encarava o teto branco. Dali para frente seriam novos caminhos. Eu não iria mais perder tempo. No dia seguinte eu teria um encontro com a garota da cafeteria, que naquela altura, já não era mais uma estranha. Ansioso, me virei para o lado, desliguei a luz do criado mudo e fechei os olhos. Amanhã seria um ótimo dia.  

  

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