Cretino.
Como alguém pode ser tão egoísta e ambicioso? — Pensei.
Clara continuava a falar, mas os meus ouvidos estavam longe. Tudo o que o meu cérebro fazia era gerar imagens de um homem espancando Clara, ela caída no chão e sendo chutada. Seus cabelos sendo puxados e sua pele sendo rasgada. O ódio tomava conta do meu corpo e eu já não conseguia esconder. Tentava manter-me o mais calmo possível, mas o meu corpo claramente tremia.
— ... Eu fui irresponsável, admito. Mas eu... queria ter o meu filho, queria cuidar dele. Eu queria alimentá-lo, dar banho e levá-lo para a escola. Eu queria vê-lo crescer... — Continuou Clara. Por mais forte e ranzinza que ela tentasse parecer, ela não conseguiu se segurar e se debulhou em lágrimas. Jéssica mostrava apoio segurando a sua mão. — ... Ele não tinha esse direito!
Todos nós ficamos sem palavras. As lágrimas desciam discretamente pelo meu rosto, mas eu as retirava na hora. Ficamos em silêncio por um tempo, todos comovidos com a situação, até Lana rompê-lo.
— E o que pretende fazer? — Perguntou ela. — Antes de você aparecer, estávamos indo à delegacia registrá-la como desaparecida. Agora que você apareceu, podemos denunciar o que ele fez com você!
— Não! — Afirmou Clara, firme e convicta.
Que?
— Como assim 'não' ? — Reagi, ficando de pé, afrontoso. — Clara, esse cara te agrediu e te provocou um aborto!
Clara ficou de pé em minha frente e me confrontou.
— Sei muito bem o que ele fez! — Disse ela, levantando a voz. — Mas não acho que a justiça dê jeito nisso. Vocês nunca viram? Casos e casos assim em que o agressor saiu impune ou pagou uma mísera fiança e foi solto?
— Mesmo assim, Clara! Você precisa fazer algo! — Disse Jéssica, agora também de pé. — Você vai preferir deixá-lo como está? Mesmo que ele fosse solto, a família dele, seus amigos e conhecidos saberiam do que ele fez com você! Não pode simplesmente não fazer nada!
Clara mudou seu semblante. Sua feição triste e acurralada agora era impiedosa e cruel.
— E quem disse... que eu não vou fazer nada? — Respondeu ela. — Podem deixar comigo! Não metam a polícia nisso. Logo eu estarei recuperada e... eu garanto a vocês que Escobar vai ter o que merece!
...
— Claro que ela não está bem! — Cochichava Lana. Clara estava se aprontando para ir embora e Jéssica a ajudava. Eu e Lana estávamos na cozinha, comentando. — Ela ainda está um pouco abalada, mas depois ela vai querer ir à polícia. Mas mesmo assim, acho que devemos denunciá-lo!
— Não sei. Ela pareceu ser bem sincera quando falou que não quer a polícia! Tenho medo que... ela queira fazer algo, tipo... — Eu disse, cochichando para ter certeza que Clara não me ouviria. Porém, logo ela apareceu, me interrompendo.
— Bom, eu vou indo para casa da minha avó. — Disse Clara. — Ela deve estar preocupada e eu tenho que aparecer o mais rápido possível para não dar problema.
— Como você vai explicar para as pessoas os seus machucados? O olho roxo? — Perguntou Lana.
— É... bem... Existem mulheres muito invejosas! Tem uma tal de Nanda que nunca foi muito com a minha cara. Estávamos numa festa, fiquei de gracinha com o namorado dela e ela não gostou. Eu apanhei dela, mas também bati! — Respondeu Clara, com um sorrisinho descarado.
— Meu deus, você é surreal! — Exclamei, incrédulo, revirando os olhos. Esse cinismo de Clara me deixava revoltado, era incrível como ela sabia ser falsa e dissimulada quando queria.
...
Jéssica prometeu levar Clara até em casa e Clara desceu o elevador com lana. As duas estavam esperando lá embaixo, pois Jéssica pediu para ficarmos a sós no meu apartamento.
— Bom... valeu, pela ajuda! — Disse ela, sem graça. Seus cabelos loiros estavam enrolados num coque, mas alguns fios pendiam em sua testa.
— Eu estava preocupado com Clara e, para ser mais direto, com o bebê. Ele poderia ser meu filho e... não queria que nada acontecesse com ele!
— Eu sei... e te entendo! — Respondeu ela, achegando-se de mim. — Mas... eu queria me desculpar.
— Por?
— Por você e Clara. Por aquele dia. — Disse ela. Só em ela dizer 'você e Clara' e 'aquele dia' meu estômago revirou. — Clara não queria participar... mas, eu a convenci. Implorei, praticamente. Achei que seria bom para ela e que depois ela poderia te convencer também e...
Coloquei minhas mãos nos ombros de Jéssica, para ser o mais claro e objetivo possível.
— Olha só, você curtir orgia não me diz respeito. Clara curtir orgia também não me diz respeito. Vocês são mulheres adultas e têm o direito de fazerem o que bem entenderem! — Eu disse, encarando-a nos olhos. — O problema, Jéssica, é que vocês acharam que eu era bobo! Clara não foi franca comigo e, quem sabe se ela tivesse me dito antes que queria um relacionamento aberto, eu não teria desejado algo sério com ela, não teria me decepcionado e até poderia ter topado um relacionamento aberto ou sei lá, algo do tipo. Clara poderia ter recusado, mas não quis! A culpa não foi totalmente sua, mas Clara não foi e nem é uma pessoa honesta com os outros a sua volta!
Uau!
Jéssica não me disse nada. Ela só assentiu com a cabeça, sem graça.
— Bom... tudo bem. Estou descendo!
— Certo, vou só fechar tudo aqui e desço também!
Ela saiu e fechou a porta. Eu tranquei as janelas do meu apartamento que estavam abertas e depois saí e tranquei a porta. Depois disso tudo, eu e lana precisávamos sair um pouco.
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A Graça das Flores
RomansaAtenção::: História registrada! - Plágio é crime. - Há quem diga que o destino une as pessoas, que elas já estão destinadas a se encontrar. Há quem diga que a vida é feita de coincidências. No fim, se foi coincidência ou destino, não importa, pois e...