A cafeteria não tinha tido tanta movimentação naquele dia, apesar de ser uma segunda-feira. Márjore já havia partido, eu e Silvio ainda arrumávamos a cafeteria. Tia Rosa, como sempre, seria a última a ir embora. Aproveitando que a cafeteria já havia fechado, passei na sala de Rosa.
— Rosa, tô entrando! — Eu disse, abrindo a porta e me sentando na cadeira frente ao seu balcão. — Bem, já fechamos tudo! Eu já estou de saída, só esperando meu namorado chegar.
— Que ótimo! Eu ainda vou ficar um pouco, tenho muita coisa para organizar ainda! A cafeteria está expandindo e, quando eu me ausentar, quero garantir que ela ficará em boas mãos. — Disse ela, um pouco fria. As vezes sou ingênua, mas obviamente eu entendi a indireta. — Até amanhã!
— Na verdade, eu vim perguntar sobre aquilo que conversamos... — Comecei. — Ao menos considerou promover a Márjore?
— Bem, eu...
— Tenho certeza que ela seria muito mais eficiente nisso do que eu e... — Interrompi.
— Eu considerei sim, Lana... Mas ainda não sei se a promovo ou se entrevisto candidatos e candidatas ao cargo.
— Você a vê trabalhar aqui e sabe que ela é tão boa quanto eu!
— Mas não sei se é boa em gerenciar um negócio!
— Então... dê uma chance pra ela, assim como fez comigo! — Insisti. — Deixe ela mostrar o potencial dela, garanto que não vai se arrepender. Mas, se não se interessar, aí você começa a entrevistar outras pessoas.
Rosa ficou pensativa. Olhava para mim e depois pro chão milhares de vezes. Por fim, soltou um demorado suspiro.
— É, pode ser! — Respondeu ela.
O que não fazemos por uma amiga, não é verdade?
...
Assim que saí da sala dela, encarei Silvio com uma cara de alívio. Ele olhou pra mim e apontou para a porta da Cafeteria.
— Seu namorado está lá fora! — Disse Silvio, apontando para Benjamin acenando para mim pelo vidro da porta.
— Ah, até que fim! Eu já vou indo, até amanhã, Silvio!
Saí da cafeteria e vi Benjamin com sua roupa de academia, como sempre, ensopada.
— Hoje você deve ter sofrido! — Brinquei.
— Ha, você não faz ideia! — Respondeu ele, segurando a minha bolsa. — Troquei de treinador hoje e ele literalmente tirou meu couro.
Naquele horário da noite, a rua estava deserta como sempre. De mãos dadas, eu e Benjamin fomos caminhando para a casa dele.
...
— Sim, você nem me contou como foi o seu primeiro dia no trabalho! — Lembrei, deitada no sofá.
— Foi legal! — Disse ele. Benjamin apagou as luzes da cozinha e a casa ficou escura, apenas com a luz da TV me iluminando. Ele veio andando da cozinha até mim, trazendo dois baldes de pipoca doce. — O pessoal que trabalha lá é bem prestativo, todos fizeram questão de garantir que eu estava bem.
— Uau... hm... Emprego dos sonhos ein? — Eu disse, dando espaço para ele sentar no sofá e mastigando a pipoca.
— Na verdade, não! Mas por enquanto... assim como você decidiu esperar estar pronta pra fazer o que quer de verdade, também acho que preciso esperar um pouco, sabe? Depois que larguei a faculdade de Direito... achei que ainda precisaria de um tempo pra me conhecer melhor! Esse emprego pode ajudar nisso.
Benjamin narrou essas palavras, cortantes e profundas como sempre, olhando penetrantemente nos meus olhos. Não sei porque, mas larguei a pipoca no chão e me joguei no colo dele. Eu o beijei tão loucamente, que o sofá ficou pequeno pra nós dois. A pipoca de Benjamin também caiu no chão.
— Espera aí, e o filme? — Interrompeu ele.
Nós passamos um tempão esperando a sessão do filme começar e na hora que começou, a gente resolve se pegar.
— Dane-se o filme! — Eu disse, no ouvido dele.
Benjamin sorriu.
— Dane-se o filme! — Repetiu ele.
Eu sorri.
Fomos para o quarto.
Tínhamos trabalho a fazer.
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A Graça das Flores
Roman d'amourAtenção::: História registrada! - Plágio é crime. - Há quem diga que o destino une as pessoas, que elas já estão destinadas a se encontrar. Há quem diga que a vida é feita de coincidências. No fim, se foi coincidência ou destino, não importa, pois e...