41 - "Eu o amo!" - Lana.

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Era um dia chuvoso em Olinda. Nunca entendi a coincidência de sempre chover durante um enterro, sempre achei que era só nos filmes. O céu estava fechado e triste. Não parecia querer se abrir pra ninguém. O sol parecia estar triste também, afinal, não queria aparecer. A grama do cemitério De La Rosin estava verde vivo e encharcado com lama. Todos em volta do caixão preto de Dona Pillar. Minha mãe, que já não podia ver o sol ou sentir o cheiro bom de quando chovia, estava dentro de uma caixa de madeira que descia lentamente pela cova. Em volta, estavam todos os amigos, familiares e conhecidos. E, de fato, eram muitos. Todos de um preto lutador e relutante, de cabeça baixa, fazendo a mesma oração. De relance, eu encarava todos. Alguns eu conhecia e tinha certeza que fizeram mal a minha mãe, mas estavam ali para pagar de boas pessoas. Algumas pessoas são tão ruins, que só aparecem no seu enterro! — Disse minha mãe, a vida toda.

Me esforcei pra cumprimentar todos que podia. Todo mundo me dizia que minha mãe estava nova demais pra morrer e eu apenas balançava a cabeça, confirmando. Não sabia ao certo explicar, mas as doenças são assim. A vida é assim. Logo que soube da morte da minha mãe, trouxemos ela pra Olinda, onde ela nasceu e cresceu. O lugar onde nossa família morava e onde ela amava. É muito triste pensar que, a última lembrança da minha mãe, será ela sendo coberta de areia.


Nunca senti tanta falta de Benjamin como estou sentindo agora. No carro da minha tia, junto com o marido e filhos dela, eu me sentia isolada. Todos éramos família, mas eu realmente estava sozinha. Minha mãe foi enterrada ao lado do meu pai e eu sobrei aqui. A vontade de acompanhá-los era grande, mas eu sabia que ainda tinha uma enorme vida pela frente. Ainda não havia ligado pra Benjamin para contar da morte da minha mãe, não conseguia dizer a ele o quanto me sentia sozinha e o quanto o queria aqui, comigo. Ele já devia estar com a vida concretizada lá. Já faz quase um mês! — Pensei. 

Minha tia estacionou o carro na garagem do casarão dela e todos descemos. Fiquei atordoada por muito tempo, somente olhando pras pessoas e chorando. Porém, no dia do enterro, as lágrimas secaram e a única expressão que eu tinha no rosto era de descrença. Os filhos da minha tia Mônica correram pra dentro da casa e ela e seu marido me abraçaram. 

— Querido, pode nos deixar a sós? — Perguntou ela ao marido.

Ele assentiu e se retirou, também entrando no casarão. Tia Mônica cruzou seu braço com o meu, como se fôssemos nos casar e me arrastou para dar uma volta na vizinhança. Andando pelas ruas, avistando os grandes casarões vizinhos, minha tia me consolava.

— Como você está?

— Levando, eu acho. — Respondi, enquanto caminhávamos. — Mas... me sinto vazia!

— Oh, querida! — Reagiu Mônica. — Eu também me sinto incompleta! Sabe, a Pillar era a irmã que eu mais gostava! 

Eu sorri.

— Ela falava bastante de você! — Eu disse, sorrindo pra ela. — Disse que você saiu de casa mais cedo que ela, não foi?

— Aham! — Respondeu ela. Mônica não era nova, mas tinha uma boa aparência assim como minha mãe. De fato, deve ser genético. — Sempre tive esse... espírito de ser livre, ir atrás dos meus sonhos e amores! Olinda era muito pequeno pra mim, mas depois de viver tudo que eu tinha que viver, voltei pra cá. No fim, sempre voltamos às nossas origens, querida!

— Agora que... estou sozinha... — Comecei, parando nós duas de caminhar e ficando de frente pra ela. Rápida, minha tia me interrompeu.

— Oh, você não está sozinha! — Exclamou ela.

— É, eu sei. É que... — As minhas lágrimas tentaram escorrer de novo, mas eu as contive. — ... Eles morreram e... eu fiquei, aqui!

— O que é ótimo! Ou você queria ir tão jovem?

A Graça das FloresOnde histórias criam vida. Descubra agora