20 - Velhos tempos - Lana.

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Eu refleti bastante sobre a possiblidade de Benjamin ter um filho. A insanidade humana é surreal, pois somos seres que se preocupam exageradamente com o futuro. Não somos como os cachorros ou os gatos, que não estão nem aí com os problemas deles, não choram, não anseiam e nem se apavoram. Somente vivem.    

— Hoje foi um dia e tanto, não é? — Dizia Márjore, passando pano no chão da cafeteria. 

Naquela hora, nós já havíamos fechado a cafeteria. Há alguns minutos atrás, Ben havia vindo aqui me contar do seu emprego novo.

— Não é? Foram tantos pedidos que perdi a conta! — Respondi, lavando as xícaras e colocando-as no escorredor de prato.

Clea, que saía da sala da tia Rosa com alguns papéis nas mãos, veio andando na nossa direção.

— Não é disso que ela está falando, Lana! — Disse Clea, olhando nos meus olhos, com um sorrisinho escapando do rosto. — Tá namorando, né? Eu nem conheci o gato!

Fiquei sem graça.

— Ela tá sim, menina! O nome dele é Benjamin, um charmosão! — Disse Márjore.

  — Até que enfim, ein? — Berrou Silvio, do caixa.

Eu estava corando. Se falassem mais alguma coisa, era capaz de alguém me guardar na geladeira, me confundindo com um tomate, de tão vermelha.

— É, estou sim Clea! A gente já se conhecia há um tempinho. Inclusive, conheci ele aqui, lembra?

— Oh, sim! É aquele cara das flores, não é?

— Esse mesmo! — Eu respondi. Aposto que elas podiam ver o brilho nos meus olhos quando eu falava de Ben. — Clea, o que são esses papéis?

— Aqui? Ah, são os papéis de contrato e pagamento.

— Espera, você se demitiu? — Perguntou Márjore.

— Bom, eu estava sem tempo pra investir nos estudos. Estudar está sendo prioridade para mim. — Respondeu ela. Clea tinha uma determinação que não era visível em nenhuma outra garota.

— Como assim? E você nem nos avisou? — Perguntei.

— Eu imaginei que fossem implorar pra eu ficar e a decisão de me demitir seria mais difícil do que já foi!

— Tem razão! — Gritou Silvio, que não saía daquele caixa, sempre fazendo contas e organizando o dinheiro.

— Bom, você já vai? Fique um pouco! Que tal nós quatro tomarmos um cafézinho antes de ir embora?

E assim fizemos. Eu, Márjore, Clea e Silvio sentamos todos juntos e conversamos um tempão, como nos velhos tempos. Clea se despediu de nós e prometeu que iria ao café da Tia Rosa sempre que pudesse.

 Clea se despediu de nós e prometeu que iria ao café da Tia Rosa sempre que pudesse

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